quarta-feira, 20 de junho de 2012

Esporte e Relações Internacionais

(Breno Souza de Freitas)

      As competições esportivas que envolvem países de diferentes partes do mundo, pessoas de diferentes nacionalidades, ideologias divergentes, têm como objetivo básico tentar celebrar simbolicamente a paz ou, pelo menos, como dizem os teóricos realistas, a ausência de conflitos. Este é o discurso dos organizadores, imprensa e líderes em relação aos grandes eventos esportivos internacionais. Essa é a idéia de seu símbolo, os cinco anéis unidos, representando a união entre os cinco continentes do globo.

Os esportes estão inseridos nas relações internacionais desde antes de Cristo, com os jogos olímpicos. Eles foram criados na Grécia, aproximadamente em 2500 a.C., onde apenas os povos helênicos participavam para homenagear seus deuses. Somente em 776 a.C. outras cidades-estado começaram a participar destes jogos.

Na era moderna, inspirados pelas Olimpíadas gregas, foi criada uma organização não-governamental (ONG) chamada Comitê Olímpico Internacional, no ano de 1894, para organizar e promover a competição. Atualmente, mais de 150 países participam dos Jogos Olímpicos, incluindo países totalmente divergentes, como Iraque e E.U.A., reuniu países antagônicos mesmo durante da guerra fria.

Os Jogos Olímpicos se desenvolveram a partir da idéia da universalidade, a ponto de quase todas nações serem representadas. Mas junto com ele cresceu também o número de problemas. Muitas vezes, no lugar da celebração, ele foi palco de tensões internacionais, verificando boicotes políticos, corrupção de agentes públicos, protestos étnicos, e até casos de terrorismo, como nas Olimpíadas de Munique, Alemanha, em 1972, onde um grupo terrorista palestino, conhecido como Setembro Negro, assassinou atletas israelenses.

Da simbologia da paz à teatralização dos conflitos internacionais. Diversos eventos acabaram a história dos Jogos Olímpicos, como a encenação de pretensões imperiais de potências emergentes, como tentativa de hegemonia esportiva nos Jogos de 1936, em Berlim, capital hitlerista, mesmo diante do percalço de vitórias de Jesse Owens no atletismo, o oposto do ideal racial ariano.

Ao mesmo tempo, os Jogos da paz não puderam resistir às guerras de fato e 3 edições foram canceladas em função dos conflitos mundiais, em 1916, 1940 e 1944.

Durante a Guerra Fria também fatos marcantes ocorreram, que envolveram as duas grandes superpotências da época, os norte-americanos e o soviéticos. Além de liderarem dois amplos bloqueios coletivos aos jogos de Moscou (1980) e Los Angeles (1984), demonstrando na prática a política de alinhamentos de blocos, várias batalhas simbólicas da guerra fria foram travadas nos terrenos de jogo, refletindo a tensão e o cenário internacional conturbado. A guerra fria esportiva foi travada em célebre batalhas esportivas, como a vitória americana no hóquei de gelo sobre os soviéticos e a vitória soviética na final olímpica do basquete.

Outra peculiaridade é que os Jogos em muitos casos são utilizados pelo país organizador como um instrumento de reafirmação de sua projeção emergente na cena internacional. Esta motivação de afirmação emergente pode ser detectada na Itália democrática e confiante (Roma 1960), no Japão reconstruído, performante e inserido na ordem ocidental (Tokio 1964), na América latina confiante dos anos 60 (México 1968), na nova democrática e poderosa Alemanha (Munique 1972), na potência soviética de projeção mundial (Moscou 1980), na emergente e rica Coréia (Seul 1988), na Espanha moderna em meio do milagre econômico (Barcelona 1992) e na demonstração de superioridade mundial da nova China (Beijing 2008).

Porém a Olimpíada não é o único evento com uma grande representatividade internacional. Sem dúvida nenhuma, a Copa do Mundo de futebol é o maior evento midiático do planeta. De maneira semelhante, regimes pretensiosos utilizam a organização para teatralizar suas pretensões (Italia 1934 ou Argentina 1978), nações emergentes visam reafirmar internacionalmente suas novas capacidades (México 1970, Alemanha 1974, Espanha 1982). Tão próximo da política andam os Mundiais de futebol que, significativamente, depois da desastrosa guerra que dividiu o continente europeu, a primeira Copa no continente só poderia ter sido realizada na Suíça

Além desses dois eventos, o terceiro maior é a Copa do mundo de Rugby, formando assim, a lista das três maiores competições internacionais, que, respectivamente, são os jogos olímpicos, a Copa do mundo de futebol e a Copa do mundo de Rugby. Esses três são os maiores por serem transmitidos em grande parte do mundo. Embora muito dediquem muita atenção aos Jogos Pan-americanos, este trata-se apenas de um pequeno evento regional.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Mídias e guerras

(Roberta Helcias)

Com a tecnologia cada vez mais evoluída, e os meios de comunicações cada vez mais rápidos a mídia vem tomando um imenso papel nas guerras. Com esses novos meios de tecnologia e a internet para passar informações vinda de países diferentes, fica cada vez mais eminente como a mídia de cada país funciona para proteger seu estado. A mídia tem sido usada para desumanizar os supostos inimigos, manipular o público em acreditar em causas para a guerra e assim garantir poder e de alguma maneira enfraquecer os inimigos e proteger o Estado.

