quarta-feira, 20 de junho de 2012

Esporte e Relações Internacionais

(Breno Souza de Freitas)

      As competições esportivas que envolvem países de diferentes partes do mundo, pessoas de diferentes nacionalidades, ideologias divergentes, têm como objetivo básico tentar celebrar simbolicamente a paz ou, pelo menos, como dizem os teóricos realistas, a ausência de conflitos. Este é o discurso dos organizadores, imprensa e líderes em relação aos grandes eventos esportivos internacionais. Essa é a idéia de seu símbolo, os cinco anéis unidos, representando a união entre os cinco continentes do globo.

Os esportes estão inseridos nas relações internacionais desde antes de Cristo, com os jogos olímpicos. Eles foram criados na Grécia, aproximadamente em 2500 a.C., onde apenas os povos helênicos participavam para homenagear seus deuses. Somente em 776 a.C. outras cidades-estado começaram a participar destes jogos.

Na era moderna, inspirados pelas Olimpíadas gregas, foi criada uma organização não-governamental (ONG) chamada Comitê Olímpico Internacional, no ano de 1894, para organizar e promover a competição. Atualmente, mais de 150 países participam dos Jogos Olímpicos, incluindo países totalmente divergentes, como Iraque e E.U.A., reuniu países antagônicos mesmo durante da guerra fria.

Os Jogos Olímpicos se desenvolveram a partir da idéia da universalidade, a ponto de quase todas nações serem representadas. Mas junto com ele cresceu também o número de problemas. Muitas vezes, no lugar da celebração, ele foi palco de tensões internacionais, verificando boicotes políticos, corrupção de agentes públicos, protestos étnicos, e até casos de terrorismo, como nas Olimpíadas de Munique, Alemanha, em 1972, onde um grupo terrorista palestino, conhecido como Setembro Negro, assassinou atletas israelenses.

Da simbologia da paz à teatralização dos conflitos internacionais. Diversos eventos acabaram a história dos Jogos Olímpicos, como a encenação de pretensões imperiais de potências emergentes, como tentativa de hegemonia esportiva nos Jogos de 1936, em Berlim, capital hitlerista, mesmo diante do percalço de vitórias de Jesse Owens no atletismo, o oposto do ideal racial ariano.

Ao mesmo tempo, os Jogos da paz não puderam resistir às guerras de fato e 3 edições foram canceladas em função dos conflitos mundiais, em 1916, 1940 e 1944.

Durante a Guerra Fria também fatos marcantes ocorreram, que envolveram as duas grandes superpotências da época, os norte-americanos e o soviéticos. Além de liderarem dois amplos bloqueios coletivos aos jogos de Moscou (1980) e Los Angeles (1984), demonstrando na prática a política de alinhamentos de blocos, várias batalhas simbólicas da guerra fria foram travadas nos terrenos de jogo, refletindo a tensão e o cenário internacional conturbado. A guerra fria esportiva foi travada em célebre batalhas esportivas, como a vitória americana no hóquei de gelo sobre os soviéticos e a vitória soviética na final olímpica do basquete.

Outra peculiaridade é que os Jogos em muitos casos são utilizados pelo país organizador como um instrumento de reafirmação de sua projeção emergente na cena internacional. Esta motivação de afirmação emergente pode ser detectada na Itália democrática e confiante (Roma 1960), no Japão reconstruído, performante e inserido na ordem ocidental (Tokio 1964), na América latina confiante dos anos 60 (México 1968), na nova democrática e poderosa Alemanha (Munique 1972), na potência soviética de projeção mundial (Moscou 1980), na emergente e rica Coréia (Seul 1988), na Espanha moderna em meio do milagre econômico (Barcelona 1992) e na demonstração de superioridade mundial da nova China (Beijing 2008).

Porém a Olimpíada não é o único evento com uma grande representatividade internacional. Sem dúvida nenhuma, a Copa do Mundo de futebol é o maior evento midiático do planeta. De maneira semelhante, regimes pretensiosos utilizam a organização para teatralizar suas pretensões (Italia 1934 ou Argentina 1978), nações emergentes visam reafirmar internacionalmente suas novas capacidades (México 1970, Alemanha 1974, Espanha 1982). Tão próximo da política andam os Mundiais de futebol que, significativamente, depois da desastrosa guerra que dividiu o continente europeu, a primeira Copa no continente só poderia ter sido realizada na Suíça

Além desses dois eventos, o terceiro maior é a Copa do mundo de Rugby, formando assim, a lista das três maiores competições internacionais, que, respectivamente, são os jogos olímpicos, a Copa do mundo de futebol e a Copa do mundo de Rugby. Esses três são os maiores por serem transmitidos em grande parte do mundo. Embora muito dediquem muita atenção aos Jogos Pan-americanos, este trata-se apenas de um pequeno evento regional.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Mídias e guerras

(Roberta Helcias)

Com a tecnologia cada vez mais evoluída, e os meios de comunicações cada vez mais rápidos a mídia vem tomando um imenso papel nas guerras. Com esses novos meios de tecnologia e a internet para passar informações vinda de países diferentes, fica cada vez mais eminente como a mídia de cada país funciona para proteger seu estado. A mídia tem sido usada para desumanizar os supostos inimigos, manipular o público em acreditar em causas para a guerra e assim garantir poder e de alguma maneira enfraquecer os inimigos e proteger o Estado.

Um exemplo seria os Estados Unidos, considerado no passado e no momento o mais poderoso país do mundo. Que usa o poder da mídia para manipular seus interesses, criar motivo para as suas guerras e no final garantir a sua soberania e proteção sobre os outros estados. Existem vários casos já admitidos pela Casa Branca de mídia manipulada pelos Estados Unidos. Um dos primeiros casos foi o da Primeira Guerra Mundial.

Os Estados Unidos entrou na Primeira Guerra Mundial logo após o barco da Lusitania ter sido afundado (um barco Britânico levando passageiros Americanos) por Alemães na costa da Irlanda, matando mais de 1,000 passageiros. Mais oque o publico na época não foi informado, foi que o navio carregava materiais militares. Apenas o que foi relatado pela mídia foi que o ataque surgiu do nada por um inimigo maníaco, e assim o publico foi levado à guerra. Essa mídia manipulada provavelmente foi causada por que o estado americano vivia em um clima tenso aonde não era tão estável o seu poder político e a dominação de Hitler pela Europa estava cada vez maior. Estados Unidos viu uma chance de entrar nessa guerra para proteger seu estado e também caso houve-se vitória conseguisse um poder politico mais forte e a soberania sobre os países da Europa que se encontrava no auxilio do Estado americano.

Esse é um exemplo de vários de como a mídia é manipulada para o interesse do Estado. Os estados vão sempre procurar um jeito de enfraquecer os outros estados, e ter o consenso do seu povo para as suas decisões. Com a introdução da mídia nas guerras ficou ainda mais fácil manipular e assustar os oponentes, afinal nem tudo que esta escrita, pode estar correta. Nos dias de hoje os Estados Unidos (exemplo sendo usado nessa análise) vive em constante preocupação em proteger seu Estado e manter a sua soberania sobre os outros países, e com as mídias fica ainda mais fácil.

Há algum tempo, que o estado do Irã (país que se encontra em conflito com os Estados Unidos) veem ameaçando uma possível força nuclear capaz de destruir grandes partes do mundo e em especial o seu maior oponente os Estados Unidos. Ainda não se foi visto testes e os locais onde se fazem tais bombas. Algo que pode estar sendo manipulado pela mídia Iraniana para garantir o Irã alguma soberania sobre o mundo, e também poder manipular os Americanos e outros estados do seu interesse para agir da maneira que desejam e assim influenciar de sua maneira o mundo. O Irã era visto como um país como menos poder, e viveu uma guerra recente com os Estados Unidos, o qual se acredita ter sido explorado. Com essa ameaça de bombas nucleares o Irã perde um pouco o sentimento de dominação dos Estados Unidos e recebe um grande poder e a segurança de não se obter mais “exploração” dos Estados Unidos.

Esses exemplos mostram como as mídias veem influenciando os caminhos das guerras, e não só isso o poder mundial. Dependendo do país o qual você ler o jornal a informação vai estar manipulada de maneira para obter ganhos e benefícios do interesse desse estado e a influência sobre o povo que habitam tal país para assim obter sucesso em ganho de poder, e proteção do estado. Não é possível julgar se essa manipulação pode ser positiva ou negativa, pois têm que sempre levar em consideração que a politica internacional possui suas próprias leis morais, que não se confundem com as que regem o comportamento do cidadão. A ética política do governante não deve ser avaliada conforme as leis abstratas universais, porém, a partir das responsabilidades que o governante têm para como o povo que representa.

À medida que as tecnologias vão avançando a mídia veem ganhando ainda mais poder sobre a opinião publica, e os estados as usam na procura do que eles consideram o melhor para si. O meio internacional vai ser sempre conflituoso, e as guerras vão sempre existir, como a mídia vai ser sempre manipulada pelo interesse do estado. Não se pode acreditar em tudo que se ler, e sim ter um entendimento próprio e uma opinião própria de cada assunto, pois se não, se cai na teia de aranha do poder da mídia e da politica de influenciar da maneira necessária para se obter poder.

