quinta-feira, 17 de abril de 2014

Os estudos das Relações Internacionais em Singapura

(Arthur Gonçalves Lima )
 
Singapura foi por muitos anos uma colônia britânica, sofrendo pelo fardo colonial imposto por nações dominadas por grandes metrópoles. Constituído basicamente de uma economia de serviços, o país após sua independência (1965) passou longos anos de crise, o que estimulou a adoção, liderada pelo primeiro ministro Lee, de um regime de rápida industrialização. Para que tal ocorresse o governo criou um ambiente de investimentos seguros, sem corrupção e de baixos impostos, objetivando atrair o investimento de empresas estrangeiras. Para isso, o governo também investiu na capacitação da população, contando, para isso, com a colaboração de escolas técnicas e instituições  internacionais de ensino.
     Apesar do seu pequeno tamanho, a pequena nação assumiu certa relevância internacional ao especializar-se no comércio exterior. Essa grande internacionalização da economia local refletiu numa grande demanda por profissionais capacitados em análises internacionais. Vem deste fato o principal incentivo aos estudos das Relações Internacionais em Singapura.

     Em 1996, foi estabelecido pelo primeiro-ministro Keng o “Instituto de Defesa e Estudos Estratégicos” (Institute of Defence and Strategic Studies, IDSS). Dez anos depois o instituto seria rebatizado como “Rajaratnam School of International Studies - RSIS”, vinculado à Nanyang Technological University, em homenagem ao visionário diplomata e estrategista politico, um instituto focado no estudo e pesquisa dos temas estratégicos internacionais, principalmente aqueles voltados para a área do Pacífico.

     Na RSIS são encontrados dois programas de mestrado que podem ser relacionados à área de Relações Internacionais, um chamado “International Relations” e outro “International Political Economy”.

     Em “International Relations” o foco dado ao curso é de entendimento às teorias e compreensão das constantes mudanças globais. Analisa-se mais a área militar e energética integradas às teorias de RI e questões politicas estatais e não estatais e suas determinadas integrações e repartições.
     Os estudos são integrados em dois núcleos principais, sendo eles: Os Estudos de RI e Análise de Politica Externa. Ainda são oferecidos cursos (disciplinas) sobre estudos regionais asiáticos, leis e segurança tradicional e não tradicional, economia, dentre outros.

     Na academia da RSIS tem-se como principal professor, autor e comentarista em várias mídias o professor de Estratégia e Guerra Bernard Loo. Tendo publicado livros sobre estudos estratégicos, dentre os quais destaca-se “Medium Powers and Accidental Wars: a study in conventional strategic stability”.

     Relacionado também aos estudos de RI na Singapura temos o segundo programa de mestrado da RSIS: “Intertional Political Economy”. Volta-se, como o nome mostra, às conjunturas político-econômicas do mundo globalizado. Analisando teorias e praticas de ambas as disciplinas, o programa de “International Political Economy” espera elucidar questões sobre as transações e relações entre países, regiões e agentes econômicos, apresentar conhecimento sobre áreas de influencia e entender a história do desenvolvimento político-econômico sob perspectiva global para que sejam estudas com maior entendimento a dinâmica atual.
     Ainda há um programa de PhD em Relações Internacionais da RSIS. Direcionado à pesquisa, tem-se desde Estudos Estratégicos, passando por Relações Internacionais propriamente ditas e Administração da Politica e Economia Internacional. O programa oferece um novo grau de especialidade em certos assuntos, focados principalmente nas questões regionais do sudeste asiático e do pacifico.

     Também encontra-se em Singapura a Lee Kuan Yew School of Public Policy (LKY School), ligada à National University of Singapore (NUS), criada em 2004. Não totalmente voltada para os estudos de RI, a LKY School é uma faculdade de Politica Publica, porém possui o Center on Asian and Globalization (CAG) que se digna a estudar as relações asiáticas dentro do sistema internacional. Dentre os principais tópicos de estudos do CAG estão, as relações de poder na Ásia-Pacifico, os acordos regionais, as questões relativas aos bens públicos (alimentos, energia, meio-ambiente, água e saúde) e novas abordagens para a construção dos mercados na Ásia.
     Centrado dentro do tópico sobre as relações de poder na Ásia, pesquisas no âmbito de garantir a paz e desenvolvimento das nações tem sido um dos objetivos da CAG. Citando os Estados Unidos como principalmente garantia da paz na região e assumindo as instabilidades geradas por “ameaças externas” e a economia chinesa. A CAG mantém relações com a Chatam House para a realização de mesas redondas sobre os interesses e ameaças na Ásia-Pacifico.