Um exemplo seria os Estados Unidos, considerado no passado e no momento o mais poderoso país do mundo. Que usa o poder da mídia para manipular seus interesses, criar motivo para as suas guerras e no final garantir a sua soberania e proteção sobre os outros estados. Existem vários casos já admitidos pela Casa Branca de mídia manipulada pelos Estados Unidos. Um dos primeiros casos foi o da Primeira Guerra Mundial.

Os Estados Unidos entrou na Primeira Guerra Mundial logo após o barco da Lusitania ter sido afundado (um barco Britânico levando passageiros Americanos) por Alemães na costa da Irlanda, matando mais de 1,000 passageiros. Mais oque o publico na época não foi informado, foi que o navio carregava materiais militares. Apenas o que foi relatado pela mídia foi que o ataque surgiu do nada por um inimigo maníaco, e assim o publico foi levado à guerra. Essa mídia manipulada provavelmente foi causada por que o estado americano vivia em um clima tenso aonde não era tão estável o seu poder político e a dominação de Hitler pela Europa estava cada vez maior. Estados Unidos viu uma chance de entrar nessa guerra para proteger seu estado e também caso houve-se vitória conseguisse um poder politico mais forte e a soberania sobre os países da Europa que se encontrava no auxilio do Estado americano.

Esse é um exemplo de vários de como a mídia é manipulada para o interesse do Estado. Os estados vão sempre procurar um jeito de enfraquecer os outros estados, e ter o consenso do seu povo para as suas decisões. Com a introdução da mídia nas guerras ficou ainda mais fácil manipular e assustar os oponentes, afinal nem tudo que esta escrita, pode estar correta. Nos dias de hoje os Estados Unidos (exemplo sendo usado nessa análise) vive em constante preocupação em proteger seu Estado e manter a sua soberania sobre os outros países, e com as mídias fica ainda mais fácil.

Há algum tempo, que o estado do Irã (país que se encontra em conflito com os Estados Unidos) veem ameaçando uma possível força nuclear capaz de destruir grandes partes do mundo e em especial o seu maior oponente os Estados Unidos. Ainda não se foi visto testes e os locais onde se fazem tais bombas. Algo que pode estar sendo manipulado pela mídia Iraniana para garantir o Irã alguma soberania sobre o mundo, e também poder manipular os Americanos e outros estados do seu interesse para agir da maneira que desejam e assim influenciar de sua maneira o mundo. O Irã era visto como um país como menos poder, e viveu uma guerra recente com os Estados Unidos, o qual se acredita ter sido explorado. Com essa ameaça de bombas nucleares o Irã perde um pouco o sentimento de dominação dos Estados Unidos e recebe um grande poder e a segurança de não se obter mais “exploração” dos Estados Unidos.

Esses exemplos mostram como as mídias veem influenciando os caminhos das guerras, e não só isso o poder mundial. Dependendo do país o qual você ler o jornal a informação vai estar manipulada de maneira para obter ganhos e benefícios do interesse desse estado e a influência sobre o povo que habitam tal país para assim obter sucesso em ganho de poder, e proteção do estado. Não é possível julgar se essa manipulação pode ser positiva ou negativa, pois têm que sempre levar em consideração que a politica internacional possui suas próprias leis morais, que não se confundem com as que regem o comportamento do cidadão. A ética política do governante não deve ser avaliada conforme as leis abstratas universais, porém, a partir das responsabilidades que o governante têm para como o povo que representa.

À medida que as tecnologias vão avançando a mídia veem ganhando ainda mais poder sobre a opinião publica, e os estados as usam na procura do que eles consideram o melhor para si. O meio internacional vai ser sempre conflituoso, e as guerras vão sempre existir, como a mídia vai ser sempre manipulada pelo interesse do estado. Não se pode acreditar em tudo que se ler, e sim ter um entendimento próprio e uma opinião própria de cada assunto, pois se não, se cai na teia de aranha do poder da mídia e da politica de influenciar da maneira necessária para se obter poder.

A tendência de terceirização de exércitos em conflitos internacionais

(Caroline Welter)

      Desde séculos passados, Nicolau Maquiavel aconselhou o Príncipe, para se manter no poder, ter um exército regular e próprio. Nesta época, o século XVI, os Estados nacionais ainda estavam em formação e a mobilização de voluntários para a defesa militar de seus Estados ainda era incerta. A solução mais popular era a utulização de mercenários. Porém, Maquiavel achava essa prática muito duvidosa, pois podia facilmente se transformar em chantagem por parte deste corpo de combatentes, e até mesmo rebeliões contra o Príncipe, além da motivação ser tradicionalmente baixa.