A tendência de terceirização de exércitos em conflitos internacionais

(Caroline Welter)

      Desde séculos passados, Nicolau Maquiavel aconselhou o Príncipe, para se manter no poder, ter um exército regular e próprio. Nesta época, o século XVI, os Estados nacionais ainda estavam em formação e a mobilização de voluntários para a defesa militar de seus Estados ainda era incerta. A solução mais popular era a utulização de mercenários. Porém, Maquiavel achava essa prática muito duvidosa, pois podia facilmente se transformar em chantagem por parte deste corpo de combatentes, e até mesmo rebeliões contra o Príncipe, além da motivação ser tradicionalmente baixa.

Com o estabelecimento dos Estados nacionais, a ideologia do nacionalismo forneceu um poderoso elemento para a mobilização de soldados, motivados pela necessidade de defesa da "nação". A era dos Estados nacionais e do nacionalismo foi também a era de grandes conflitos nacionalistas apoiados em exércitos nacionais permanentes.

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, os EUA estão utilizando cada vez mais a fórmula de terceirizar funções de segurança através da contratação de novas formas de "mercenários", como empresas especializadas em segurança.

No ano de 2011, os EUA retiraram suas tropas do Iraque e aos poucos, os soldados também foram saindo e se retirando do Afeganistão. Uma parte das "forças de segurança" tem sido garantidas pela contratação de "consultores" privados, essa nova forma contemporânea de mercenários. Nesses casos, a estratégia militar foi usada para estabilizar esses países, porém o seu cenário inda é de guerra civil, com grande e constantes ameaças de atentados e enfrentamentos, sejam urbanos ou rurais.

O Iraque, que é um país com enorme riqueza de petróleo, não possui forças armadas capacitadas de experiência e preparo para manter a necessária segurança dos poços de exploração, seus dutos e do próprio governo. Essa situação incentivou que a administração da segurança do país fosse também apoiada na contratação de empresas de segurança privada.

A terceirização desses serviços das forças armadas é uma ótima oportunidade para os contratados. A maioria das empresas prestadoras desse serviço de segurança são americanas, nos quais seus sócios são ex-oficiais ou ex-combatentes americanos. Seus salários são altos, sendo proporcionais ao risco que eles correm, como por exemplo, a segurança de ministros podem chegar a render mais de cem mil dólares por mês.

No Haiti também ocorre à terceirização de exércitos. Muitos países que possuem a política e o exército fraco utilizam essa prática de compra, para garantir a defesa de suas vidas e patrimônios.

Os países que compram esse serviço creem, que algum dia, poderão ter seus próprios exércitos e políticas organizadas, para que breve não precisem mais contratar esse tipo de serviço. Entretanto, isso pode demorar mais tempo que o imaginável, pois é um caso do Estado, do qual deve criar uma nova instituição e mante-la.

Os terceirizados possuem as funções de ações de inteligência, vigilância, controle, segurança de embaixadas e consulados, e instalações estratégicas, entre outros. Eles não recebem indenizações ou pensões por ferimentos, e muito menos suas famílias. Suas mortes não são notícias perante a mídia.

Esses novos soldados da fortuna e policiais terceirizados mudam a realidade de diversos Estados, e também do que se sabe sobre força de segurança publica. Alguns afirmam que o mercado de segurança privada esta levando-nos ao mundo pré-Estatal, ou ao pós-Estatal.

Os desafios da reforma da ONU

(Jessica Abrahão)

      Criada no período pós Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas é composta hoje por representantes de quase todos os países do mundo. Esta nasceu da necessidade de encontrar uma forma de manter a paz entre os países, ainda mais depois da devastação deixada pela guerra.

Teve seu nome proposto pelo presidente estadunidense Franklin Roosevelt, o qual foi utilizado pela primeira vez na Declaração das Nações Unidas, que foi elaborada por representantes de 50 países em 12 de Janeiro de 1942, quando 26 deles assinaram-na e comprometeram-se em continuar lutando contra as potencias do Eixo (Alemanha, Itália e Japão, países que foram marcados, na época, pelas doutrinas nazifascistas e totalitaristas, consideradas ameaças à humanidade). A ONU hoje possui 193 países, tendo ainda como os objetivos principais aqueles presentes na primeira carta, que foram: a defesa dos direitos fundamentais do ser humano, garantir a paz mundial, colocando-se contra qualquer tipo de conflito armado, a busca de mecanismos que promovam o progresso social das nações e a criação de condições que mantenham a justiça e o direito internacional.

A sua proposta inicial era a criação de uma cúpula onde, em sua assembleia principal, todos os países participantes possuíssem o mesmo peso e fossem considerados iguais. Tal teoria nascia da necessidade de representatividade de certos países, por mais que não possuíssem muita força no meio internacional. Com essa proposta, tanto países que não apresentam grande força ativa no cenário internacional, como Gâmbia e Guiné-Bissau, teriam a mesma força de voto quanto países como França e Alemanha.

Entretanto, a Organização das Nações Unidas não é composta apenas pela sua Assembleia Geral, mas também pelo seu Secretariado (sendo seu órgão administrativo), Corte Internacional (ou Tribunal Internacional de Justiça, seu órgão Judiciário), Conselho Econômico e Social (destinado ao estudo das questões relativas à saúde, organização econômica, social, etc) e o Conselho de Segurança (preza por zelar a manutenção da paz internacional).

Chamando mais atenção do que os outros órgãos do grupo que compõem a Organização das Nações Unidas, o Conselho de Segurança é composto por 15 países membros, sendo que 5 deles possuem cadeira permanente (Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China) e os outros 10 são rotativos, os quais possuem apenas o poder de voto normal, enquanto os 5 países fixos possuem poder de veto dentre as votações do Conselho.

Contudo, por mais que tenha sido minuciosamente estruturada, a quebra de muitos paradigmas no cenário internacional tem abalado as concepções sobre a Organização. Fatores como o esvaziamento da casa e a perda de sua credibilidade, devido à ineficiência na resolução de soluções para alguns problemas vigentes tem, ao longo dos anos, afetado a sua imagem perante o sistema internacional. Um dos grandes exemplos de fatos que abalaram a sua imagem foi quando, em 2003, os Estados Unidos propôs no Conselho de Segurança uma ação intervencionista de caráter preemptivo, onde invadiriam o Iraque à procura de armas de destruição em massa, alegando que estas representavam perigo eminente ao seu Estado. Quando votada, tal ação foi vetada, o que, todavia, não impediu que o Estado estadunidense seguisse com os seus planos e invadisse o país, ação que não foi seguida por nenhuma repreensão do Conselho. Como então respeitar um órgão que não consegue regular as atitudes de um dos seus principais participantes?

O esvaziamento da casa, como citado anteriormente, também tem contribuído para as ranhuras feitas na imagem da Organização. As grandes potências, ao longo do tempo, têm percebido que dentro da Assembleia Geral não possuem privilégios devido ao seu poderio econômico e status no cenário internacional. O máximo que podem fazer dentro desta são acordos bilaterais com países menores para que esses votem a favor ou contra certas resoluções, tentando possuir assim a maioria dos votos da casa. Tal situação não é nem um pouco interessante para estes países, fazendo com que migrem para outras organizações que os deem mais ‘reconhecimento’, credibilidade e influência dentro da instituição – como o Fundo Monetário Internacional, por exemplo, no qual o peso da importância de um país é medido de acordo com a contribuição econômica do mesmo para o andamento da instituição – e deixando de contribuir com esta, a qual usa seu fundo para ações humanitárias e sociais.

Além dos Estados, outros grupos tem apresentado grande representatividade no meio internacional. Um grande exemplo são as ONG’s, Organizações Não Governamentais que tem servido como porta-voz da sociedade nos grandes fóruns e cúpulas (nos em que a sua presença é permitida), lembrando os grandes líderes mundiais de problemas relacionados a temas que variam da sociedade até o meio ambiente. Estas tem também servido para mostrar a sociedade civil tudo aquilo que ocorre dentro das reuniões restritas a ela, e deixando bem claro o que cada representante propôs e ratificou, além de pressioná-los para que tomem atitudes a favor de certas causas defendidas por elas. Devido à transparência disponibilizada pelas mesmas e a outras ações que não envolvem somente os grandes encontros internacionais, mas também diversas ações de cunho humanitário, a participação de Organizações Não Governamentais nos Fóruns Internacionais só tende ao crescimento.

No grande desejo das grandes potências de terem um banco como um órgão regulador e mediador das situações no cenário internacional, a ONU ficam cada vez mais perdida no tempo. Por mais que ainda haja a adesão de diversos Estados e a cada vez maior participação da sociedade por meio de ONG’s, é inevitável concordar que a adesão das grandes potencias possui sim caráter essencial para a existência da mesma, levando em consideração que os Estados menores de certa forma acabariam seguindo as grandes potencias econômicas por questão de interesses. Caso isso ocorresse, haveria um esvaziamento massivo da Organização ao longo dos anos, e ficaria claro mais uma vez que não há uma igualdade de poderes no sistema internacional, mas sim um acordo inconsciente entre países que mandam porque podem e os que obedecem por terem juízo.

Caso uma solução fosse pensada, uma boa proposta para a mesma seria o aumento da participação da sociedade civil em tais cúpulas, por mais que seja por meio de Organizações sem vínculos com os governos. Com o passar dos anos, quando esta sentisse que possui voz ativa e que as suas propostas podem chegar as mesas redondas que decidem o futuro da humanidade, fará uma pressão, mesmo que indireta, em seu Estado para que este atue de maneira mais engajada nos fóruns onde podem participar de maneira quase mútua – eleitores e eleitos.