     Em relação aos bens públicos a CAG mantém pesquisas para assegurar comida, água, energia e saúde para todos os asiáticos. Convergindo vários países, dentre eles Japão, Malásia, China e Índia, conferências são realizadas para maior alocação de recursos não só entre os próprios, mas também contando com ajuda global.
     O projeto de abertura dos mercados asiáticos à economia globalizada e suas novas abordagens de construção tem sido mais intensamente estudadas, focando na inter-relação entre dinâmicas internas e conjuntura internacional, especialmente em relação à “insurgente” economia chinesa.

     Portanto, embora os Estudos de RI não tenham sido iniciados tão cedo como nos Estados Unidos e no Reino Unido, percebe-se que a abertura de mercado iniciada por Lee impulsionou a demanda por analistas internacionais, dando inicio aos estudos. A tendência é que haja cada vez mais profissionais e escolas especializadas no ensino de RI em Singapura, dado pelo grande enfoque que todo Leste Asiático tem recebido nos últimos anos e a expansão do mercado chinês.

O estudo das Relações Internacionais no Chile

(Júlia Andrade Caetano)

Os estudos das Relações internacionais no Chile encontram suas origens no final dos anos 50, com as análises da política externa chilena e da conjuntura internacional. O debate inspirado pela Teoria da Dependência contribuiu também para a popularização dos estudos internacionais no Chile, país sede da Cepal.

As origens da disciplina no Chile estão ligadas aos tradicionais departamentos de Ciência Política, onde se começou a oferecer disciplinas de Relações Internacionais para os cursos de graduação. Outras disciplinas afins também eram oferecidas, como Política Externa Chilena ou Organizações Internacionais.

O pioneirismo específico em relações Internacionais se deve à Pontificia Universidad Católica de Chile, a primeira a oferecer um curso específico de Relações Internacionais, coerente com a sua tradição internacionalista já presente no projeto do departamento de Ciências Políticas. Mais tarde, outras universidade chilenas também lançaram cursos de Relações Internacionais, como a Universidad de Arcis, Universidad Central e Universidad Diego Portales.
Em nível de pós-graduação existem duas opções, uma vinculada a estudos americanos e outra relacionada a estudos latino-americanos que se aproximam do campo das Relações Internacionais, nas quais ambas possuem um forte componente histórico e sociológico em sua formação. Já em nível de mestrado, destacam-se a Universidad Católica e a Universidad de Chile. A elas, se juntam hoje as Universidades Arturo Prat, Universidad Marítima, Universidad Tecnológica Metropolitana e a Universidad Andrés Bello.

O Instituto de Estudios Internacionales (IEI), da Universidad de Chile foi fundado em 19 de outubro de 1966. Seu primeiro diretor foi um notável historiador, acadêmico e pesquisador, Claudio Veliz, substituído pelo professor José Morandé. Como primeira instituição fundada em um país latino-americano para estudar especificamente as Relações Internacionais, o IEI pode ser considerado como referência obrigatória para a construção da disciplina no Chile, e também como importante referência internacional, oferecendo publicações importantes e também um curso de mestrado em Estudos Internacionais, com 30 anos de existência.
No que se refere às instituições de preparação de diplomatas, a iniciativa pioneira se materializou em março de 1954, com a criação da Academia de Estudios Diplomáticos, dedicada à formação especializada dos funcionários diplomáticos chilenos, vinculados ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.