Com o estabelecimento dos Estados nacionais, a ideologia do nacionalismo forneceu um poderoso elemento para a mobilização de soldados, motivados pela necessidade de defesa da "nação". A era dos Estados nacionais e do nacionalismo foi também a era de grandes conflitos nacionalistas apoiados em exércitos nacionais permanentes.

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, os EUA estão utilizando cada vez mais a fórmula de terceirizar funções de segurança através da contratação de novas formas de "mercenários", como empresas especializadas em segurança.

No ano de 2011, os EUA retiraram suas tropas do Iraque e aos poucos, os soldados também foram saindo e se retirando do Afeganistão. Uma parte das "forças de segurança" tem sido garantidas pela contratação de "consultores" privados, essa nova forma contemporânea de mercenários. Nesses casos, a estratégia militar foi usada para estabilizar esses países, porém o seu cenário inda é de guerra civil, com grande e constantes ameaças de atentados e enfrentamentos, sejam urbanos ou rurais.

O Iraque, que é um país com enorme riqueza de petróleo, não possui forças armadas capacitadas de experiência e preparo para manter a necessária segurança dos poços de exploração, seus dutos e do próprio governo. Essa situação incentivou que a administração da segurança do país fosse também apoiada na contratação de empresas de segurança privada.

A terceirização desses serviços das forças armadas é uma ótima oportunidade para os contratados. A maioria das empresas prestadoras desse serviço de segurança são americanas, nos quais seus sócios são ex-oficiais ou ex-combatentes americanos. Seus salários são altos, sendo proporcionais ao risco que eles correm, como por exemplo, a segurança de ministros podem chegar a render mais de cem mil dólares por mês.

No Haiti também ocorre à terceirização de exércitos. Muitos países que possuem a política e o exército fraco utilizam essa prática de compra, para garantir a defesa de suas vidas e patrimônios.

Os países que compram esse serviço creem, que algum dia, poderão ter seus próprios exércitos e políticas organizadas, para que breve não precisem mais contratar esse tipo de serviço. Entretanto, isso pode demorar mais tempo que o imaginável, pois é um caso do Estado, do qual deve criar uma nova instituição e mante-la.

Os terceirizados possuem as funções de ações de inteligência, vigilância, controle, segurança de embaixadas e consulados, e instalações estratégicas, entre outros. Eles não recebem indenizações ou pensões por ferimentos, e muito menos suas famílias. Suas mortes não são notícias perante a mídia.

Esses novos soldados da fortuna e policiais terceirizados mudam a realidade de diversos Estados, e também do que se sabe sobre força de segurança publica. Alguns afirmam que o mercado de segurança privada esta levando-nos ao mundo pré-Estatal, ou ao pós-Estatal.

Os desafios da reforma da ONU

(Jessica Abrahão)

      Criada no período pós Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas é composta hoje por representantes de quase todos os países do mundo. Esta nasceu da necessidade de encontrar uma forma de manter a paz entre os países, ainda mais depois da devastação deixada pela guerra.

Teve seu nome proposto pelo presidente estadunidense Franklin Roosevelt, o qual foi utilizado pela primeira vez na Declaração das Nações Unidas, que foi elaborada por representantes de 50 países em 12 de Janeiro de 1942, quando 26 deles assinaram-na e comprometeram-se em continuar lutando contra as potencias do Eixo (Alemanha, Itália e Japão, países que foram marcados, na época, pelas doutrinas nazifascistas e totalitaristas, consideradas ameaças à humanidade). A ONU hoje possui 193 países, tendo ainda como os objetivos principais aqueles presentes na primeira carta, que foram: a defesa dos direitos fundamentais do ser humano, garantir a paz mundial, colocando-se contra qualquer tipo de conflito armado, a busca de mecanismos que promovam o progresso social das nações e a criação de condições que mantenham a justiça e o direito internacional.

A sua proposta inicial era a criação de uma cúpula onde, em sua assembleia principal, todos os países participantes possuíssem o mesmo peso e fossem considerados iguais. Tal teoria nascia da necessidade de representatividade de certos países, por mais que não possuíssem muita força no meio internacional. Com essa proposta, tanto países que não apresentam grande força ativa no cenário internacional, como Gâmbia e Guiné-Bissau, teriam a mesma força de voto quanto países como França e Alemanha.

Entretanto, a Organização das Nações Unidas não é composta apenas pela sua Assembleia Geral, mas também pelo seu Secretariado (sendo seu órgão administrativo), Corte Internacional (ou Tribunal Internacional de Justiça, seu órgão Judiciário), Conselho Econômico e Social (destinado ao estudo das questões relativas à saúde, organização econômica, social, etc) e o Conselho de Segurança (preza por zelar a manutenção da paz internacional).

Chamando mais atenção do que os outros órgãos do grupo que compõem a Organização das Nações Unidas, o Conselho de Segurança é composto por 15 países membros, sendo que 5 deles possuem cadeira permanente (Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China) e os outros 10 são rotativos, os quais possuem apenas o poder de voto normal, enquanto os 5 países fixos possuem poder de veto dentre as votações do Conselho.

