quarta-feira, 20 de maio de 2015

O terror do Talibã



(Isabela Varanda)

O Afeganistão é um país asiático considerado a “ponte” entre o Oriente e o Ocidente. Por conta de seu território estar em posição estratégica o local já foi conquistado pelo Império Persa, Macedônio, Hindu, Mongol, Turco Otomano, Inglês, Russo e também pelos Estados Unidos, além do movimento nacionalista chamado Talibã.

O Talibã chegou ao poder no Afeganistão em 1996, financiado pelo Paquistão, e após intensas guerras internas no país. O Talibã é um movimento fundamentalista islâmico nacionalista liderado por Mohammed Omar e seus principais membros, assim como o líder, eram estudantes antes de entrarem para a guerrilha. “Estudantes” é o significado da palavra Talibã. A organização conta com campos de refugiados no Paquistão onde estes aprendem táticas de guerrilha e sobre o islamismo.

Segundo o dicionário terrorismo é a “utilização organizada e metódica da violência com propósitos políticos, normalmente por meio de atentados, buscando desorganizar a sociedade vigente”. Apenas com essa definição diversos nomes surgem à tona, sendo um dos mais citados o temido Talibã.

O Talibã é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos, Rússia e União Soviética. A maioria de seus atentados é realizada com homens-bomba chegando a impressionante média de 100 atentados desse tipo por ano, segundo o The New York Times. Estima-se que mais de 3 mil pessoas tenham morrido nas mãos desse grupo.

Hoje, o grupo está presente no Afeganistão e no Paquistão e realiza diversos ataques nesses países. Um dos piores atentados aconteceu no Paquistão em dezembro de 2014. Um grupo de seis militantes do Talibã matou pelo menos 135 pessoas a tiros, a maioria tinha entre 12 e 16 anos e estudavam em uma escola administrada pelo Exército na cidade de Peshawar, local onde aconteceu o atentado. Os seis militantes foram mortos, não sem antes terem espalhado diversos explosivos pela escola.

No Afeganistão foram realizados também ataques com mísseis, sendo o mais conhecido o acontecido em 20 de agosto de 2009 durante as eleições com a intenção de impedir que elas fossem realizadas.

O último ataque realizado por eles foi em abril contra a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a OTAN, no Afeganistão. Cinco pessoas morreram e doze ficaram feridas quando um homem-bomba usando um veículo policial carregado de explosivos investiu contra um comboio das tropas internacionais em Jalalabad, capital da província de Nangarhar.



Celtic vs Rangers: Rivalidade muito além do campo

(Eduardo Pacheco)

Dizem que discutir futebol, política e religião pode levar a intermináveis debates sem conclusão. Misturar os três assuntos numa mesma discussão, então, pode fazer tudo tomar proporções gigantescas. A cidade de Glasgow, maior da Escócia e terceira maior do Reino Unido, é a prova de que isso nunca daria certo. As duas equipes de futebol da cidade, Celtic e Rangers, são muito mais que rivais dentro de campo. Seus torcedores têm religiões diferentes e um pensamento político divergente em relação à participação da Escócia como integrante do Reino Unido.

A origem dessa rivalidade começa no século XVI, com a Reforma Protestante convertendo milhares de pessoas por toda a Europa. E foi na Escócia que o protestantismo conseguiu seu maior número de seguidores. A grande ascensão protestante no país fez surgir um ódio aos católicos, praticantes da até então religião dominante.

Foi então que, no final do século XIX, um padre católico chamado Walfrid decidiu criar uma maneira de manter os jovens católicos longe da influência protestante, ocupando seu tempo livre com um clube de futebol católico. Nascia o Celtic FC. Em seu começo, o Celtic faturou quatro de seis títulos nacionais. A sociedade escocesa protestante ficou em polvorosa, jamais aceitaria um clube católico com tantos títulos prestígios. Foi então que o Rangers entrou em cena.

Criado sem qualquer ideal religioso ou político, foi só conquistar algumas vitórias seguidas contra Celtic, que a equipe foi imposta pela sociedade escocesa a ser a equipe "verdadeiramente escocesa" que destronaria o time católico. O Celtic aceitou a rivalidade. Começou a utilizar as cores verde e branca, símbolos do catolicismo. O Rangers não demorou a responder. Às vésperas da primeira guerra, adotou uma política que só aceitava protestantes em qualquer setor do clube, dentro e fora de campo.