O desenvolvimento da Academia, todavia, não teve o dinamismo desejado, o que levou as autoridades do Ministério a enfatizar a necessidade de uma maior especialização e de uma maior aproximação às tradicionais instituições universitárias do país, como a Universidad de Chile. Em outubro de 1963 a academia é rebatizada com o nome de “Andrés Bello”, em homenagem ao ilustre venezuelano-chileno, que entre 1834 e 1852 atuou como chanceler chileno.
Sob a liderança de Mario Barros Van Buren ao longo dos anos 1970, sob o governo militar, a Academia assume papel destacado na condução da política externa chilena, passando a ser reconhecida como um dos centros de excelência do país.

Contudo, a importante produção da Academia se concentrava bastante sua atenção nos temas geopolíticos, típicos das abordagens Realistas predominantes nos anos 70. Nesse momento, a Cepal liderava um importante debate crítico, fora e dentro do Chile, sobre as dinâmicas de inserção das economias latino-americanas na economia mundial. O embate entre as ideias disseminadas pela Academia e pela Cepal animaram por muito tempo o debate internacional no Chile.

De maneira geral, pode-se considerar o estudo das Relações Internacionais como bem implementado, mesmo que de certa maneira recente. Os intensos debates gerados entre uma das mais importantes Academias diplomáticas, a “Andrés Bello” e o grupo de pesquisadores da Teoria da Dependência da Cepal, sediada em Santiago, contribuíram para o amadurecimento e a popularização do debate internacional no Chile. Com o fortalecimento do IEI - Instituto de Estudos Internacionais, um novo momento foi alcançado.

Referências :
ZAMORA, C.M. : “Estudiar Relaciones Internacionales en Amética Latina”. ESGLOBAL, 2012. Disponível em: <http://www.esglobal.org/estudiar-relaciones-internacionales-en-america-latina.> Acesso em 29 mar 2014.

BUSTOS, C.: “La academia diplomática: cooperación descentralizada”.  Disponível em: http://web.archive.org/web/20100528075634/http://www.cooperaciondescentralizada.gov.cl/escuela/1513/article-68742.html. Acesso em 29 mar 2014.
LAGOS,G.: “Tendencias y perspectivas del estudio de las Relaciones Internacionales: tareas para America Latina”. Disponível em: http://www.patatabrava.com/apuntes/lagos_tendencias_y_perspectivas_del_estudio_de_las_relaciones_internacionales_tareas_para_amelat-f121419.htm. Acesso em 29 mar 2014.

SÁNCHEZ, W.: “Relaciones internacionales: de la clonación a la creación la mirada desde el Instituto de Estudios Internacionales de la Universidad de Chile”. Disponível em: http://www.anales.uchile.cl/index.php/REI/article/viewFile/14355/14769. Acesso em 29 mar 2014.

VÉLIZ,C.: “El Instituto de Estudios Internacionales de la Universidad de Chile”. Disponível em: http://www.jstor.org/discover/10.2307/23317209?uid=2129&uid=2&uid=70&uid=4&sid=21103908108753. Acesso em 29 mar 2014.

O Estudo de Relações Internacionais na Argentina

(Gabriela de Souza Moreira)

O ensino e estudo das Relações Internacionais como uma disciplina cientifica são muito recentes. Na Argentina, segundo dados do Ministério de Educação, as instituições “Universidad del Salvador”, “Universidad Católica de Córdoba” e a “Universidad Católica de La Plata”, foram, as primeiras a oficializar os cursos de Licenciatura em Relações Internacionais, na metade dos anos 70.
Porém, a instituição pioneira em estudos internacionais foi a “Universidad Nacional del Litoral”, hoje “Universidad Nacional de Rosário”, já que esta, desde 1929, oferece disciplinas de Estudos Internacionais em seus cursos de graduação.

Em 1960 começou a se popularizar o estudo de temas internacionais nas universidades argentinas, especialmente nos cursos de Ciências Políticas, como se verificou nas universidades del Salvador, Católica de Córdoba, Católica de Kennedy e na Universidad Nacional de Cuyo. Foi nesse período (1963) que foi fundado o Instituto de Serviço Exterior da Nação, dedicado a oferecer formação acadêmica para os futuros diplomatas, institucionalizando e democratizando o acesso aos postos diplomáticos, tradicionalmente reservados aos aristocratas do país.