Contudo, por mais que tenha sido minuciosamente estruturada, a quebra de muitos paradigmas no cenário internacional tem abalado as concepções sobre a Organização. Fatores como o esvaziamento da casa e a perda de sua credibilidade, devido à ineficiência na resolução de soluções para alguns problemas vigentes tem, ao longo dos anos, afetado a sua imagem perante o sistema internacional. Um dos grandes exemplos de fatos que abalaram a sua imagem foi quando, em 2003, os Estados Unidos propôs no Conselho de Segurança uma ação intervencionista de caráter preemptivo, onde invadiriam o Iraque à procura de armas de destruição em massa, alegando que estas representavam perigo eminente ao seu Estado. Quando votada, tal ação foi vetada, o que, todavia, não impediu que o Estado estadunidense seguisse com os seus planos e invadisse o país, ação que não foi seguida por nenhuma repreensão do Conselho. Como então respeitar um órgão que não consegue regular as atitudes de um dos seus principais participantes?

O esvaziamento da casa, como citado anteriormente, também tem contribuído para as ranhuras feitas na imagem da Organização. As grandes potências, ao longo do tempo, têm percebido que dentro da Assembleia Geral não possuem privilégios devido ao seu poderio econômico e status no cenário internacional. O máximo que podem fazer dentro desta são acordos bilaterais com países menores para que esses votem a favor ou contra certas resoluções, tentando possuir assim a maioria dos votos da casa. Tal situação não é nem um pouco interessante para estes países, fazendo com que migrem para outras organizações que os deem mais ‘reconhecimento’, credibilidade e influência dentro da instituição – como o Fundo Monetário Internacional, por exemplo, no qual o peso da importância de um país é medido de acordo com a contribuição econômica do mesmo para o andamento da instituição – e deixando de contribuir com esta, a qual usa seu fundo para ações humanitárias e sociais.

Além dos Estados, outros grupos tem apresentado grande representatividade no meio internacional. Um grande exemplo são as ONG’s, Organizações Não Governamentais que tem servido como porta-voz da sociedade nos grandes fóruns e cúpulas (nos em que a sua presença é permitida), lembrando os grandes líderes mundiais de problemas relacionados a temas que variam da sociedade até o meio ambiente. Estas tem também servido para mostrar a sociedade civil tudo aquilo que ocorre dentro das reuniões restritas a ela, e deixando bem claro o que cada representante propôs e ratificou, além de pressioná-los para que tomem atitudes a favor de certas causas defendidas por elas. Devido à transparência disponibilizada pelas mesmas e a outras ações que não envolvem somente os grandes encontros internacionais, mas também diversas ações de cunho humanitário, a participação de Organizações Não Governamentais nos Fóruns Internacionais só tende ao crescimento.

No grande desejo das grandes potências de terem um banco como um órgão regulador e mediador das situações no cenário internacional, a ONU ficam cada vez mais perdida no tempo. Por mais que ainda haja a adesão de diversos Estados e a cada vez maior participação da sociedade por meio de ONG’s, é inevitável concordar que a adesão das grandes potencias possui sim caráter essencial para a existência da mesma, levando em consideração que os Estados menores de certa forma acabariam seguindo as grandes potencias econômicas por questão de interesses. Caso isso ocorresse, haveria um esvaziamento massivo da Organização ao longo dos anos, e ficaria claro mais uma vez que não há uma igualdade de poderes no sistema internacional, mas sim um acordo inconsciente entre países que mandam porque podem e os que obedecem por terem juízo.

Caso uma solução fosse pensada, uma boa proposta para a mesma seria o aumento da participação da sociedade civil em tais cúpulas, por mais que seja por meio de Organizações sem vínculos com os governos. Com o passar dos anos, quando esta sentisse que possui voz ativa e que as suas propostas podem chegar as mesas redondas que decidem o futuro da humanidade, fará uma pressão, mesmo que indireta, em seu Estado para que este atue de maneira mais engajada nos fóruns onde podem participar de maneira quase mútua – eleitores e eleitos.

Se o mundo tem passado por várias transformações e mostrado o quão mutável pode ser, justamente por ser comandado por homens, a espécie que já é um exemplo de mudança em si, por que não esperar mais uma? Mudanças na Organização das Nações Unidas são sim necessárias, mas não para que haja uma hegemonia dos países mais ricos, mas sim um sistema que nivele as nações não pela sua situação econômica, mas sim pelo principio da igualdade.

A Globalização e as cadeias produtivas internacionais

(Raisa Gaio)

A partir do final da década dos 70, foram intensas as modificações socioeconômicas relacionadas ao processo de internacionalização da economia mundial. É preciso enfatizar que esse processo não é novo. Mas ganhou características inusitadas e um assombroso impulso com o enorme salto qualitativo ocorrido nas tecnologias da informação. Essas mudanças permitiram a reformulação das estratégias de produção e distribuição das empresas e a formação de grandes networks. A forma de organização da atividade produtiva foi radicalmente alterada para além da busca apenas de mercados globais: ela própria passou a ser global.