Os torcedores do Celtic se apegaram mais a causa do clube. Começaram a cantar músicas do IRA, o exército republicano irlandês, totalmente anti-britânico e passaram a apoiar a independência da Escócia em relação ao Reino Unido. Os torcedores Rangers respondiam com músicas anti-católicas e passaram a vestir a cor laranja nos estádios, relembrando o feito de Guilherme de Orange que, em 1688, destronou a monarquia católica. O time adotou as cores do Reino Unido: azul, branco e vermelho e sua torcida levava aos estádios bandeiras com a imagem da Rainha da Inglaterra, chefe maior da Igreja Protestante, ao passo que bandeiras com a imagem do Papa João Paulo II também passaram a ser vistas pelos estádios.

A velha firma tornou-se a mais rival das rivalidades, Glasgow ficou dividida e uma grande incidência de mortes de torcedores ocorria em dias de clássico. Nos dias de hoje, os times já aceitam jogadores de religiões opostas, mas seus torcedores segue cegados pela paixão e pelo sectarismo. A ideia de misturar futebol, política e religião não tinha como dar certo. E continuará sendo um problema enquanto a torcida do Rangers hostiliza o Papa ao passo que a do Celtic xinga o exército britânico.

A Catalunha e sua luta pela independência

(Maria Maria Queiroz)

A questão da independência da Catalunha é uma questão polêmica que divide o povo da Espanha. Devido a um forte nacionalismo catalão, a sua população clama pela independência.

Os argumentos são baseados no princípio de que a Catalunha é, de fato, uma nação, pois detém de uma história, cultura e língua própria, sem contar o que diz respeito ao direito civil. Sobretudo, há também a questão econômica: a economia da Catalunha mais contribui para a economia espanhola, como um todo, do que recebe em troca pelos fundos governamentais.Dessa forma, acreditam que não alcançarão sua identidade / plenitude cultural, econômica e social, enquanto continuar fazendo parte da Espanha.

Para evidenciar tal situação, ocorreu no final do ano passado, em novembro de 2014, uma votação sobre essa questão. Nesta, apresentava-se duas perguntas. A primeira, se os eleitores desejavam que a Catalunha viesse a ser um Estado-Nação e a outra, se os mesmos desejavam que este Estado fosse independente. Foram consultadas mais de dois milhões de pessoas e, no total, 80% dos eleitores haviam respondido sim para as perguntas.

Didac Canudas, morador da comunidade espanhola, é um exemplo que ilustra tal resultado. Ele é apenas mais um catalão que almeja a independência e não se apresenta como “espanhol”: “nós queremos independência. Quando as pessoas me perguntam de onde sou, digo da Catalunha, não da Espanha, pois nos vemos como catalães, não espanhóis”.

O governo da Espanha, no entanto, não vê a independência com os mesmos olhos. Aliás, para eles, a emancipação da comunidade não seria interessante, uma vez que esta possua uma forte e estabilizada economia, sendo uma região rica e com 7,5 milhões de habitantes. Logo, em relação à votação, os argumentos eram contra. O governo acreditava que a votação não teria legitimidade e, portanto, de nada serviria, uma vez que esta fosse organizada por grupos pró-independência. Dessa forma, não teria uma “validade” democrática.

No entanto, apesar de ser uma votação inconstitucional, ou seja, informal, o povo da Catalunha acredita que esse tenha sido um grande passo, pois, a partir dela, conseguiram o direito de um plebiscito. Para eles, a votação serviu, sobretudo, para mostrar ao mundo que a Catalunha quer governar a si própria.

Os catalães clamam por independência e desejam obtê-la o quanto antes para atingir, de uma vez por todas, sua plenitude cultural, social e econômica. O processo pode demorar, mas a Catalunha reconhece o progresso e o grande passo à caminho da tão almejada emancipação.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Existe terrorismo budista ?


(Maria Maria Queiroz)

Quando se fala em Budismo, remete-se à uma religião e corrente filosófica profundamente pacífica, que cultua a paz e busca promover uma relação harmoniosa com o mundo, a qual proporciona leveza no corpo e na alma de quem segue seus preceitos. Nesse sentido, poderia causar surpresa para muitos que, no meio das instabilidades da política internacional, se organizam grupos militares budistas, sejam guerrilhas ou células terroristas.

A história do Budismo em países como Japão, China, Mianmar, Tailândia e Sri Lanka, entre outros, está marcada, paradoxalmente por muita violência. Os motivos que criam tal dicotomia entre princípios de paz e e militância de luta são diversos. Começam pela necessidade de sobrevivência e resistência de populações locais, em situação de ocupação militar por forças externas. A cultura de artes marciais incorporada aos princípios filosóficos gerais acaba construindo um canal entre pacifismo e luta. Algumas situações de fundamentalismo religioso, polarização política, defesa de direitos, e nacionalismo étnico podem terminar por viabilizar este inesperado casamento.