A popularização dos cursos de Relações Internacionais se deve às mudanças ocorridas no cenário internacional ao longo da década de, quando as tradicionais abordagens baseadas nas questões de estratégia e segurança passaram a dividir espaço com as questões econômicas, sociais e culturais. Ao mesmo tempo, passa-se a observar a progressiva profissionalização das Relações Internacionais, em um contexto de grandes transformações cientificas e tecnológicas, afetando todo o campo do saber. Mesmo que a América Latina tenha acompanhado com certo atraso o debate internacionalista, liderado especialmente pela produção acadêmica americana, o continente não se manteve à margem, originando até movimentos como o chamado Novo Internacionalismo Latino Americano.

A década de 80 teve um impacto significativo no ensino, aprendizagem e investigação dentro da área das Relações Internacionais. O retorno a vida democrática, na Argentina, simbolizada pela eleição do presidente Raúl Alfonsin, em 1983, permitiu que a área de Relações Internacionais se dedicasse a projetos não estritamente ligados aos interesses de Estado, como as pesquisas excessivamente ligados às questões Geopolíticas e Segurança, o que serviu como base para, ao longo da década de 90, a expansão dos centros de ensino.
Na Argentina, a invasão das Ilhas Malvinas, em 1982, apressou o fim da ditadura. A derrota para os ingleses levou à queda da última junta militar, já enfraquecida pela insatisfação do povo com os rumos da economia e a repressão, o que representou num estímulo decisivo para a diversificação temática na área.

De um ponto de vista atual, pode se considerar que os anos 80 significaram para a disciplina um ponto de inflexão, pois a Guerra das Malvinas demonstrou a pouca profissionalização que havia no país com respeito a essa temática: um profundo vazio existente em questões referentes à realidade internacional, tanto na sociedade quanto no próprio Estado.

Em 1990, com o termino da Guerra Fria e aceleração do processo de globalização, os centros dedicados ao ensino das Relações Internacionais na Argentina se expandiram um pouco mais, e muitos deles colocaram especial atenção nas questões econômicas.

Até este momento, dezoito universidades e institutos da Argentina (públicos e privados) possuem cursos de graduação em Relações Internacionais. Além disso, existem mais 25 que possuem pós-graduações, mestrados e especializações em Relações Internacionais, Politica Internacional, Estudos Internacionais, Negócios Internacionais, Integração Regional e outras disciplinas similares com conteúdos similares.  

No debate internacional é possível reconhecer duas grandes tradições no estudo desta disciplina: a americana e a europeia. A primeira reconhece as raízes das Relações Internacionais localizadas nas Ciências Políticas. No continente europeu as posturas são menos unívocas identificando as origens da disciplina ou no Direito, na Sociologia ou ainda na História.

Na Argentina, essa discussão parece indefinida. Por um lado, as profundas raízes culturais europeias se manifestaram também no campo da disciplina de Relações Internacionais, fazendo com que na maioria dos projetos de curso as heranças europeias se manifestam, dedicando ênfase às abordagens históricas. Entretanto, de outra parte, alguns cursos seguem a tradição americana de forte enfoque político.

Stanley Hoffman, professor de Política Internacional em Harvard, afirma que Relações Internacionais poderiam até ser consideradas como uma “ciência social norte americana”, tamanha a influência americana na produção da área, com a bibliografia amplamente dominada pela produção no idioma inglês. Felizmente, entretanto, nos últimos anos, pode se verificar o significativo aumento das publicações em espanhol, com grande contribuição das editoras argentinas.

Na América Latina, ainda que se possa mencionar o México (com a Universidade Nacional Autônoma do México) e, em menor medida, o Chile (com seu Instituto de Estudo Internacionais da Universidade do Chile) e o Brasil (com o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais-IRI) como países que estão na vanguarda, ainda se transita por uma etapa que podia classificar-se como inicial.

Na Argentina os resultados são mais tímidos que nos países citados e, quanto ao ensino, mesmo contando com institutos de Relações Internacionais de reconhecida trajetória e reputação internacional, se observam deficiências nas universidades. No geral tem que se contentar em compartir o espaço com outras Ciências Sociais, especialmente com as Ciências Políticas ou com o fato de estar incluída em outras faculdades como Direito, a citada Ciências Politicas ou, de modo mais genérico, as faculdades de Humanidades. Se o problema se reduzisse exclusivamente a uma questão administrativa não seria muito relevante, mas as dificuldades põe em evidencia a ausência de um acordo quanto a natureza das Relações Internacionais como saber cientifico e acadêmico. 