Se o mundo tem passado por várias transformações e mostrado o quão mutável pode ser, justamente por ser comandado por homens, a espécie que já é um exemplo de mudança em si, por que não esperar mais uma? Mudanças na Organização das Nações Unidas são sim necessárias, mas não para que haja uma hegemonia dos países mais ricos, mas sim um sistema que nivele as nações não pela sua situação econômica, mas sim pelo principio da igualdade.

A Globalização e as cadeias produtivas internacionais

(Raisa Gaio)

A partir do final da década dos 70, foram intensas as modificações socioeconômicas relacionadas ao processo de internacionalização da economia mundial. É preciso enfatizar que esse processo não é novo. Mas ganhou características inusitadas e um assombroso impulso com o enorme salto qualitativo ocorrido nas tecnologias da informação. Essas mudanças permitiram a reformulação das estratégias de produção e distribuição das empresas e a formação de grandes networks. A forma de organização da atividade produtiva foi radicalmente alterada para além da busca apenas de mercados globais: ela própria passou a ser global.

A revolução tecnológica atingiu igualmente o mercado financeiro mundial, cada mercado passando a funcionar em linha com todos os outros, em tempo real. Isso permitiu a mobilidade de capital requerida pelo movimento de globalização da produção. Essas modificações radicais atingiram o modo de vida de boa parte dos cidadãos, alterando seu comportamento, seus empregos, suas atividades rotineiras de trabalho e seu relacionamento, por exemplo, com bancos e supermercados.

O capitalismo atual é alimentado pela força de suas contradições. De um lado, a enorme escala de investimentos necessários à liderança tecnológica de produtos e processos – e a necessidade de networks e mídias globais – continuará forçando um processo de concentração que habilitará como líderes das principais cadeias de produção apenas um conjunto restrito de algumas centenas de empresas gigantes mundiais. Essas corporações decidirão basicamente o que, como, quando, quanto e onde produzir os bens e os serviços (marcas e redes globais) utilizados pela sociedade contemporânea. Ao mesmo tempo, elas estarão competindo por redução de preços e aumento da qualidade, em um jogo feroz por market share e acumulação. Enquanto essa disputa continuar gerando lucros e expansão, parte da atual dinâmica do capitalismo estará preservada.

Simultaneamente, este processo radical em busca de eficiência e conquista de mercados força a criação de uma onda de fragmentação (terceirizações, franquias e informalização), abrindo espaço para uma grande quantidade de empresas menores que alimentam a cadeia produtiva central com custos mais baixos. Tanto na sua tendência de concentrar como na de fragmentar, a competição opera como o motor seletivo desse processo.

A outra contradição que alimenta o capitalismo contemporâneo é a dialética exclusão versus inclusão. Apesar do desemprego estrutural crescente (incapacidade progressiva de geração de empregos formais em quantidade ou qualidade adequadas), o capitalismo atual garante sua dinâmica também porque a queda do preço dos produtos globais incorpora continuamente mercados (inclusão) que estavam à margem do consumo por falta de renda. Não é à toa que alguns dos maiores crescimentos de várias empresas globais de bens de consumo têm sido registrados nos países periféricos da Ásia e da América Latina, onde se concentra grande parte do mercado dos mais pobres.

O mundo tem assistido, em todas as áreas econômicas, a um violento processo de fusões e incorporações motivado pela nova lógica competitiva, que pressupõe saltos tecnológicos e busca mercados cada vez mais globais. Tudo indica que a tendência de concentração dessas últimas décadas ainda persistirá, apesar de já serem em número muito restrito os líderes mundiais na fabricação de vários produtos em áreas fundamentais à economia contemporânea.

O movimento internacionalização do capital a que se convencionou chamar de “globalização” pode ser entendido por três processos interligados: a integração dos sistemas financeiros nacionais, a intensificação do comércio internacional, e a internacionalização da produção. Embora não seja um processo novo na história do capitalismo, a globalização foi intensificada no último quarto do século XX pela aceleração das mudanças tecnológicas, em especial aquelas relacionadas à informática e às telecomunicações, e pela rápida difusão do modelo de subcontratação de produção. (segundo Renato Baumann: "Economia Internacional", 1996) Esses fatores tornaram possível a terceirização internacional, ampliando as opções de subcontratação para além das fronteiras nacionais. Mais do que isso, representou a possibilidade das grandes corporações de ingressarem nos grandes mercados emergentes e de beneficiar-se de fontes de suprimentos a custos reduzidos, explorando os baixos salários de mão-de-obra qualificada nos países periféricos.

Com isso, a principal característica desse processo globalizante atual é o reforço dos vínculos de interdependência econômica entre empresas, e por extensão entre regiões e países tanto no âmbito produtivo – mediante realização de várias formas de networking, quanto no âmbito econômico. A esse processo de interdependência nas etapas de produção de mercadorias até sua distribuição nacional ou internacional que se nomeiam as Cadeias Produtivas Internacionais.

Conforme Hopkins e Wallerstein (1986), uma cadeia produtiva global para mercadorias pode ser definida como “uma rede de trabalho e processos produtivos cujo resultado final é uma mercadoria”. Para Rabach e Kim (1994), no caso das cadeias produtivas globais dominadas pelos compradores, o estado da arte permanece sub-sistêmico. Um produto inteiramente novo não representa necessariamente um salto tecnológico em relação ao anterior. A ligação à jusante com o setor de serviços seria a característica mais proeminente destas cadeias. Devido ao fato das redes de produção utilizar mercados globais, estas vantagens à jusante nas cadeias produtivas precisam para existir de uma perspectiva internacional. As firmas vencedoras nas cadeias produtivas globais dominadas pelos compradores devem manter múltiplas linhas de produto para obter economias de escala. Para estarem à frente do mercado, elas devem incessantemente modificar, atualizar e substituir sem hesitação cada uma de suas linhas de produto.

Dadas às diferenças regionais existentes dentro de países, estes não seriam a unidade mais apropriada de observação para se analisar a globalização da produção. A evolução do comércio internacional nas últimas três décadas do século XX caracterizou-se, entre outros pontos, pela formação de uma rede de relações comerciais entre firmas atravessando regiões e países. As verdadeiras unidades de comércio não são países, porém empresas e redes de empresas.

Nem todas as empresas atuam mundialmente, porém, as metas estratégicas das empresas, grandes e pequenas, tende a buscar uma maior comercialização onde for possível em todo mundo, tanto diretamente como através de suas conexões com redes que operam no mercado mundial, já que hoje o destino das empresas gira em torno do seu desempenho no mercado mundial.

O dinamismo dos mercados internos dependeria, em última análise, da capacidade das empresas do país e das redes de empresas para competir globalmente. Cada vez mais, a produção global de bens e serviços não é realizada por empresas multinacionais, porém por redes transnacionais de produção, das quais as redes multinacionais são componentes essenciais, porém componentes que não funcionam sem o resto da rede. Além das multinacionais, empresas médias e pequenas em muitos países tornam-se competitivas no sistema globalizado de produção através das cadeias produtivas. Com maior freqüência, as redes de empresas médias e pequenas se tornam sub-contratadas de uma ou várias empresas grandes. De acordo com esta visão, as multinacionais são, cada vez mais, redes internas descentralizadas, organizadas em unidades semi-autônomas, segundo países, mercados, métodos e produtos.

Para Gereffi a diferenciação entre internacionalização e globalização pode ser expressa da seguinte maneira, enquanto a primeira refere-se simplesmente à diversificação da atividade econômica em vários países, a última implica um grau de integração funcional entre estas atividades dispersas pelo mundo. Dessa forma conclui-se que a globalização econômica foi acompanhada da especialização flexível, ou do surgimento de novas formas de organização que muitas vezes são caracterizadas por, entre outros aspectos, pequenos lotes de produção.

A administração das cadeias produtivas é definida como “Maximização aliada ao valor e a redução de total de custos ao longo de todo processo, focando na velocidade e assertividade de resposta rápida às necessidades do mercado”. Ligado à globalização, a administração das cadeias produtivas se tornou uma ferramenta para empresas para competir de maneira efetiva tanto no nível local quanto em escala global. A administração das cadeias produtivas se tornou uma necessidade especialmente para a indústria manufatureira quando esta precisa distribuir seus produtos a preços competitivos no mercado e de qualidade superior aos seus concorrentes.

Não obstante, aliado à questão de regulamentação, a dinâmica das cadeias produtivas também tem impacto na capacidade de competir e na possibilidade de inserção em mercados globais e na possibilidade de upgrading, conforme sugerem diversos autores (Gereffi, 1994 e 2001)

Porter (1990) expõe que outro dilema que governos e empresas dos países em desenvolvimento enfrentam, é se devem adotar a estratégia de ser um fornecedor de peças para empresas estrangeiras ou procurar desenvolver uma estratégia global. Na prática a maioria dos países usa uma combinação das duas possibilidades, mas os pesos podem variar. Na moderna competição internacional, a empresa deve aumentar seletivamente suas vantagens ou compensar suas desvantagens da base nacional através de atividades em outros países. É disso que deveria tratar a estratégia global.