Um dos exemplos que ilustra a presença de um DNA violento nas sociedades budistas é a organização japonesa Aum Shinri-kyo que, em portugês, significa “ensinamentos da vida suprema”. A base de sua doutrina está nas escrituras budistas incluídas no cânone Pali e revela a sobrevivência de um certo tradicionalismo conservador. O grupo foi responsável por um ataque terrorista no metro de Tóquio, em 20 de março de 1995, no qual gás venenoso (sarin) foi lançado no meio da multidão. O ataque teve como consequência 12 mortes, 50 pessoas em estado crítico e 984 com problemas de visão. Ao todo, estima-se cerca de 5 mil pessoas foram afetadas pelo gás.

Assim como na China, onde tem-se o Kung Fu como tradição em forma de defesa, as artes marciais marcam o envolvimento da violência também na Tailândia, desde a antiguidade, como o Muay Thai. Os praticantes dessas lutas são apresentados como heróis guerreiros, tanto na China, quanto na Tailândia. No caso da tailandes, monges como Phra Kittiwuttho argumentam que matar opositores comunistas não viola qualquer preceito budista.

Outro exemplo é o conflito entre budistas e muçulmanos em Mianmar (conhecida antigamente como Birmânia). Desde o fim da ditadura militar no país, em 2011, a violência tem se instaurado entre os diversos grupos políticos e étnicos do país, sendo este o principal desafio do atual governo birmanês.

Tal conflito intensificou-se em 2012 e teve como estopim o estupro seguido de assassinato de uma mulher budista por 3 muçulmanos. Neste, houve a morte de 32 pessoas e cerca de 8 mil fugiram do local. As posições anti-islâmicas dos monges budistas foram evidenciadas, sobretudo, pelo ateamento de fogo em mesquitas, escolas e estabelecimentos muçulmanos.

No Sri Lanka, o terrorismo de inspiração budista guia-se pelo viés xenofóbico. As divergências entre os dois povos começaram após o exército do país ter derrotado o grupo separatista dos Tigres Tamuls, organização armada separatista que lutava por independência na chamada guerra civil do Sri Lanka, que durou 26 anos. Dessa forma, com o fim do conflito, o “clima de triunfo” estimulou ataques conta a nova minoria: os muçulmanos.

Grupos budistas do país, como Bodu Bela Sena, atacaram violentamente muçulmanos, que compõem 10% da população. Ultranacionalistas, promovem o Slogan “Sri Lanka para os budistas”. Assim como em Mianmar, neste conflito, templos, lojas casas foram incendiadas, acarretando 3 mortes e 78 feridos.

A oposição de ideais budistas e a mescla entre paz e guerra é um assunto curioso e não muito popular. Com a tentativa de acabar com esse esteriótipo, Michael Jerryson, Mark Juergensmeyer, Vladimir Tikhonov e Torkel Brekke publicaram dois livros acerca da violência budista: a primeira dupla, com o título “Buddhist Warfare” (Guerra Budista) e a segunda, com “Buddhism and Violence: Militarism and Buddhism in Modern Asia” (Budismo e Violência: Militarismo e Budismo na Ásia Moderna.

Terrorismo e Comunismo - um olhar sobre os grupos Brigadas Vermelhas e Naxalitas

(Roberta Nolasco)

Brigadas Vermelhas (BR), ou Brigate Rosse, como é o seu nome original em italiano, é um grupo terrorista 
formado em 1969, na Itália, inspirado por ideais comunistas. Esta organização política extremista originou-se no movimento estudantil italiano da década de 1960 e desenvolveu suas atividades durante os anos 1970 e 80, priorizando ações violentas contra instituições da sociedade capitalista.

As BR tinham como inimigo imediato a Democracia Cristã (DC), partido que estava no poder na Itália durante os anos 1970. O líder da DC, Aldo Moro, foi sequestrado e morto pelas BR em 1978, em Roma, quando se encontrava no caminho entre sua casa e a Câmara dos Deputados. O grupo terrorista tinha como objetivo criar o Partido Comunista Combatente e atacar as instituições do capitalismo e do imperialismo, visando debilitar o Estado, e promover 
uma revolução social, com a a implementação de um novo sistema, de inspiração comunista. Dessa maneira, com um novo governo, a Itália deixaria o bloco ocidental, e a OTAN, passando a se alinhar ao bloco socialista.

No início de suas atividades, o grupo realizava ações de pequena escala, como incêndios de veículos ou de fábricas, passando a sequestros de pessoas influentes da política italiana, promovendo a exposição midiática destes dirigentes. Nos anos 1980, as BR entraram em um período de declínio. Cerca de 500 integrantes estavam presos, e a polícia obteve colaboração de vários deles em troca de redução da pena. Apesar dos esforços da organização para se reerguer, a polícia italiana conseguiu deter as ações do grupo e reduzi-lo a uma situação de quase desaparecimento.