Entre os autores locais, o destaque é para a produção relativa à política externa argentina, tendo como analistas precursores Juan Bautista Alberdi (1810-1884), autor do clássico “El Crimen de la Guerra”, além de Joaquín Gonzalez (1863-1923), autor do livro “Politica Internacional”. Nos anos 40 podem-se citar obras como “Política Internacional”, de Nicolás Repetto. Um escritor muito fértil nessa área foi Lucio Moreno Quintana, e entre seus obras se encontram os clássicos “Politica Internacional de la Republica Argentina”, editada pela Universidade de Buenos Aires em 1943, além de “Elementos da Politica Internacional”, obra dedicada tanto à teoria da Politica Internacional e à politica internacional argentina.

Como se pode observar o foco continua sendo os temas da Politica Exterior. Talvez a obra de mais destaque e mais completa de todas seja o “Manual de Politica Internacional”, de Mario Amadeo, um autor de defende o uso do termo Politica Internacional no lugar de Relações Internacionais para denominar a disciplina.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Estudo das Relações Internacionais na Colômbia

(Camille Xavier)

O estudo das Relações Internacionais na maioria dos países latinos americanos se inicia por volta dos anos 70, exceto na Colômbia que se iniciou um pouco mais cedo, já nos anos 50. Naquele momento, a Colômbia passava pela pior crise humanitária do continente, conhecida como “La Violencia”, que registrava uma taxa média de 3 mil assassinatos por ano, com milhões de cidadãos deslocados, disseminação da prática de sequestro, além de assassinatos de lideres políticos e sindicais. O estudo da instabilidade política colombiana a partir de uma perspectiva internacional, bem como o estudo comparativo de negociações de paz, desde então tem motivado a disseminação de pesquisas em Relações Internacionais.

A instituição pioneira a criar um programa dedicado ao tema foi a Universidad de Bogotá Jorge Tadeo Lozano, que iniciou o curso de Política Internacional em 1958, com o objetivo problematizar os problemas sociopolíticos internos e sua relação com a ordem mundial. Em 1959, foi criado o Instituto de Política Internacional, História e Diplomacia (IPIHD), implementando um curso que capacitava estudantes com o título de Especialista em Política Internacional, com duração de 3 semestres. Em 1961, o Instituto de Estudos Diplomáticos e Internacionais cria um plano de estudo em Direito Internacional e Diplomacia, com 4 semestres. Já em 196, uma reforma curricular amplia o curso, transformando-o numa Licenciatura em Relações Internacionais e Diplomacia. Mas somente em 1985 o ICFES aprova o curso de 8 semestres de graduação em Relações Internacionais. Em 1991, o curso passa para uma duração de 10 meses. O curso é atualmente coordenado pela professora Olga Lucía Lllera Correal, autora do livro “Colombia: ¿una potencia en desarrollo? Escenarios y desafíos para su política exterior”.

O curso de Relações Internacionais da Universidad de Bogotá Jorge Tadeo Lozano possui um grande reconhecimento no país, e desde 2003 tem sido avaliado como um curso de alta qualidade pelo Ministério da Educação Colombiano, com uma constante presença de seus antigos estudantes nos altos cargos do governo, empresas e diplomacia, como Diego Uribe Vargas, Camilo Reyes Rodríguez e Guillermo Fernández de Soto, ministros das Relações Exteriores da Colômbia.

Entre o corpo docente do curso destacam-se os professores Angélica Alba Cuellar, Egoitz Gago, José Alberto Perez Toro, Maria Consuelo Ahumada, Mário Forero, Maurizio Agudelo e Miguel Barreto de Sousa.

Na Universidad Nacional, de Bogotá, foi criado em 1986 o Instituto de Estudios Políticos y Relaciones Internacionales (IEPRI), preocupado a entender melhor a inserção do país na realidade política internacional, se trnando um dos pontos de referência para o debate da pacificação do conflito armado na Colômbia, em sua perspectiva internacional. O IEPRI possui como pesquisadores de destaque Constanza Amézquita, Camilo Vargas, Andrés Prieto, Sandra Borda, Diana Rojas, Laura Moreno Segura, María Paz Berger e Carlos Castillo.

