sexta-feira, 11 de abril de 2014

As Relações Internacionais na África do Sul

(Raphael Fernandes)

     As Relações Internacionais começaram a se constituir como disciplina independente logo após o fim da Primeira Guerra Mundial. A preocupação em investigar os motivos que causaram a guerra originou uma disciplina especializada nos acontecimentos mundiais. Durante os anos 1920, a disseminação desta nova disciplina das Relações Internacionais foi rápida, com a criação de departamentos e cursos universitários por toda a Europa e Estados Unidos e com a popularização do tema junto à opinião pública.


Este movimento também se verificou na África do Sul, então uma colônia britânica, que contava com uma grande população britânica residente. Ali, o ensino e a pesquisa em Relações Internacionais também foi implementado após a guerra, como nas Universidades de Pretoria e de Witwastersrand, assim como na Universidade de Cape Town. Estas foram as primeiras universidades a abrir portas para as Relações Internacionais, atraindo sua atenção para as questões da sociedade internacional.


O apoio governamental foi importante para a consolidação da disciplina no país, ao alocar investimentos específicos parra a pesquisa na área, atraindo professores, pesquisadores e estudantes. O surgimento do regime institucional de “apartheid” em 1948, também estimulou o debate internacional dentro da África do Sul, no sentido de tentar entender o alcance internacional do fenômeno. A Universidade de Cape Town, tradicional bastião do liberalismo e de oposição ao “apartheid”, além da Universidade de Durban-Westville (atualmente um dos campi da Universidade KwaZulu-Natal), constituída inicialmente por indianos, estimularam o debate sobre o regime discriminatório sul-africano dentro de uma perspectiva internacional.


Nesse ambiente, foi criado o Instituto Sul Africano de Relações Internacionais (SAIIA) na Cidade do Cabo, em 1934. A partir de 1960, o instituto é incorporado à Universidade de Witwatersrand, e passa a ser sediado na Jan Smuts House, no centro de Johannesburgo. Em 2008, o SAIIA volta às origens e abre um escritório na Cidade do Cabo, e em 2009 outro em Pretória, com o objetivo de oferecer cursos nessas cidades. O Instituto é financiado principalmente por doações internacionais, vindos de governos, organizações multilaterais e fundações privadas, enquanto alguns financiamentos locais vêm de empresas locais.


O tradicional Instituto Sul Africano de Relações Internacionais (SAIIA) tem uma longa história pioneira dentro da África do Sul, dedicado há décadas ao estudo das questões internacionais, de maneira independente, sem comprometimento com as posições governamentais, funcionando como um centro de excelência em pesquisa e debate para aprimorar o debate público sobre as questões internacionais.


Em 2009, o Instituto comemorou o seu 75º aniversário com uma série de conferências, reuniões e eventos sociais em todo o país, bem como em Londres. Durante o ano, incluía o ex-presidente do Mali (e da União Africana), o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, a Comissária Europeia para as Relações Externas o Ministro do Comércio de Botsuana, bem como vários ministros do governo sul-africano. No início de 2010 a Universidade da Pensilvânia, em estudo elaborado em conjunto com a ONU, classificou o SAIIA como o melhor instituto de pesquisa da África subsaariana. ´


No que se refere aos principais autores e pesquisadores sul-africanos na área de Relações Internacionais, destacam-se Scarlett Cornelissen, professora da Universidade de Stellenbosch, editora do livro “Africa and International Relations in the 21st Century”. Também merece desatque o professor Fantu Cheru, originalmente da Etiópia, por muitos anos o responsável pela linha de desenvolvimento econômico internacional na American University de Washington-DC, uma das maiores autoridades em desenvolvimento econômico africano. 

Atualmente, o professor Cheru é consultor da ONU para o painel “Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano" (NEPAD), e um dos autores do documento “Agenda Econômica Global”, da ONU, instituído pelo processo de Helsinque sobre Globalização e Democracia. Destaque também para a produção do embaixador J. Matjila, atual diretor do Departamentos das Relações Internacionais e da Cooperação (DIRCO). Com formação na Escócia, trabalha temas relacionados às negociações internacionais, lecionando na Universidade de Pretória.

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