quarta-feira, 20 de maio de 2015

Celtic vs Rangers: Rivalidade muito além do campo

(Eduardo Pacheco)

Dizem que discutir futebol, política e religião pode levar a intermináveis debates sem conclusão. Misturar os três assuntos numa mesma discussão, então, pode fazer tudo tomar proporções gigantescas. A cidade de Glasgow, maior da Escócia e terceira maior do Reino Unido, é a prova de que isso nunca daria certo. As duas equipes de futebol da cidade, Celtic e Rangers, são muito mais que rivais dentro de campo. Seus torcedores têm religiões diferentes e um pensamento político divergente em relação à participação da Escócia como integrante do Reino Unido.

A origem dessa rivalidade começa no século XVI, com a Reforma Protestante convertendo milhares de pessoas por toda a Europa. E foi na Escócia que o protestantismo conseguiu seu maior número de seguidores. A grande ascensão protestante no país fez surgir um ódio aos católicos, praticantes da até então religião dominante.

Foi então que, no final do século XIX, um padre católico chamado Walfrid decidiu criar uma maneira de manter os jovens católicos longe da influência protestante, ocupando seu tempo livre com um clube de futebol católico. Nascia o Celtic FC. Em seu começo, o Celtic faturou quatro de seis títulos nacionais. A sociedade escocesa protestante ficou em polvorosa, jamais aceitaria um clube católico com tantos títulos prestígios. Foi então que o Rangers entrou em cena.

Criado sem qualquer ideal religioso ou político, foi só conquistar algumas vitórias seguidas contra Celtic, que a equipe foi imposta pela sociedade escocesa a ser a equipe "verdadeiramente escocesa" que destronaria o time católico. O Celtic aceitou a rivalidade. Começou a utilizar as cores verde e branca, símbolos do catolicismo. O Rangers não demorou a responder. Às vésperas da primeira guerra, adotou uma política que só aceitava protestantes em qualquer setor do clube, dentro e fora de campo.

Os torcedores do Celtic se apegaram mais a causa do clube. Começaram a cantar músicas do IRA, o exército republicano irlandês, totalmente anti-britânico e passaram a apoiar a independência da Escócia em relação ao Reino Unido. Os torcedores Rangers respondiam com músicas anti-católicas e passaram a vestir a cor laranja nos estádios, relembrando o feito de Guilherme de Orange que, em 1688, destronou a monarquia católica. O time adotou as cores do Reino Unido: azul, branco e vermelho e sua torcida levava aos estádios bandeiras com a imagem da Rainha da Inglaterra, chefe maior da Igreja Protestante, ao passo que bandeiras com a imagem do Papa João Paulo II também passaram a ser vistas pelos estádios.

A velha firma tornou-se a mais rival das rivalidades, Glasgow ficou dividida e uma grande incidência de mortes de torcedores ocorria em dias de clássico. Nos dias de hoje, os times já aceitam jogadores de religiões opostas, mas seus torcedores segue cegados pela paixão e pelo sectarismo. A ideia de misturar futebol, política e religião não tinha como dar certo. E continuará sendo um problema enquanto a torcida do Rangers hostiliza o Papa ao passo que a do Celtic xinga o exército britânico.

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