Há quem veja dicotomia entre as necessidades do país (e de seus cidadãos) e as necessidades das empresas. Se as empresas investem, ou se abastecem, no exterior, isto seria considerado prejudicial para o país. A globalização da estratégia e o abastecimento no exterior de produtos e componentes menos sofisticados seriam fundamentais para o processo de tornar as vantagens competitivas mais sofisticadas e aprimorar uma economia.

Numa economia, o processo de aprimoramento e a internacionalização não ameaçam os empregos locais, mas aumentam sua produtividade. A internacionalização também torna a economia menos sensível às taxas de câmbio. Segundo Schoenberger (1994), para que as empresas permaneçam efetivamente engajadas no mercado internacional, seria necessário também produzir no exterior. Esta necessidade seria justificada pelos obstáculos políticos e pela necessidade de responder rapidamente ao caráter específico e dinâmico da demanda nos mercados externos.

Contudo o contínuo avanço tecnológico global não parece estar garantindo que as sociedades futuras possam gerar, unicamente por mecanismos de mercado, postos de trabalho – ainda que flexíveis – compatíveis em qualidade e renda com as necessidades básicas da população mundial. A lógica da globalização e do fracionamento das cadeias produtivas incorporou parte dos bolsões de mão-de-obra barata mundiais sem necessariamente elevar-lhes a renda.

O poder da mídia no cenário político internacional

(Lucas Cilento)

      A fragmentação do poder é uma característica marcante do cenário internacional contemporâneo. Nas últimas décadas, o surgimento de novos atores, além de refletir a sua complexidade, sugere que o estudo das Relações Internacionais implica acompanhar a desse sistema. Foi diante dessa observação que o estudo da mídia como um ator, nesse meio, se mostrou relevante. ­Apesar de o envolvimento dos meios de comunicação nas questões internacionais ser um fenômeno recente — possui menos de um século — é possível afirmar que a relação estabelecida entre eles e a vida internacional não se trata de algo efêmero. A caracterização do papel e do poder da mídia no contexto de surgimento de novos atores das Relações Internacionais é um grande desafio. Diante das novas tecnologias da informação e comunicação diversas mudanças ocorreram no cenário internacional e no exercício do poder político contemporâneo. O protagonismo da mídia na utilização do soft power é constante, ocorrendo de diferentes e diversas formas, tentando sempre voltar a população ou até mesmo um estado contra ou a favor de uma determinada causa. Vale também ser falado sobre a expansão da comunicação política internacional e as implicações da inserção das novas mídias, como a Internet, e dos novos desafios oriundos da era da informação em rede no então atual cenário globalizado.

A influência da mídia é sempre lembrada no campo politico, pois a mídia sempre apoia um certo candidato, ou um governo, uma posição de política externa. Assim temos dois diferentes tipos de influência da mídia na política, seja ela interna ou externa. Quando o governo adota uma politica incerta, onde invariavelmente a exposição do governo a críticas e excessiva atenção midiática. Assim as noticias são criticamente enquadradas defendendo um determinado curso de ação, como no caso do impeachment de Fernando Collor, onde a mídia influenciou os jovens a irem as ruas pedir a deposição, assim fazendo com que o governo mude a postura a fim de não enfrentar um desastre na relação pública. Seja como for, nota-se que nada e ninguém está aquém das mídias.

Em muitos países, o governo local possui um quase total controle sobre a agenda da mídia, ou ao menos da maior parte delas, fazendo com que sem o apoio das maiores cadeias de transmissores de informações as massas, a pequena parte que crítica tenha pouca ou nenhuma influencia sobre a política.

Informação sempre foi sinônimo de poder. Basta lembrarmos qual instituição garantiu a unidade cultural da Europa e foi a grande responsável pela conservação e transmissão de conhecimento durante a idade média: a Igreja, que moveu populações inteiras as guerras e a absurdos como a inquisição. Provando assim que o poder das mídias diante das relações internacionais não veio dos anos recentes, mas é tão antiga quanto as relações entre Estados.

É certo que a liberdade de expressão é um direito fundamental de todo indivíduo, mas também é certo que em bom número de países essa liberdade de acesso a informações ainda é muito limitado. Em questões como o movimento pela autonomia do Tibet, a questão da mídia se transformou em importante front, com censuras internas na China e grande difusão no Ocidente.

Regimes autoritários muitas vezes têm se mostrado competentes no que diz respeito à promoção do crescimento econômico ao longo da história, como foi o caso da Alemanha Nazista, que apesar de ter se traduzido como um regime desumano reergueu o país economicamente ou como no caso do período denominado milagre econômico ocorrido durante o governo militar brasileiro, assim mostrando que a privação do direito de liberdade de expressão tem também seu caráter benéfico à nação, mas continuando assim a ser maléfico à população, ao alienar seus cidadãos em prol da proteção do governo vigente.

O país oriental tenta ampliar sua influência não apenas controlando a própria população, mas estendendo também suas influências para além do território nacional. A fim de aumentar o chamado “soft power”, ou a capacidade do Estado de influenciar comportamentos e interesses de outros. A China vem, estrategicamente, investindo em acordos de cooperação e difusão de informação- aí, dando destaque ao rádio, um importante meio de conscientização popular- principalmente no continente africano. Por meio da "CNC World", o país pretende difundir uma visão chinesa dos acontecimentos internacionais, contando com uma linha editorial apoiada em orientações diplomáticas governamentais. Entrando, assim como o estado, que é considerado o maior construtor de informações do mundo, os Estados Unidos da América, que agora além de competir com a China no plano econômico mundial, vai ter que passar a se preocupar com o controle midiático, que até então havia sido quase que exclusividade americana.

Assim, concluímos que a mídia pode ser um importante ator das relações internacionais, lembrando seu caráter instrumental, parcial, em prol sempre de quem governa, das políticas governamentais, e dos interesses dominantes.

O crime organizado e as Relações Internacionais

(Sara de Morais)

      O crime organizado atua nas mais diversas áreas das Relações Internacionais. Possui uma estrutura hierarquizada, com regras internas, tem uma estrutura de forma não planejada, e a maioria das organizações com esse modelo no cenário internacional formam uma rede e extremamente fortalecida pelo fator econômico. Esse tipo de crime é marcado pelo fato de ser prolongado e sistemático ao invés de uma atividade de natureza organizada, é seu envolvimento com poder, política e sociedade que o faz o que é, não a organização em si. Assim, o crime organizado pode ser compreendido como uma organização, cujo funcionamento é semelhante ao de uma empresa internacional, pratica uma divisão muito aprofundada de tarefas, todas concebidas de maneira metódica e duradoura, procurando obter lucros tão elevados quanto possível, cometendo infrações e participando da economia legal. Para isso, a organização recorre à violência, à intimidação, e tenta exercer sua influência na política e na economia.

Inicialmente, fatores como a desigualdade social e pobreza são fatores decisivos que levam a existência de grupos inicialmente desorganizados, mas que se organizam e formam associações criminosas. Conquistam dentro da sociedade, maior espaço e legitimidade para atuar. O afastamento do Estado da sociedade também contribui para que permite que essas organizações consigam dominar diversos setores, inclusive o econômico, ficando extremamente fortes. Determinadas organizações, como o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho, no Brasil, mantém conexões com os centros internacionais produtores de droga, como Bolívia, Colômbia, Paquistão e Afeganistão.

Na Europa e América do Norte, temos dois ambientes em que há grande consumo de drogas, embora isso também ocorra em outras regiões. A riqueza e o poderio dessas fazem com que a demanda de narcóticos seja alta e interesse outras áreas a produzir e transportar esses produtos. A forte repressão e fiscalização do tráfico dentro destes continentes dificultam a produção de droga nos mesmos, contudo, incentivam a rota internacional de narcóticos, como se pode notar até mesmos casos de submarinos utilizados para o transporte, como registrado na tráfico entre Colômbia e EUA.

Um grande empecilho do combate ao narcotráfico nos EUA é a autonomia dos seus estados-membros, isso impossibilita a centralização das decisões e legislações. Também as drogas tidas como medicinais (maconha, por exemplo) na Europa e nos EUA torna-se outro fator de peso que vai de encontro às barreiras impostas ao tráfico.

O crime organizado está vinculado a instituições políticas, pessoas e processos, e apenas pode sobreviver porque algumas atividades são proibidas e a busca por lucro tem proteção ou patrocínio de políticos, oficiais e policiais. A democracia e a mudança de economia planificada para a de mercado trouxe consigo um processo de criminalização nas esferas econômica e política. Esse processo ameaça a sobrevivência da democracia, também a competição aberta, o regime das leis, a legitimidade de instituições democráticas, a liberdade de participação e informação, o contorno do conflito de interesses, bem como outras instituições pertinentes a regimes democráticos.

Nos EUA, exaustivas evidências mostram a persistência de uma ligação próxima entre crime organizado e política desde a época da independência. Um estudo recente nos EUA mostra que a “tríplice aliança” (políticos, polícia e crime organizado), ainda existente, costuma ter sua iniciativa advinda dos políticos, de forma a estes tentarem controlar e cooptar as atividades criminosas.