A revolução tecnológica atingiu igualmente o mercado financeiro mundial, cada mercado passando a funcionar em linha com todos os outros, em tempo real. Isso permitiu a mobilidade de capital requerida pelo movimento de globalização da produção. Essas modificações radicais atingiram o modo de vida de boa parte dos cidadãos, alterando seu comportamento, seus empregos, suas atividades rotineiras de trabalho e seu relacionamento, por exemplo, com bancos e supermercados.

O capitalismo atual é alimentado pela força de suas contradições. De um lado, a enorme escala de investimentos necessários à liderança tecnológica de produtos e processos – e a necessidade de networks e mídias globais – continuará forçando um processo de concentração que habilitará como líderes das principais cadeias de produção apenas um conjunto restrito de algumas centenas de empresas gigantes mundiais. Essas corporações decidirão basicamente o que, como, quando, quanto e onde produzir os bens e os serviços (marcas e redes globais) utilizados pela sociedade contemporânea. Ao mesmo tempo, elas estarão competindo por redução de preços e aumento da qualidade, em um jogo feroz por market share e acumulação. Enquanto essa disputa continuar gerando lucros e expansão, parte da atual dinâmica do capitalismo estará preservada.

Simultaneamente, este processo radical em busca de eficiência e conquista de mercados força a criação de uma onda de fragmentação (terceirizações, franquias e informalização), abrindo espaço para uma grande quantidade de empresas menores que alimentam a cadeia produtiva central com custos mais baixos. Tanto na sua tendência de concentrar como na de fragmentar, a competição opera como o motor seletivo desse processo.

A outra contradição que alimenta o capitalismo contemporâneo é a dialética exclusão versus inclusão. Apesar do desemprego estrutural crescente (incapacidade progressiva de geração de empregos formais em quantidade ou qualidade adequadas), o capitalismo atual garante sua dinâmica também porque a queda do preço dos produtos globais incorpora continuamente mercados (inclusão) que estavam à margem do consumo por falta de renda. Não é à toa que alguns dos maiores crescimentos de várias empresas globais de bens de consumo têm sido registrados nos países periféricos da Ásia e da América Latina, onde se concentra grande parte do mercado dos mais pobres.

O mundo tem assistido, em todas as áreas econômicas, a um violento processo de fusões e incorporações motivado pela nova lógica competitiva, que pressupõe saltos tecnológicos e busca mercados cada vez mais globais. Tudo indica que a tendência de concentração dessas últimas décadas ainda persistirá, apesar de já serem em número muito restrito os líderes mundiais na fabricação de vários produtos em áreas fundamentais à economia contemporânea.

O movimento internacionalização do capital a que se convencionou chamar de “globalização” pode ser entendido por três processos interligados: a integração dos sistemas financeiros nacionais, a intensificação do comércio internacional, e a internacionalização da produção. Embora não seja um processo novo na história do capitalismo, a globalização foi intensificada no último quarto do século XX pela aceleração das mudanças tecnológicas, em especial aquelas relacionadas à informática e às telecomunicações, e pela rápida difusão do modelo de subcontratação de produção. (segundo Renato Baumann: "Economia Internacional", 1996) Esses fatores tornaram possível a terceirização internacional, ampliando as opções de subcontratação para além das fronteiras nacionais. Mais do que isso, representou a possibilidade das grandes corporações de ingressarem nos grandes mercados emergentes e de beneficiar-se de fontes de suprimentos a custos reduzidos, explorando os baixos salários de mão-de-obra qualificada nos países periféricos.

Com isso, a principal característica desse processo globalizante atual é o reforço dos vínculos de interdependência econômica entre empresas, e por extensão entre regiões e países tanto no âmbito produtivo – mediante realização de várias formas de networking, quanto no âmbito econômico. A esse processo de interdependência nas etapas de produção de mercadorias até sua distribuição nacional ou internacional que se nomeiam as Cadeias Produtivas Internacionais.

Conforme Hopkins e Wallerstein (1986), uma cadeia produtiva global para mercadorias pode ser definida como “uma rede de trabalho e processos produtivos cujo resultado final é uma mercadoria”. Para Rabach e Kim (1994), no caso das cadeias produtivas globais dominadas pelos compradores, o estado da arte permanece sub-sistêmico. Um produto inteiramente novo não representa necessariamente um salto tecnológico em relação ao anterior. A ligação à jusante com o setor de serviços seria a característica mais proeminente destas cadeias. Devido ao fato das redes de produção utilizar mercados globais, estas vantagens à jusante nas cadeias produtivas precisam para existir de uma perspectiva internacional. As firmas vencedoras nas cadeias produtivas globais dominadas pelos compradores devem manter múltiplas linhas de produto para obter economias de escala. Para estarem à frente do mercado, elas devem incessantemente modificar, atualizar e substituir sem hesitação cada uma de suas linhas de produto.