Outra referência para o estudo das Relações Internacionais na Colômbia é o Centro de Investigaciones y Proyectos Especiales (CIPE), da Facultad de Finanzas, Gobierno y Relaciones Internacionales, criado em 1993, especializado em políticas públicas e política externa. É ali que se encontra o Observatorio de Análisis de los Sistemas Internacionales (OASIS), criado em 1996 e, atualmente, coordenado pelo professor Bernardo Vela Orbegozo. Ali atuam na área científica Martha Ardila, Andelfo García, Rafael Estrada Michel, Carlos Hakansson Nieto, Josefina Echevarría e Rubén Martínez Dalmau.

Na tradicional Pontificia Universidad Javeriana, existe o Instituto de Derechos Humanos y Relaciones Internacionales (IDHRI), fundado em 1994, vinculado à Facultad de Ciencias Politicas y Relaciones Internacionales, especializado em Direito Internacional Humanitário. Conta como pesquisadores de destaque Consuelo Ahumada, Javier Sanín, Fernando Giraldo, Eduardo Pastrana Buelvas, Martha Lucía Márquez Restrepo e Claudia Dangond Gibsone.

Todos esses institutos podem contribuir com uma economia bastante dinâmica em franco processo de integração internacional, contribuindo para acabar com os vestígios deixados pela longa crise institucional vivida pelo país.

As Relações Internacionais na África do Sul

(Raphael Fernandes)

     As Relações Internacionais começaram a se constituir como disciplina independente logo após o fim da Primeira Guerra Mundial. A preocupação em investigar os motivos que causaram a guerra originou uma disciplina especializada nos acontecimentos mundiais. Durante os anos 1920, a disseminação desta nova disciplina das Relações Internacionais foi rápida, com a criação de departamentos e cursos universitários por toda a Europa e Estados Unidos e com a popularização do tema junto à opinião pública.


Este movimento também se verificou na África do Sul, então uma colônia britânica, que contava com uma grande população britânica residente. Ali, o ensino e a pesquisa em Relações Internacionais também foi implementado após a guerra, como nas Universidades de Pretoria e de Witwastersrand, assim como na Universidade de Cape Town. Estas foram as primeiras universidades a abrir portas para as Relações Internacionais, atraindo sua atenção para as questões da sociedade internacional.


O apoio governamental foi importante para a consolidação da disciplina no país, ao alocar investimentos específicos parra a pesquisa na área, atraindo professores, pesquisadores e estudantes. O surgimento do regime institucional de “apartheid” em 1948, também estimulou o debate internacional dentro da África do Sul, no sentido de tentar entender o alcance internacional do fenômeno. A Universidade de Cape Town, tradicional bastião do liberalismo e de oposição ao “apartheid”, além da Universidade de Durban-Westville (atualmente um dos campi da Universidade KwaZulu-Natal), constituída inicialmente por indianos, estimularam o debate sobre o regime discriminatório sul-africano dentro de uma perspectiva internacional.


Nesse ambiente, foi criado o Instituto Sul Africano de Relações Internacionais (SAIIA) na Cidade do Cabo, em 1934. A partir de 1960, o instituto é incorporado à Universidade de Witwatersrand, e passa a ser sediado na Jan Smuts House, no centro de Johannesburgo. Em 2008, o SAIIA volta às origens e abre um escritório na Cidade do Cabo, e em 2009 outro em Pretória, com o objetivo de oferecer cursos nessas cidades. O Instituto é financiado principalmente por doações internacionais, vindos de governos, organizações multilaterais e fundações privadas, enquanto alguns financiamentos locais vêm de empresas locais.


O tradicional Instituto Sul Africano de Relações Internacionais (SAIIA) tem uma longa história pioneira dentro da África do Sul, dedicado há décadas ao estudo das questões internacionais, de maneira independente, sem comprometimento com as posições governamentais, funcionando como um centro de excelência em pesquisa e debate para aprimorar o debate público sobre as questões internacionais.