O México oferece um caso mais consistente para refletirmos sobre a ligação entre crime e política num ambiente de transição para a democracia. A relação entre os dois depende de qual das duas forças é a dominante; ou os políticos manipulam os criminosos e os descartam quando não são mais necessários, ou o lado criminoso manipula os políticos para enriquecer e fornecer proteção. Esse modelo, conhecido como de “exploração da elite”, confere aos políticos a oportunidade de controlar o crime do alto; o padrão bem estabelecido “patrão-cliente” no país torna compreensível a criminalidade, embora esse padrão seja ameaçado de alguma forma pela democracia.

O caso italiano merece ser citado, recordando o vocábulo “máfia”, tomado como sinônimo de crime organizado. Apesar de sua diversidade, os grupos mafiosos têm memorável e duradoura relação com os políticos italianos em vários níveis. Surgidos na época da consolidação do Estado italiano os grupos da máfia se utilizaram de remanescentes estruturas feudais, cresceram portanto com relação ao Estado, em forma de poder paralelo, sendo, entretanto, complementar, e colaborando com ele. Aos políticos, os mafiosos ofereciam serviços e obtinham favores em troca, criando alianças baseadas em valores comuns entre ambos. Contudo, nas últimas décadas, as mudanças conjunturais trouxeram alterações na ordem das máfias, por exemplo, a duradoura associação entre o grupo “Cosa Nostra” e o partido Cristão Democrático (CD) se desfez, levando o crime organizado a apoiar, a partir de então, diversos partidos. A cultura da honra se desfez; a busca do lucro passou a trazer mais prestígio; desse modo, a subcultura compartilhada pelos dois grupos também sumiu.

Quanto ao crime transnacional, este parece ter ganhado mais atenção depois do fim da Guerra Fria. Sua expansão se dá paralelamente à da globalização econômica. A situação, ameaçadora para as democracias, inclusive as já consolidadas, é de tal modo que o poder político e econômico parece fluir dos governos ao redor do mundo para as mãos das corporações transnacionais de crime organizado. A tecnologia e o mercado global de drogas e dinheiro impedem os Estados de proteger suas sociedades de crime e criminosos. Hoje a questão é pertinente não só às agências de segurança e por transgredir a lei; concerne também aos planejadores militares.

O crime organizado nunca se afastará por completo, principalmente por ser protegido pelo meio político e por prover a demanda de bens e serviços não disponíveis de outro modo.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Camboja: uma análise da conjuntura internacional

(Raisa Gaio)

      Zona de confluência de grandes civilizações do Extremo Oriente, a península da Indochina fica no extremo sudeste da Ásia, entre o mar da China meridional, o golfo de Sião e o oceano Índico ao sul; e a China e o Tibete ao norte. A sua história turbulenta mostra o choque causado pelos diversos povos que ocuparam e colonizaram seus vales, dentre eles com destaque a dois pequenos países, característicos pela riqueza de suas culturas milenares, suas histórias conturbadas envolvendo longos períodos de dominação francesa, o Laos e o Camboja.

A história desses dois países, diretamente atrelada a Indochina, é marcada pela influência francesa na região do vale do Mekong até o mar da China Meridional, que data do século XVII, com a vinda de missionários franceses, na tentativa de restaurar e disseminar as idéias do catolicismo, enfraquecidas pela expansão da doutrina teológica de Calvino. A partir do século XIX, a expansão dessa influência na região possibilitou a ocupação de Saigon e a incorporação do Camboja como protetorado francês com vasta aceitação popular visto o cenário de disputas entre diversos povos, inclusive os chineses. No final do século XIX, a ocupação é consolidada com o reconhecimento da China sobre a soberania francesa dos territórios sob a relação de protetorados e a formação da União Indochinesa em 1877 com a integração dos territórios ocupados. Dentre os objetivos da ocupação, destaca-se o interesse no domínio de uma região estratégica no sudeste asiático capaz de estabelecer relações estreitas e diretas de comércio com a China e com saída direta para o Mar Meridional, a busca por áreas de influência ao redor do globo, vista a disputa substancial por territórios com a Grã Bretanha desde a guerra do ópio e a busca por matérias primas inexistente no território francês.

A instauração de um protetorado colonial na Indochina deu aos franceses a autoridade de intervir nas questões diplomáticas, políticas, econômicas e militares da região, regulando todo o fluxo de mercadorias, o monopólio da triangulação do ouro e ópio o que favoreceu para o crescimento da economia francesa.

A partir de 1940, foram iniciadas as incursões japonesas, última das quais, em 1945, pôs fim a administração francesa na região, instaurando a independência do Vietnã, que irá acarretar sua posterior divisão em áreas de influência americana e russa, dando inicio a então Guerra do Vietnã . Após a queda do governo japonês no final da Segunda Guerra Mundial, os franceses restauraram o domínio sobre o Laos e o Camboja, inaugurando a Federação Indochinesa que supostamente faria parte de uma nova União Francesa, reconhecendo o Vietnã como Estado independente. O estabelecimento dessa União nunca foi feita, na medida em que a retaliação do Vietnã ao domínio francês (Primeira Guerra Indochinesa) fomentou o crescimento do sentimento nacionalista dos povos da região aliada à pressão internacional atrelada ao princípio da igualdade entre os povos advindo com o fim da Segunda Guerra Mundial, que culminou no reconhecimento oficial das independências de todos os protetorados franceses da Indochina com assinatura dos tratados na Conferência de Genebra em 1954.

Desafios internacionais do Camboja

O Camboja permanece um dos países mais pobres do sudeste asiático e a sobrevivência do seu povo é um desafio no que concerne a maioria da população, visto seus cenários naturais adversos e, sobretudo sua conturbada vida política. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP) o Camboja apresenta um grau de pobreza maior que a Mongólia e El Salvador; e ficando ao lado da Mauritânia no que concerne ao grau de Transparência Internacional.

No que concerne aos aspectos políticos do país, o Camboja foi quase completamente destruído durante anos de conflitos internos regionais, principalmente após a guerra civil instaurada no país nos anos 60 marcando as disputas entre movimentos extremistas de direita e os comunistas. O regime comunista do Khmer Rouge ou Khmer Vermelho, instaurado de 1975 até 1979, foi certamente o período mais obscuro da sua história, resultando em um genocídio de mais de 15% da população e o colapso das estruturas sociais e da economia do país. A tentativa de restauração da paz e reconstrução do país foi feita entre 1991 e 1993, como resultado de uma missão das Nações Unidas.

A situação política recente é baseada em uma extrema valorização da personificação do poder e em praticas autoritárias. O primeiro ministro Hun Sem – no poder desde 1985 – é um dos líderes asiáticos de mais tempo no exercício do poder e tem como característica um governo centralizador. O Estado cambojano é caracterizado pela falta de eficiência do sistema judiciário, a contínua repressão a oposição partidária e a corrupção, que são atribuídas a heranças deixadas pelo regime comunista do país estabelecido pelo governo do Khmer Rouge.

Atualmente as tentativas de cooperação econômica representam um dos principais desafios do Camboja. Como exemplo dos progressos atingidos até agora, o país, desde 1999, faz parte do processo de Integração regional da Ásia (membro da Associação de Nações do Sudeste Asiático-ASEAN) e foi o primeiro dos países menos desenvolvidos a fazer parte da Organização Mundial do Comercio em 2003. A necessidade de desenvolver competências e mecanismos de suporte a cooperação econômica nesse processo é fundamental e o enfoque ao investimento no capital humano deve ser chave para a competitividade econômica com a ASEAN e o mundo. Também como parte desse processo, a descentralização política foi iniciada em 2001, visando separar as esferas política da econômica e assim alavancar o processo de governança no país.

A economia do Camboja tem se mostrado relativamente dinâmica nos últimos anos, superando alguns países do próprio sudeste asiático, apresentando um crescimento de 10% ao ano em 2004; e após a crise de 2009/2010 uma média de 6% ao ano.(UNHCR, 2010)

Uma das maiores fraquezas econômicas do Camboja é a falta de diversificação tanto da sua produção quanto dos seus parceiros comerciais. A exemplo de ilustração desse quadro, a agricultura, o turismo e setor têxtil do país são responsáveis por cerca de 70% do PIB. Como resultado dessa falta de diversificação, o Camboja é extremamente vulnerável a variações e crises externas. Suas exportações são direcionadas a poucos clientes estratégicos (em particular os EUA, que atua em mais de 54% das exportações do Camboja). Esta é a razão pela qual na crise internacional as exportações do país sofreram uma drástica redução gerando um déficit de US$ 1.8 milhões em 2008. Esse cenário tende a seguir por mais algumas décadas, caso não haja uma reestruturação da planificação econômica no país, quase inexistente desde o governo comunista.

Financeiramente, o Camboja é altamente dependente de investimentos e ajuda internacional. Além disso, a economia do país é extremamente dolarizada, o dólar americano corresponde a mais de 90% da moeda em circulação no país. Essa dolarização garante uma taxa de câmbio estável, porém também parece reduzir o potencial de arrecadação do país. O projeto de abertura de uma bolsa de valores no final de 2010 representa uma real oportunidade para o Camboja começar a atrair mais investidores.

Ainda hoje as tentativas de manutenção da paz nas fronteiras do país se veem frustadas na medida que ainda é contante o aparecimento de conflitos envolvendo países vizinhos a exemplo da Tailândia. Porém os esforços cada vez maiores da resolução dessas controvérsias por vias diplomáticas e a participação ativa em organizações intergovernamentais como também não-governamentais, têm mostrado o avanço alcançado pelas missões da ONU no país.