Dadas às diferenças regionais existentes dentro de países, estes não seriam a unidade mais apropriada de observação para se analisar a globalização da produção. A evolução do comércio internacional nas últimas três décadas do século XX caracterizou-se, entre outros pontos, pela formação de uma rede de relações comerciais entre firmas atravessando regiões e países. As verdadeiras unidades de comércio não são países, porém empresas e redes de empresas.

Nem todas as empresas atuam mundialmente, porém, as metas estratégicas das empresas, grandes e pequenas, tende a buscar uma maior comercialização onde for possível em todo mundo, tanto diretamente como através de suas conexões com redes que operam no mercado mundial, já que hoje o destino das empresas gira em torno do seu desempenho no mercado mundial.

O dinamismo dos mercados internos dependeria, em última análise, da capacidade das empresas do país e das redes de empresas para competir globalmente. Cada vez mais, a produção global de bens e serviços não é realizada por empresas multinacionais, porém por redes transnacionais de produção, das quais as redes multinacionais são componentes essenciais, porém componentes que não funcionam sem o resto da rede. Além das multinacionais, empresas médias e pequenas em muitos países tornam-se competitivas no sistema globalizado de produção através das cadeias produtivas. Com maior freqüência, as redes de empresas médias e pequenas se tornam sub-contratadas de uma ou várias empresas grandes. De acordo com esta visão, as multinacionais são, cada vez mais, redes internas descentralizadas, organizadas em unidades semi-autônomas, segundo países, mercados, métodos e produtos.

Para Gereffi a diferenciação entre internacionalização e globalização pode ser expressa da seguinte maneira, enquanto a primeira refere-se simplesmente à diversificação da atividade econômica em vários países, a última implica um grau de integração funcional entre estas atividades dispersas pelo mundo. Dessa forma conclui-se que a globalização econômica foi acompanhada da especialização flexível, ou do surgimento de novas formas de organização que muitas vezes são caracterizadas por, entre outros aspectos, pequenos lotes de produção.

A administração das cadeias produtivas é definida como “Maximização aliada ao valor e a redução de total de custos ao longo de todo processo, focando na velocidade e assertividade de resposta rápida às necessidades do mercado”. Ligado à globalização, a administração das cadeias produtivas se tornou uma ferramenta para empresas para competir de maneira efetiva tanto no nível local quanto em escala global. A administração das cadeias produtivas se tornou uma necessidade especialmente para a indústria manufatureira quando esta precisa distribuir seus produtos a preços competitivos no mercado e de qualidade superior aos seus concorrentes.

Não obstante, aliado à questão de regulamentação, a dinâmica das cadeias produtivas também tem impacto na capacidade de competir e na possibilidade de inserção em mercados globais e na possibilidade de upgrading, conforme sugerem diversos autores (Gereffi, 1994 e 2001)

Porter (1990) expõe que outro dilema que governos e empresas dos países em desenvolvimento enfrentam, é se devem adotar a estratégia de ser um fornecedor de peças para empresas estrangeiras ou procurar desenvolver uma estratégia global. Na prática a maioria dos países usa uma combinação das duas possibilidades, mas os pesos podem variar. Na moderna competição internacional, a empresa deve aumentar seletivamente suas vantagens ou compensar suas desvantagens da base nacional através de atividades em outros países. É disso que deveria tratar a estratégia global.

Há quem veja dicotomia entre as necessidades do país (e de seus cidadãos) e as necessidades das empresas. Se as empresas investem, ou se abastecem, no exterior, isto seria considerado prejudicial para o país. A globalização da estratégia e o abastecimento no exterior de produtos e componentes menos sofisticados seriam fundamentais para o processo de tornar as vantagens competitivas mais sofisticadas e aprimorar uma economia.

Numa economia, o processo de aprimoramento e a internacionalização não ameaçam os empregos locais, mas aumentam sua produtividade. A internacionalização também torna a economia menos sensível às taxas de câmbio. Segundo Schoenberger (1994), para que as empresas permaneçam efetivamente engajadas no mercado internacional, seria necessário também produzir no exterior. Esta necessidade seria justificada pelos obstáculos políticos e pela necessidade de responder rapidamente ao caráter específico e dinâmico da demanda nos mercados externos.

Contudo o contínuo avanço tecnológico global não parece estar garantindo que as sociedades futuras possam gerar, unicamente por mecanismos de mercado, postos de trabalho – ainda que flexíveis – compatíveis em qualidade e renda com as necessidades básicas da população mundial. A lógica da globalização e do fracionamento das cadeias produtivas incorporou parte dos bolsões de mão-de-obra barata mundiais sem necessariamente elevar-lhes a renda.

