quinta-feira, 2 de julho de 2015

Notícias : um produto à venda















(Rodrigo Stankevicz)

Nas primeiras décadas do Século XIX, as notícias passariam por transformações, semelhantes ao que a sociedade de então estava vivenciando. Com a expansão de novas tecnologias e a crescente industrialização dos grandes centros urbanos, a procura por notícias além-mar, tornou-se uma realidade concreta. As notícias que demoravam até 3 meses para chegar através das embarcações, ganharam nova tônica com a o telégrafo. Assim, as informações eram transmitidas de longas distâncias com confiabilidade e precisão. A partir destas transformações as notícias também foram afetadas e deixaram de ser opinativas baseadas na literatura e passaram a ser objetivas, factuais e baseadas nos fatos.

Neste contexto histórico de transformações urbanas e das comunicações, o visionário Charles Havas, em 1832, na França, cria a primeira agência noticiosa privada. Havas traduzia as notícias estrangeiras e vendia-as aos jornais franceses. Nascia um novo modo de pensar a notícia, esta se tornaria um produto valioso, já que o custo para conseguir uma notícia do exterior era alto. A padronização do texto jornalístico, baseado no lead e na "pirâmide invertida" abrangeu um número maior de pessoas e atendeu a precariedade do sistema telegráfico, já que falhas ocorriam, então as principais informações precisavam ser passadas em primeiro lugar. Mais tarde outras agências foram sendo criadas com a intenção de produzir matérias direto da fonte para redações espalhadas pelo mundo. Jornais uniam-se para pagar as despesas do transporte das notícias, tanto navios como telégrafos. A indústria jornalística via sua expansão cada vez maior, conglomerados jornalísticos nasciam, as guerras davam êxito às agências de notícias que cobriam as disputas por territórios e influência política.

Sendo assim, as empresas de notícias deparavam-se diante de elevadíssimas despesas em manter um correspondente próprio em outro país. O único recurso, para manter-se vivo num mercado cada vez mais competitivo, era aderir às agências noticiosas. Comprar textos brutos e lapidá-los nas redações tornou-se mais atraente financeiramente. Contudo, a dependência deste serviço aumentou, as redações foram ficando cada vez menores, os próprios conceitos éticos do jornalismo, como a imparcialidade, o contraditório, ouvir diversas fontes, etc, entraram em conflito com esta nova dinâmica. Desta maneira podemos questionar, até que ponto as notícias difundidas por essas empresas de notícias são baseada nos acontecimentos e até que ponto são narrativas ou versões interessadas ? E se realmente são bastante factuais, qual é o limite entre a "realidade" e os interesses políticos, ideológicos, econômicos envolvidos ? Esses limites estão em retração ou em ampliação na era da comunicação globalizada ? 

De certa forma, não é um exagero dizer que os grandes jornais de todo mundo ficaram um pouco reféns das agências de notícias. Hoje, cada vez menos as redações estão dispostas a investigar se realmente o que foi repassado pela agência condiz com minimamente com a realidade, ou se há versões alternativas relevantes, ou o quanto aquela notícia foi afetada pelo humor do correspondente, pela influência governamental ou pela ausência de uma verificação local. Atualmente, cada vez menos, os jornais e todos os demais meios de comunicação dependem de fontes de primeira mão, passando a depender de intermediários profissionais, as agências de notícias.

Nesse contexto, observamos o Mundo sob um prisma demasiadamente limitado. Lembre-se que apenas quatro grandes agências de notícias abastecem praticamente todos os principais jornais do Brasil. O que não deixa de ser um paradoxo, pois, na era da globalização da informação, com muito mais circulação de dados e informações, parecemos conhecer cada vez menos o Mundo. Somos informados sobre o que acontece no resto do planeta de acordo com um número reduzido de visões, emanadas por poucas agências noticiosas. São elas que terão maior autonomia para dizer o que é relevante e o que não é, quem são os bons e quem são os maus, segundo seus próprios critérios, preferências, visões de mundo, e cada vez com menos versões alternativas.

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