Quanto ao que concerne os aspectos sociais, o grupo étnico majoritário é o mon-khmers, representando 90% da população e o Budismo volta a ser, após sua proibição em 1975, a religião mais difundida no país. Com isso posto, a sociedade cambojana é de certa forma homogênea e os riscos do surgimento de tensões sociais é relativamente baixo. Entretanto a sociedade é caracterizada por fortes desigualdades sociais com um elevado nível de pobreza (66.5% da população sobrevive com menos de US$2 por dia, segundo a UNHCR, 2010). Com relação as questões de saúde e educação, uma porção muito pequena do orçamento do governo é destinado a esses setores.

As pressões demográficas constituem um dos maiores desafios do Camboja para as próximas décadas: 36% da população se constitui de jovens abaixo de 14 anos. O recente êxodo rural representa uma ameaça a estabilidade social caso o governo não mude suas políticas de investimento de planejamento nas áreas rurais e urbanas.

Um dos temas mais fundamentais do Camboja é a política de distribuição de terras. A privatização de terras no país é um ato relativamente recente e o Estado ainda detém cerca de 75% das terras. O governo dessa forma permite “Concessões Econômicas de Terra”, onde empresas estrangeiras podem comprar terras e explorar seus recursos sem que a população local receba qualquer benefício dessa exploração. O processo de geração de concessões tem resultado na expulsão dos camponeses de suas terras.

O Camboja está localizado em uma das áreas mais vulneráveis em relação a mudança climática, visto que atualmente os desastres naturais tem sido cada vez mais frequentes e intensos, a exemplo do fenômeno das monções. Visto isso, o país poderia ser um possível destino para refugiados do clima, principalmente vindos de regiões vizinhas como o Vietnã e a Tailândia.(CNN, 2011)

Os recursos naturais do Camboja são inexpressivos, porém suas poucas reservas de sal, fosfato, calcário e uma pequena reserva de pedras preciosas no noroeste são amplamente explorados. As reservas aquíferas do Mekong e do lago Tonle Sap são consideráveis. A cerca de uma década, foram encontradas jazidas de petróleo e gás na costa cambojana o que representa uma potencial fonte de arrecadação para o país.

Porém, concessões de terras e a difusão da super exploração dos recursos naturais do país têm representado não só uma ameaça para a população local, mas também uma ameaça econômica e ecológica. O desflorestamento se tornou um sério problema no que diz respeito a erosão do solo e a seca dos rios, o que pode significar um cenário perigoso para a agricultura do país e suas exportações.

A ação da ONU no desafio de desenvolvimento do Camboja

A ONU tem uma longa história de atuação no Camboja que data desde antes de 1950. O programa da ONU foi interrompido entre 1975 e 1979, durante o governo do Khmer Rouge, porém a retomada da assistência se deu após a queda do governo comunista, auxiliando na reabilitação do estado cambojano com o processo de transição do governo em 1980. Em 1992 a Autoridade de Transição das Nações Unidas no Camboja (United Nations Transitional Authority in Cambodia – UNTAC) assumiu temporariamente a autoridade no país até a organização de eleições livres em maio de 1993 e uma nova constituição ser adotada. Aproximadamente 23 agencias da ONU operam hoje diretamente no Camboja, contabilizando um gasto de aproximadamente US$ 100 milhões ao ano. (ONU, 2010)

Referências

Papua-Nova Guiné : análise da conjuntura internacional


(Sara de Moraes)

      A Papua Nova Guiné é um país da Oceania, que ocupa a metade oriental da ilha da Nova Guiné. A única fronteira terrestre que tem é com a Indonésia, a oeste, que controla a outra metade da ilha. Entretanto, Papua possui fronteiras marítimas com Palau e a Federação da Micronésia, ao sul, e, ao norte, com as Ilhas Salomão, a sudeste, com a Austrália, ao sul, através do mar de Coral e do estreito de Torres. A sua capital é Port Moresby.

A ilha foi descoberta por navegadores portugueses em 1511, que lhe deram o nome de Nova Guiné, em referência à célebre região africana. Nos anos seguintes muitos exploradores desembarcaram na ilha, que acabou dividida em três partes: a norte, que ficou sob domínio da Alemanha, a parte ocidental com a Holanda e a parte território para a Austrália.

Terminada a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha perdeu sua parte, que passou para a administração australiana. Ambos os territórios, norte e sul, fundiram-se então num só, sob o nome de Nova Guiné. Após a Segunda Guerra Mundial, o protetorado ganhou a independência sob o nome de Papua Nova Guiné, enquanto a parte ocidental da ilha, de influência holandesa, seria incorporada ao novo país independente da Indonésia.

Em 1988, um movimento separatista é organizado na ilha de Bugainville, levando à morte de cerca de 20 mil pessoas ao longo de uma década. Um acordo de paz, assinado em 1998, concede maior autonomia à ilha, que permanece parte de Papua Nova Guiné. A formação de um governo provincial interino em Bougainville é definida pelo Acordo de Loloata, de 2000.

Papua-Nova Guiné faz parte do tratado internacional da APEC (Asia-Pacific Economic Cooperation). Mais de 70% da população é economicamente ativa trabalha na agricultura, essencialmente de subsistência. A nação exporta ouro, cobre e petróleo, além de café e cacau. A exploração dos recursos é prejudicada pela topografia, que aumenta o custo da infraestrutura. Seu PIB é de US$ 5,7 bilhões e sua moeda é a kina.

Estrutura econômica

Papua Nova Guiné tem desfrutado de uma década de crescimento econômico estável. O PIB real aumentou 4,5% em 2009 e um crescimento de 8,0% foi verificado em 2010. O crescimento no setor de mineração foi um dos responsáveis pela retomada, contribuindo com 5 pontos dos 8% do crescimento global no ano de 2010. O país depende fortemente das exportações de minérios e de produtos agrícolas. As exportações vem crescendo a uma taxa de dois dígitos na última década, embora o ano de 2009 tenha registrado uma retração de cerca de 20% das receitas de exportação, em virtude da crise mundial. As exportações voltaram a crescer em 2010, quando o valor das commodities exportadas pelo país aumentou 32%.

A participação da força de trabalho no setor formal é muito baixa comparada com outros países do Pacífico, empregando apenas cerca de 20% da população, sendo que o restante trabalha na produção agrícola de subsistência. Problemas de ordem pública, posse de terra e infra-estrutura física inadequada são de longa data barreiras ao crescimento da economia local. Muitos analistas consideram Papua Nova Guiné como o ambiente de negócios menos favorável às empresas de toda a Melanésia, e também o mais caro. O clima de investimento é incerto e a corrupção é um problema constante. Os investimentos estrangeiros são submetidos a um elevado processo de autorização. O setor agrícola tem tido um crescimento moderado, apesar inundações freqüentes nas terras altas do norte. Preços mais elevados para as exportações agrícolas deram um grande impulso para a renda rural. As exportações principais incluem o óleo de palma (dendê), café, cacau, óleo de copra, baunilha, chá e borracha. A maioria da população vive em áreas rurais isoladas, estão engajados na agricultura de subsistência, e têm um acesso muito limitado às oportunidades econômicas e serviços sociais.

Por outro lado, o setor de petróleo e gás, juntamente com o setor de mineração, constitui o setor moderno da economia, empregando quase a totalidade dos empregos formais, contribuindo para um quarto do PIB nacional. O aumento nos preços do petróleo e das commodities no período 2006-2010, tem gerado um crescimento elevado na economia da ilha, tanto no setor moderno como no setor agrícola.

O terreno acidentado e bastante montanhoso, recoberto por densas florestas, eleva o custo da infra-estrutura de transporte, que permanece fraco. Menos de 4% das estradas são pavimentadas. O sector financeiro e os bancos comerciais são limitados, contando com apenas 5 grandes bancos. O país tem atraído vários projetos no setor de gás natural, que dobrou a produção nos últimos anos, contribuindo para impulsionar a economia. A inflação é relativamente elevada, registrando a marca de 6% em 2010 e 7% em 2011. Aumento da demanda interna, em função da retomada do crescimento, combinada com a desvalorização do kina, encarecendo produtos de consumo importados, parecem estimular o aumento da inflação, apesar do esforço de controle de preços existente por parte de um governo bastante intervencionista.

Relações com a Austrália

As relações entre o primeiro-ministro Michael Somare (Papua –Nova Guiné) e o primeiro-ministro John Howard (Austrália) foram muitas vezes tensas, sendo a questão dos imigrantes ilegais e demandantes de asilo na Austrália um dos principais pontos de controvérsia. Os imigrantes ilegais detidos na Austrália eram deportados para um centro de detenção em Nauru. Um centro de detenção foi construído em Manus Island, em Papua Nova Guiné, como parte da "solução pacífica" proposta pela Austrália, repatriando nacionais, acompanhado de ajuda econômica australiana. Casos emblemáticos mobilizaram a opinião pública, como a detenção de Aladdin Sisalem, que foi mantido em confinamento solitário de julho de 2003.