O poder da mídia no cenário político internacional

(Lucas Cilento)

      A fragmentação do poder é uma característica marcante do cenário internacional contemporâneo. Nas últimas décadas, o surgimento de novos atores, além de refletir a sua complexidade, sugere que o estudo das Relações Internacionais implica acompanhar a desse sistema. Foi diante dessa observação que o estudo da mídia como um ator, nesse meio, se mostrou relevante. ­Apesar de o envolvimento dos meios de comunicação nas questões internacionais ser um fenômeno recente — possui menos de um século — é possível afirmar que a relação estabelecida entre eles e a vida internacional não se trata de algo efêmero. A caracterização do papel e do poder da mídia no contexto de surgimento de novos atores das Relações Internacionais é um grande desafio. Diante das novas tecnologias da informação e comunicação diversas mudanças ocorreram no cenário internacional e no exercício do poder político contemporâneo. O protagonismo da mídia na utilização do soft power é constante, ocorrendo de diferentes e diversas formas, tentando sempre voltar a população ou até mesmo um estado contra ou a favor de uma determinada causa. Vale também ser falado sobre a expansão da comunicação política internacional e as implicações da inserção das novas mídias, como a Internet, e dos novos desafios oriundos da era da informação em rede no então atual cenário globalizado.

A influência da mídia é sempre lembrada no campo politico, pois a mídia sempre apoia um certo candidato, ou um governo, uma posição de política externa. Assim temos dois diferentes tipos de influência da mídia na política, seja ela interna ou externa. Quando o governo adota uma politica incerta, onde invariavelmente a exposição do governo a críticas e excessiva atenção midiática. Assim as noticias são criticamente enquadradas defendendo um determinado curso de ação, como no caso do impeachment de Fernando Collor, onde a mídia influenciou os jovens a irem as ruas pedir a deposição, assim fazendo com que o governo mude a postura a fim de não enfrentar um desastre na relação pública. Seja como for, nota-se que nada e ninguém está aquém das mídias.

Em muitos países, o governo local possui um quase total controle sobre a agenda da mídia, ou ao menos da maior parte delas, fazendo com que sem o apoio das maiores cadeias de transmissores de informações as massas, a pequena parte que crítica tenha pouca ou nenhuma influencia sobre a política.

Informação sempre foi sinônimo de poder. Basta lembrarmos qual instituição garantiu a unidade cultural da Europa e foi a grande responsável pela conservação e transmissão de conhecimento durante a idade média: a Igreja, que moveu populações inteiras as guerras e a absurdos como a inquisição. Provando assim que o poder das mídias diante das relações internacionais não veio dos anos recentes, mas é tão antiga quanto as relações entre Estados.

É certo que a liberdade de expressão é um direito fundamental de todo indivíduo, mas também é certo que em bom número de países essa liberdade de acesso a informações ainda é muito limitado. Em questões como o movimento pela autonomia do Tibet, a questão da mídia se transformou em importante front, com censuras internas na China e grande difusão no Ocidente.

Regimes autoritários muitas vezes têm se mostrado competentes no que diz respeito à promoção do crescimento econômico ao longo da história, como foi o caso da Alemanha Nazista, que apesar de ter se traduzido como um regime desumano reergueu o país economicamente ou como no caso do período denominado milagre econômico ocorrido durante o governo militar brasileiro, assim mostrando que a privação do direito de liberdade de expressão tem também seu caráter benéfico à nação, mas continuando assim a ser maléfico à população, ao alienar seus cidadãos em prol da proteção do governo vigente.

O país oriental tenta ampliar sua influência não apenas controlando a própria população, mas estendendo também suas influências para além do território nacional. A fim de aumentar o chamado “soft power”, ou a capacidade do Estado de influenciar comportamentos e interesses de outros. A China vem, estrategicamente, investindo em acordos de cooperação e difusão de informação- aí, dando destaque ao rádio, um importante meio de conscientização popular- principalmente no continente africano. Por meio da "CNC World", o país pretende difundir uma visão chinesa dos acontecimentos internacionais, contando com uma linha editorial apoiada em orientações diplomáticas governamentais. Entrando, assim como o estado, que é considerado o maior construtor de informações do mundo, os Estados Unidos da América, que agora além de competir com a China no plano econômico mundial, vai ter que passar a se preocupar com o controle midiático, que até então havia sido quase que exclusividade americana.

Assim, concluímos que a mídia pode ser um importante ator das relações internacionais, lembrando seu caráter instrumental, parcial, em prol sempre de quem governa, das políticas governamentais, e dos interesses dominantes.

O crime organizado e as Relações Internacionais

(Sara de Morais)

      O crime organizado atua nas mais diversas áreas das Relações Internacionais. Possui uma estrutura hierarquizada, com regras internas, tem uma estrutura de forma não planejada, e a maioria das organizações com esse modelo no cenário internacional formam uma rede e extremamente fortalecida pelo fator econômico. Esse tipo de crime é marcado pelo fato de ser prolongado e sistemático ao invés de uma atividade de natureza organizada, é seu envolvimento com poder, política e sociedade que o faz o que é, não a organização em si. Assim, o crime organizado pode ser compreendido como uma organização, cujo funcionamento é semelhante ao de uma empresa internacional, pratica uma divisão muito aprofundada de tarefas, todas concebidas de maneira metódica e duradoura, procurando obter lucros tão elevados quanto possível, cometendo infrações e participando da economia legal. Para isso, a organização recorre à violência, à intimidação, e tenta exercer sua influência na política e na economia.