As ações terroristas de inspiração política-ideológica também conheceram uma outra expressão a milhares de quilômetros dali, na Índia. 
O grupo de militantes comunistas conhecido como Movimento Naxalista tem esse nome porque foi fundado na vila Naxalbari, no estado indiano de Bengala Ocidental. O movimento é inspirados pela ideologia maoísta, e foram declarados como uma organização terrorista no âmbito das leis contra a prevenção das atividades ilegais da Índia, em 1967. Suas atividades são concentradas em uma região conhecida como “Corredor Vermelho”, onde eles detém um grande controle territorial. 

Um dos objetivos do grupo, é conseguir o apoio das camadas mais pobres do país, especialmente as castas de "intocáveis, como dalits e adivasis, para provocar um clima de instabilidade política e viabilizar a tomada do poder na região, como meio de garantir a realização dos direitos sociais, como direito à terra, emprego e renda, e dignidade social. 
Os líderes do movimento declararam que visam a criação de um Estado Comunista independente na Índia. Os alvos de seus ataques têm se concentrado nas chamadas áreas tribais da região, atacando a polícia e funcionários do governo.

O conflito entre este grupo maoísta e o governo indiano causou a morte de cerca de 749 pessoas em 2006, segundo o Centro Asiático para os Direitos Humanos (ACHR). 

Al-Qaeda - uma história do terrorismo

(Rhayana Gonçalves)


A Al-Qaeda ("a base", em árabe) foi criada por volta de 1989 por Osama Bin Laden. Quando criada, a Al-Qaeda tinha como objetivo organizar e treinar combatentes de origem saudita para o combate às tropas soviéticas estacionadas no território do Afeganistão, em aliança com o Talibã, principal grupo "mujaidin" operando no revolta afegã. Este núcleo de combatentes tinha como motivação ensinamentos islâmicos fundamentalistas, justificando as ações militares como parte da "jihad" contra infiéis ocidentais, e era financiado por recursos oriundos da Arábia Saudita e dos Estados Unidos, viabilizando tanto a compra de armas como o treinamento.

Após a saída das tropas soviéticas do Afeganistão, este núcleo de combatentes reorientou seu foco para combater a presença norte-americana no Oriente Médio, alegando que conduziam uma política de opressão aos muçulmanos.

Mesmo sem uma estimativa concreta sobre o total de seus efetivos e recursos, o grupo começa a marcar presença em ações terroristas na Somália, Yêmen, Kenya ou Bósnia, culminando com o atentado ao World Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro de 2001, atentado que a tornou mundialmente conhecida. Todos os 19 terroristas que sequestraram 4 aviões comerciais nos Estados Unidos e os lançaram contra alvos americanos eram sauditas e pertenciam ao grupo.

O atentado gerou uma intervenção militar americana em solo afegão, na tentativa de desbaratar os grupos terroristas islâmicos, bem como seus campos de treinamento. Desde então, os militantes desta organização tem estabelecido de maneira sempre clandestina novos bases de treinamento em muitos países, tais como Argélia, Líbia ou Cade, além de núcleos operacionais em países europeus que apóiam as intervenções militares americanas.

Mesmo diante da grande repercussão na mídia, é importante lembrar que ainda existem muitos questionamentos sobre a Al-Qaeda, sobre a sua real relevância e até mesmo sobre a sua existência como instituição formal. Como o próprio Bin Laden declarou em entrevista à emissora Al-Jazeera, a "formalização" do grupo foi feita pelo governo americano, com o objetivo de enquadrar a rede de combatentes como "organização criminosa", legitimando juridicamente as ações militares e a prisão de suspeitos subsequentes, ações que viriam a ser conhecidas como "Guerra ao Terror".

Quanto ao célebre líder da organização, Osama Bin Laden, durante anos ele foi procurado pelas tropas americanas, sem que se encontrasse qualquer indício concreto de seu paradeiro, fazendo com que a campanha de captura permanecesse insolúvel aos olhos da opinião pública. Nesse contexto, em maio de 2011, o presidente Obama declara que Bin Laden havia sido morto numa ação secreta de um comando especial do exército americano.

Recentemente, o célebre jornalista americano Seymour Hersh, através de artigo publicado no "London Review of Books", levanta muitos questionamentos sobre a autenticidade desta versão do governo americano, especialmente sobre a falta de envolvimento direto do governo paquistanês, e também sobre a própria existência de tal operação comando.

http://www.lrb.co.uk/v37/n10/seymour-m-hersh/the-killing-of-osama-bin-laden