Outro acontecimento que envenenou a relação bilateral dos dois países foi a exigência dos agentes de segurança do aeroporto de Brisbane de que o primeiro-ministro Somare, em visita oficial a Austrália em março de 2005, removesse cintos e sapatos durante verificação de segurança. O governo de Papua considerou o ato como uma humilhação, transformando o acontecimento num incidente diplomático. A opinião pública local também se mostrou escandalizada, gerando marchas de protesto anti-australiano na capital Port Moresby.

Em 2006, as tensões foram retomadas devido ao "affair Moti Julian". Moti, um colaborador próximo a Manasseh Sogavare, o então primeiro-ministro das Ilhas Salomão, foi preso em Port Moresby em setembro de 2006, gerando um pedido de extradição por parte do governo australiano, para responder a acusações por crimes humanitários cometidos em Vanuatu no ano de 1997. O governo de Papua não apenas recusou o pedido australiano como liberou Moti para ser levado, em vôo clandestino, de volta às Ilhas Salomão, causando indignação e protestos públicos do governo australiano. Em represália, o governo australiano vetou, dois meses mais tarde, a entrada de ministros de Papua para uma reunião oficial.

Em 2007, os dois primeiros-ministros enfrentaram eleições. Somare foi reeleito, mas Howard foi derrotado e substituído por Kevin Rudd. Rudd logo tomou iniciativas de restabelecer as deterioradas relações entre os dois países. Em março de 2008, Rudd visitou a Papua Nova Guiné, retomando relações diplomáticas normais.

A Papua-Nova Guiné, apesar dos impactos causados pela crise econômica de 2008, tem se beneficiado dos aumentos mundial das commodities, o que tem possibilitado a construção de um maior equilíbrio macroeconômico, como a entrada de investimentos para os setores da mineração, petróleo e gás, aumento das reservas internacionais, aumento das receitas tributárias. Entretanto, essa retomada coloca em evidência a necessidade de reformas institucionais, melhorando o ambiente de negócios local, considerado, como visto, como o pior da região, no sentido de sustentar e ampliar o ritmo de crescimento econômico. O gargalo de infraestruturas também é uma questão importante, especialmente no que se referem a estradas, portos e eletricidade. Os ganhos potenciais de uma maior liberalização do comércio internacional, tendo em vista o baixo custo das mercadorias locais, incluindo mão-de-obra, parecem cada vez mais evidentes na percepção local, em razão do crescimento provocado nos últimos anos. Uma maior normalização das relações diplomáticas com os vizinhos, especialmente os gigantes Indonésia e Austrália, podem dinamizar ainda mais a transformação econômica do país.

A Jordânia e o seu cenário internacional


(Jéssica Abrahão)

Situada no Oriente médio, Al-Mamlakah al Urdiniyah al-Hashimiyah ou Reino Hachemita da Jordânia (nome com homenagem ao clã Hachim, ao qual os reis jordanianos pertencem) conquistou sua independência em 1946, ganhando assim o nome que possui hoje, pois antes fora chamada de Transjordânia. Esta terra de desertos arenosos, planícies rochosas e colinas verdes ocupa uma parte da antiga Palestina, que hoje é ocupada majoritariamente por Israel. Possui uma política externa pró-ocidente, a qual foi originada do tratado de paz feito com Israel para o fim da guerra entre os mesmos (em 1994), e pela crescente melhora entre a sua relação com os Estados Unidos após o final da Guerra do Golfo.

No inicio desta guerra, após a invasão do Kuwait por tropas iraquianas e pela represaria a este ataque pelos Estados Unidos e Grã Bretanha, a Jordânia anuncia-se a favor do Iraque, seu maior parceiro comercial, maior fonte de importação de petróleo, e também o maior destino das exportações dos produtos jordanianos (havia, inclusive, diversas empresas criadas apenas para facilitar o comércio entre esses dois países). Com esta aliança, a ajuda econômica vinda dos países ocidentais cessa, coincidindo com o aumento do número de refugiados palestinos que foram buscar abrigo na Jordânia. Com o acordo de paz feito com Israel, pondo um fim a um conflito que durou pouco mais de quarenta anos, a Jordânia retoma as relações com o ocidente, começando a realização de um projeto ambiental, junto a Israel, para evitar a extinção do Mar Morto (projeto baseado na tentativa de bombeamento de água para o leito do Mar Morto, vindas do Mar Vermelho) além de incentivar ainda mais um acordo de paz entre israelenses e palestinos. 

Também a partir deste tratado, a Jordânia aceita ser base de antimísseis estadunidenses, para garantir que qualquer tentativa iraquiana de envolver Israel no conflito acarretaria em sérias consequências para o mesmo. Logo, os laços comerciais com o Iraque se desfizeram aos poucos, e o país, nesta época, deixou de ser o maior parceiro comercial da Jordânia. Entretanto, mesmo com a oposição do Estado jordaniano à ocupação do Kuwait pelo Iraque, houve apoio popular da parcela palestina na Jordânia, a qual enviava ajuda humanitária para seus semelhantes que se encontravam em área de conflito. A grande parte desse apoio popular ao Iraque foi gerada pela insatisfação pelas consequências daquela guerra na Jordânia. A partir disso, os Estados Unidos tentaram ao máximo aproximar-se economicamente do Reino Hachemita, visando diminuir os impactos deixados pela Guerra do Golfo no país. Esta aproximação visou, além do quesito econômico, a área militar do país, que havia também sido degradada ao longo do conflito.

Contudo, o maior problema enfrentado pela Jordânia é, na verdade, sua quase ausência de recursos naturais. O país é um dos mais pobres em água do mundo, e tenta explorar maneiras de expandir sua fonte limitada e usar seus recursos hídricos da forma mais eficiente possível. A Jordânia também sofre com a insuficiência de outros recursos naturais, como os óleos. Durante a década de 1990, a sua importação de petróleo foi majoritariamente vinda do Iraque. Desde o início de 2003, esta tem vindo principalmente da Arábia Saudita e dos outros países do Golfo. Além disso, um gasoduto de gás natural vindo do Egito através da cidade portuária de Aqaba foi construído e já está operando. Este atingiu o norte da Jordânia e as obras para a sua extensão visando conectá-lo com a Síria e com outros países do Oriente Médio estão em andamento. Com o objetivo de desenvolver fontes de energia mais inerentes e renováveis, em 2007 a Jordânia começou a desenvolver uma nova estratégia energética, que incluía energia solar, eólica, nuclear, e a utilização de óleo de xisto betuminoso.

A partir do reinado do rei Abdullah II, iniciado em 1999, o Reino Hachemita começou um programa de reforma econômica, o qual diminuiu a maioria dos subsídios para agricultura e combustíveis, aprovou uma legislação que visava combater a corrupção e começou uma reforma tributária. Ele também contribuiu para a melhora do comércio entre o seu país e os outros do mundo, aderindo assim a Organização Mundial do Comércio (OMC) no ano 2000, assinado o Acordo de Associação com a União Europeia (tratado entre países pertencentes à União Europeia e não pertencentes que visava um plano de cooperação entre estes) em 2001, e assinou o acordo bilateral de livre comércio com os Estados Unidos, que entrou em vigor em 2001, sendo o primeiro país árabe a fazê-lo. Neste último, os Estados Unidos e a Jordânia acordaram reduzir as tarifas entre os produtos comercializados pelos mesmos, resultando assim na completa eliminação de impostos em quase todos os produtos, em 2010. Este tratado ainda visa o fornecimento de recursos naturais e de mão-de-obra, e também uma abertura comercial nas áreas de comunicação, construção, finanças, saúde, transporte e serviços, tanto quanto a aplicação rigorosa das normas internacionais de proteção à propriedade intelectual.

A Jordânia tem seguido as orientações do Fundo Monetário Internacional (FMI), praticando políticas monetárias cautelosas e obtendo progressos substanciais nas privatizações e na gradativa abertura econômica. Um significante fator que estimulou o crescimento da sua economia foi a criação de Zonas Industriais Qualificadoras (mais conhecidas como QIZ, devido à sua sigla em inglês) no território jordaniano, os quais produziriam bens que deveriam possuir uma porcentagem de insumos israelenses e estadunidenses para serem exportados. Tal atitude tem impulsionado a exportação de produtos manufaturados, principalmente na área de vestimentas. A economia seguiu crescendo pouco a pouco até 2009 quando, devido à crise financeira mundial, o seu rendimento econômico teve certo decréscimo.

Com os Estados Unidos também foram assinados o tratado de aviação civil, que prevê "céus abertos" entre os dois países, um Tratado Bilateral de Investimentos, para a proteção dos incentivos tidos pelos mesmos, um Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica, para fortalecer e facilitar a cooperação científica entre os dois países e um memorando de cooperação energética nuclear. Tais acordos auxiliam os esforços para ajudar a diversificar a economia jordaniana e promover o seu crescimento, ao mesmo tempo em que diminui a dependência da exportação de fosfatos, potássio e têxtil, tanto quanto a dependência de ajuda de outros países. O governo tem enfatizado as áreas de Tecnologia da Informação (TI), farmacêutica e turismo, assim como outras áreas promissoras. Os baixos impostos e a baixa regulação na Zona Econômica Especial de Aqaba são considerados um modelo de crescimento subsidiado pelo governo e liderado pela iniciativa privada, o qual também fez crescer o seu número de produtos exportados. Em 2006, a Jordânia reduziu de forma significativa a sua dívida com relação ao PIB, tornando-se economicamente mais atraente e captando mais investimentos estrangeiros.

