terça-feira, 19 de maio de 2015

Existe terrorismo budista ?


(Maria Maria Queiroz)

Quando se fala em Budismo, remete-se à uma religião e corrente filosófica profundamente pacífica, que cultua a paz e busca promover uma relação harmoniosa com o mundo, a qual proporciona leveza no corpo e na alma de quem segue seus preceitos. Nesse sentido, poderia causar surpresa para muitos que, no meio das instabilidades da política internacional, se organizam grupos militares budistas, sejam guerrilhas ou células terroristas.

A história do Budismo em países como Japão, China, Mianmar, Tailândia e Sri Lanka, entre outros, está marcada, paradoxalmente por muita violência. Os motivos que criam tal dicotomia entre princípios de paz e e militância de luta são diversos. Começam pela necessidade de sobrevivência e resistência de populações locais, em situação de ocupação militar por forças externas. A cultura de artes marciais incorporada aos princípios filosóficos gerais acaba construindo um canal entre pacifismo e luta. Algumas situações de fundamentalismo religioso, polarização política, defesa de direitos, e nacionalismo étnico podem terminar por viabilizar este inesperado casamento.


Um dos exemplos que ilustra a presença de um DNA violento nas sociedades budistas é a organização japonesa Aum Shinri-kyo que, em portugês, significa “ensinamentos da vida suprema”. A base de sua doutrina está nas escrituras budistas incluídas no cânone Pali e revela a sobrevivência de um certo tradicionalismo conservador. O grupo foi responsável por um ataque terrorista no metro de Tóquio, em 20 de março de 1995, no qual gás venenoso (sarin) foi lançado no meio da multidão. O ataque teve como consequência 12 mortes, 50 pessoas em estado crítico e 984 com problemas de visão. Ao todo, estima-se cerca de 5 mil pessoas foram afetadas pelo gás.

Assim como na China, onde tem-se o Kung Fu como tradição em forma de defesa, as artes marciais marcam o envolvimento da violência também na Tailândia, desde a antiguidade, como o Muay Thai. Os praticantes dessas lutas são apresentados como heróis guerreiros, tanto na China, quanto na Tailândia. No caso da tailandes, monges como Phra Kittiwuttho argumentam que matar opositores comunistas não viola qualquer preceito budista.

Outro exemplo é o conflito entre budistas e muçulmanos em Mianmar (conhecida antigamente como Birmânia). Desde o fim da ditadura militar no país, em 2011, a violência tem se instaurado entre os diversos grupos políticos e étnicos do país, sendo este o principal desafio do atual governo birmanês.

Tal conflito intensificou-se em 2012 e teve como estopim o estupro seguido de assassinato de uma mulher budista por 3 muçulmanos. Neste, houve a morte de 32 pessoas e cerca de 8 mil fugiram do local. As posições anti-islâmicas dos monges budistas foram evidenciadas, sobretudo, pelo ateamento de fogo em mesquitas, escolas e estabelecimentos muçulmanos.

No Sri Lanka, o terrorismo de inspiração budista guia-se pelo viés xenofóbico. As divergências entre os dois povos começaram após o exército do país ter derrotado o grupo separatista dos Tigres Tamuls, organização armada separatista que lutava por independência na chamada guerra civil do Sri Lanka, que durou 26 anos. Dessa forma, com o fim do conflito, o “clima de triunfo” estimulou ataques conta a nova minoria: os muçulmanos.

Grupos budistas do país, como Bodu Bela Sena, atacaram violentamente muçulmanos, que compõem 10% da população. Ultranacionalistas, promovem o Slogan “Sri Lanka para os budistas”. Assim como em Mianmar, neste conflito, templos, lojas casas foram incendiadas, acarretando 3 mortes e 78 feridos.

A oposição de ideais budistas e a mescla entre paz e guerra é um assunto curioso e não muito popular. Com a tentativa de acabar com esse esteriótipo, Michael Jerryson, Mark Juergensmeyer, Vladimir Tikhonov e Torkel Brekke publicaram dois livros acerca da violência budista: a primeira dupla, com o título “Buddhist Warfare” (Guerra Budista) e a segunda, com “Buddhism and Violence: Militarism and Buddhism in Modern Asia” (Budismo e Violência: Militarismo e Budismo na Ásia Moderna.

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