Em 2009, o Instituto comemorou o seu 75º aniversário com uma série de conferências, reuniões e eventos sociais em todo o país, bem como em Londres. Durante o ano, incluía o ex-presidente do Mali (e da União Africana), o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, a Comissária Europeia para as Relações Externas o Ministro do Comércio de Botsuana, bem como vários ministros do governo sul-africano. No início de 2010 a Universidade da Pensilvânia, em estudo elaborado em conjunto com a ONU, classificou o SAIIA como o melhor instituto de pesquisa da África subsaariana. ´


No que se refere aos principais autores e pesquisadores sul-africanos na área de Relações Internacionais, destacam-se Scarlett Cornelissen, professora da Universidade de Stellenbosch, editora do livro “Africa and International Relations in the 21st Century”. Também merece desatque o professor Fantu Cheru, originalmente da Etiópia, por muitos anos o responsável pela linha de desenvolvimento econômico internacional na American University de Washington-DC, uma das maiores autoridades em desenvolvimento econômico africano. 

Atualmente, o professor Cheru é consultor da ONU para o painel “Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano" (NEPAD), e um dos autores do documento “Agenda Econômica Global”, da ONU, instituído pelo processo de Helsinque sobre Globalização e Democracia. Destaque também para a produção do embaixador J. Matjila, atual diretor do Departamentos das Relações Internacionais e da Cooperação (DIRCO). Com formação na Escócia, trabalha temas relacionados às negociações internacionais, lecionando na Universidade de Pretória.

As Relações Internacionais do México

(Bruno Fortes)

Os princípios da política externa mexicana são o respeito pelo direito internacional e igualdade jurídica dos Estados, o respeito à soberania e independência dos povos, não-intervenção nos assuntos internos de outros países país, a resolução pacífica de conflitos e a promoção da segurança coletiva através da participação em organizações internacionais.
Tradicionalmente, a política externa do México tem sido considerada de “esquerda”, assumindo posições nacionalistas e não alinhadas, demonstrando bastante independência em relação à política externa dos Estados Unidos. Durante os anos 1960, o México apoiou o governo cubano e, mais tarde, durante os anos 1970, a revolução sandinista na Nicarágua e os grupos revolucionários de esquerda em El Salvador. Nos anos 1970, o governo mexicano boicotou a Organização dos Estados Americanos (OEA) para protestar contra o golpe militar no Chile, suspendendo as relações diplomáticas com o Chile e África do Sul.
As exportações de petróleo, valorizadas pela crise do petróleo a partir de 1973 redimensionou a inserção internacional do país, uma vez que a grande entrada de dólares contribuiu para mudar a percepção de seu papel nos assuntos mundiais e de se tornar uma importante potência regional, contribuindo para a implementação de uma política externa mais assertiva e independente, especialmente após a presidência de Luís Echeverria (1970-1976). Em 1983, o govrno mexicano liderou a formação do “grupo de Contadora”, um grupo regional de 4 países (Colômbia, México, Panamá e Venezuela) para negociar uma solução pacífica para os confrontos de guerrilha na América Central.
A constante referência da política externa mexicana tem sido inevitavelmente, desde o século XIX, a relação com os Estados Unidos, a grande potência hemisférica com que compartilha uma extensa fronteira, intensa relações comerciais, baseadas nas exportações de petróleo. Os governos mexicanos tem tradicionalmente criticado a política externa americana, assumindo o papel de líder regional nas posições contrárias aos Estados Unidos.
Entretanto, a partir da administração de Salinas, o foco principal da política externa mexicana passou a priorizar o livre comércio e a constituição de um acordo comercial regional com os Estados Unidos, o NAFTA, além da assinatura de outros acordos comerciais bilaterais, com Colômbia (1994), Venezuela e Bolívia (1995). Sob a presidência de Salinas, o tradicional nacionalismo mexicano não alinhado começou a ser redefinido a partir de uma abordagem mais pragmática, batizada de "nacionalismo progressista". Ao longo dos anos 1990, a presidência de Zedillo consolidou essa prioridade na inserção proveitosa com a economia internacional.