Inicialmente, fatores como a desigualdade social e pobreza são fatores decisivos que levam a existência de grupos inicialmente desorganizados, mas que se organizam e formam associações criminosas. Conquistam dentro da sociedade, maior espaço e legitimidade para atuar. O afastamento do Estado da sociedade também contribui para que permite que essas organizações consigam dominar diversos setores, inclusive o econômico, ficando extremamente fortes. Determinadas organizações, como o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho, no Brasil, mantém conexões com os centros internacionais produtores de droga, como Bolívia, Colômbia, Paquistão e Afeganistão.

Na Europa e América do Norte, temos dois ambientes em que há grande consumo de drogas, embora isso também ocorra em outras regiões. A riqueza e o poderio dessas fazem com que a demanda de narcóticos seja alta e interesse outras áreas a produzir e transportar esses produtos. A forte repressão e fiscalização do tráfico dentro destes continentes dificultam a produção de droga nos mesmos, contudo, incentivam a rota internacional de narcóticos, como se pode notar até mesmos casos de submarinos utilizados para o transporte, como registrado na tráfico entre Colômbia e EUA.

Um grande empecilho do combate ao narcotráfico nos EUA é a autonomia dos seus estados-membros, isso impossibilita a centralização das decisões e legislações. Também as drogas tidas como medicinais (maconha, por exemplo) na Europa e nos EUA torna-se outro fator de peso que vai de encontro às barreiras impostas ao tráfico.

O crime organizado está vinculado a instituições políticas, pessoas e processos, e apenas pode sobreviver porque algumas atividades são proibidas e a busca por lucro tem proteção ou patrocínio de políticos, oficiais e policiais. A democracia e a mudança de economia planificada para a de mercado trouxe consigo um processo de criminalização nas esferas econômica e política. Esse processo ameaça a sobrevivência da democracia, também a competição aberta, o regime das leis, a legitimidade de instituições democráticas, a liberdade de participação e informação, o contorno do conflito de interesses, bem como outras instituições pertinentes a regimes democráticos.

Nos EUA, exaustivas evidências mostram a persistência de uma ligação próxima entre crime organizado e política desde a época da independência. Um estudo recente nos EUA mostra que a “tríplice aliança” (políticos, polícia e crime organizado), ainda existente, costuma ter sua iniciativa advinda dos políticos, de forma a estes tentarem controlar e cooptar as atividades criminosas.

O México oferece um caso mais consistente para refletirmos sobre a ligação entre crime e política num ambiente de transição para a democracia. A relação entre os dois depende de qual das duas forças é a dominante; ou os políticos manipulam os criminosos e os descartam quando não são mais necessários, ou o lado criminoso manipula os políticos para enriquecer e fornecer proteção. Esse modelo, conhecido como de “exploração da elite”, confere aos políticos a oportunidade de controlar o crime do alto; o padrão bem estabelecido “patrão-cliente” no país torna compreensível a criminalidade, embora esse padrão seja ameaçado de alguma forma pela democracia.

O caso italiano merece ser citado, recordando o vocábulo “máfia”, tomado como sinônimo de crime organizado. Apesar de sua diversidade, os grupos mafiosos têm memorável e duradoura relação com os políticos italianos em vários níveis. Surgidos na época da consolidação do Estado italiano os grupos da máfia se utilizaram de remanescentes estruturas feudais, cresceram portanto com relação ao Estado, em forma de poder paralelo, sendo, entretanto, complementar, e colaborando com ele. Aos políticos, os mafiosos ofereciam serviços e obtinham favores em troca, criando alianças baseadas em valores comuns entre ambos. Contudo, nas últimas décadas, as mudanças conjunturais trouxeram alterações na ordem das máfias, por exemplo, a duradoura associação entre o grupo “Cosa Nostra” e o partido Cristão Democrático (CD) se desfez, levando o crime organizado a apoiar, a partir de então, diversos partidos. A cultura da honra se desfez; a busca do lucro passou a trazer mais prestígio; desse modo, a subcultura compartilhada pelos dois grupos também sumiu.

Quanto ao crime transnacional, este parece ter ganhado mais atenção depois do fim da Guerra Fria. Sua expansão se dá paralelamente à da globalização econômica. A situação, ameaçadora para as democracias, inclusive as já consolidadas, é de tal modo que o poder político e econômico parece fluir dos governos ao redor do mundo para as mãos das corporações transnacionais de crime organizado. A tecnologia e o mercado global de drogas e dinheiro impedem os Estados de proteger suas sociedades de crime e criminosos. Hoje a questão é pertinente não só às agências de segurança e por transgredir a lei; concerne também aos planejadores militares.

O crime organizado nunca se afastará por completo, principalmente por ser protegido pelo meio político e por prover a demanda de bens e serviços não disponíveis de outro modo.