Entretanto, por mais que durante estes anos tenham entrado em vigor muitos acordos econômicos para um crescimento da exportação e da economia jordaniana, a sua atividade mais rentável continua sendo o turismo. Este pequeno país do Oriente Médio que abriga uma grande quantidade de muçulmanos sunitas, alguns católicos, xiitas e drusos, é palco de inúmeras atrações turísticas de inegável beleza, banhadas pela história e pela cultura oriental. Um bom exemplo deles é a cidade de Petra, esculpida em pedra pelos Nabateus, que ficou perdida por mais de mil anos. Em sua época, Petra foi um ponto de muita importância na rota comercial do Oriente Médio, pela qual passavam produtos vindos da China, Índia e Arábia do Sul com destino ao Egito, Síria, Grécia, Roma e vice-versa. Mas a beleza não está apenas na história e nas esculturas em pedra em si, mas também em toda a beleza natural que envolve o local, desde o seu trajeto até a chegada à cidade. Outra atração jordaniana bem famosa é a cidade de Madaba, conhecida pelos mosaicos deixados de herança pelos bizantinos e omíadas. Dentre eles, encontra-se o famoso Mapa de Madaba, o qual mostra o Mar Morto, Jerusalém e o Rio Nilo, compondo a Terra Santa, formado por dois milhões de peças perfeitamente juntas e que formam o artístico solo da Igreja Ortodoxa de São Jorge, nesta cidade.

O turismo na Jordânia só não apresenta um crescimento maior por causa da reputação de insegurança do Oriente Médio pelo mundo afora. Se não fosse pela imagem de guerra disseminada pelo globo, pelos estereótipos equivocados da cultura árabe e muçulmana disseminada no Ocidente, e própria instabilidade na região, as atrações turísticas atrairiam um numero muito maior de pessoas, fazendo com que a dependência da Jordânia de outros países diminuísse, e esta pudesse sustentar o seu desenvolvimento aos poucos, e de forma mais independente.

O que o futuro reserva para este pequeno país, gerido por uma monarquia constitucional, que por mais que ainda preserve traços culturais fortes se abriu muito para a cultura ocidental e a absorveu, não se sabe. Apenas se estima que poderá sim ter um grande crescimento econômico driblando todas as dificuldades impostas pela geografia e pela política, abraçando a sua cultura e mostrando ao mundo que sim, há um Oasis no meio de um suposto deserto devastado pelas guerras visto pelo ocidente, e ele fica entre as fronteiras com a Arábia Saudita, Síria, Iraque e Israel, e é banhado pelas águas do Golfo de Aqaba.

Análise da Conjuntura Internacional da República do Equador

(Anna Paula Marino Sant´Anna Reis)

A chamada República del Ecuador está situada no ocidente da América do Sul, com fronteiras com a Colômbia e Peru, possuindo saída para o Pacífico. Seu território abrange 256 370 km² e é cortado pela Linha do Equador, possui a cidade de Quito como capital, porém, Guayaquil é a cidade mais importante no âmbito econômico. Possui um passado de ocupação Inca e posteriormente Espanhola. Atualmente possui como governante o presidente Rafael Corrêa.

O cenário político Equatoriano na história recente apresenta desde a década de 1990 um caráter instável, uma vez que, entre 1998 e 2012, o país já conheceu duas Constituições e seis presidentes. Sua economia é baseada, em cerca de 40%, na exploração do petróleo. Mesmo com as ampliadas receitas do petróleo, o país ainda convive com um baixo índice de desenvolvimento humano, pois, de acordo com o PNUD, em 2011 o Equador ocupava o 83º lugar no ranking mundial de IDH. No plano externo, as relações diplomáticas entre o Equador e a Colômbia continuam extremamente dificultadas, graças ao suposto envolvimento do governo equatoriano no apoio às FARC, grupo guerrilheiro colombiano que opera próximo a fronteira desses dois países. O Equador, recentemente, declarou não querer participar da Cúpula das Américas por não concordar com a exclusão de Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA), sendo o único país membro que não participou.

ECONOMIA E POLÍTICA INTERNA: DO FINAL DE 1990 ATÉ 2012

Como mencionado anteriormente, a situação econômica do Equador durante este período não foi nada tranquila e estável. O país está ligado diretamente com a economia petroleira mundial, e qualquer alteração no preço dessa commodity afeta diretamente a economia equatoriana, uma vez que cerca de um terço das receitas de exportação do país vem da exportação do petróleo. No final da década de 1990, no governo de Jamil Mahuad, o Equador enfrentou a pior crise de sua história, em função justamente da queda do valor dos barris de petróleo. No meio da crise econômica, o governo Mahuad se envolve numa disputa militar de fronteiras com o vizinho Peru, solucionada em 26 de outubro de 1998, com um acordo de paz.

Com o agravamento da situação econômica do país, Mahuad decide alterar a moeda do país, substituindo o Sucre pelo Dólar americano, numa política de completa dolarização da economia local. Essa medida provocou inicialmente perda de renda para as classes mais populares, mais expostas ao câmbio desfavorável da moeda local para o Dólar. Essa situação gerou grande descontentamento, o que acabou conduzindo a um golpe de estado, forçando Mahuad a renunciar em favor de seu vice, Gustavo Noboa, no início de 2000. O governo de Noboa seria marcado por uma melhoria econômica, com o Dólar permanecendo como moeda do país. A tentativa de ajuste fiscal implementado em nome da estabilização ocasionou uma redução dos investimentos na área social, um dos pontos mais criticados de sua administração.

Lucio Gutiérrez subiu ao poder em 2003 e se deparou com um déficit orçamentário elevado e uma grande dívida externa. A intenção do novo governo era sanar esses desequilíbrios com o crescimento das receitas de petróleo e, no curto prazo, através do auxílio financeiro do FMI. A plataforma central de Gutiérrez seria, entretanto, o combate à corrupção e a moralização da administração pública. Porém, o novo governo possuía poucos assentos no Congresso, o que dificultava que suas ideias fossem colocadas em prática. A pretendida reforma administrativa foi negociada com os demais partidos na forma de uma mudança na Constituição. Sem sustentação política, Lucio Gutiérrez repete a história de Mahuad, e é obrigado a renunciar em meio a uma crise política em 2005, deixando o posto ocupado pelo vice, Alfredo Palacio. Desde 2007, o presidente Rafael Correa permanece no poder do Equador, ao vencer as eleições daquele ano, e convocando a elaboração de uma nova Constituição em 2008.

PARÂMETRO INTERNACIONAL

Sob a liderança de Correa, o Equador assume compromissos ambientais em 2010, supervisionados pelo PNUD, no sentido de limitar a exploração petrolífera na Amazônia equatoriana e estimular o desenvolvimento local limpo, com o objetivo de preservar a floresta e os povos locais, além de diminuir a emissão de carbono.

Já a relação do governo Correa com os Estados Unidos não é das melhores. Em 2009 teve grande repercussão na imprensa local os comentários de uma diplomata americana residente no Equador, acusando a política local como dominada pela corrupção. Esse seria o segundo mal-estar envolvendo diplomatas americanos, uma vez que o presidente Correa já havia pedido exigido através da imprensa a retirada do diplomata americano Armando Astorga em 48 horas, também motivados por declarações.

Ainda na agenda externa, o Equador encontra-se há 10 anos em situação de confronto com a vizinha Colômbia, em razão da ação das FARC. A guerrilha colombiana, em fuga da ofensiva militar promovida pelo exército colombiano promovida pelo governo Uribe, e com apoio tecnológico americano, passa a se refugiar em território equatoriano, aparentemente, com conivência do exército local. O principal comandante da guerrilha colombiana acabou sendo morto por uma ação do exército colombiano em pleno território equatoriano, o que gerou uma situação de quase conflito entre os dois países. Porém, a crise entre os dois países foi contornada em 2009, através das negociações entre os ministros das relações exteriores, ocorridas numa cidade fronteiriça entre os dois países, através do estabelecimento de uma agenda positiva de paz, combate ao crime e desenvolvimento.

Recentemente, em abril de 2012, acaba de ser realizada a Sexta Cúpula das Américas, realizada em Cartagena, na Colômbia. O presidente equatoriano Correa foi o único, entre os países membros da OEA, a não comparecer, em desagravo à exclusão de Cuba da OEA. Muitos outros países que também são favoráveis à admissão de Cuba na OEA não aderiram a este boicote liderado por Correa.

Análise de Conjuntura Internacional de Myanmar


(Lucas Cilento)

Myanmar, ou Birmânia, como era tradicionalmente conhecido, esteve durante um período de 62 anos (1824-1886) sob domínio britânico, incorporado como parte do seu império indiano. A Birmânia foi província da Índia até 1937, passando a ser uma província autônoma naquele ano até que, em 1948, consegue a sua independência total, tendo como presidente Sao Shwe Thaik e como primeiro-ministro, U Nu.

Assim, fugindo do padrão da maioria das ex-colônias britânicas, a Birmânia não adere ao “Commomwealth of Nations”, grupo de cooperativismo internacional patrocinado pelo Reino Unido. Durante os anos de 1962 a 1988, o país foi controlado pelo general Ne Win, primeiro como ditador militar e, depois, como presidente eleito por colégio eleitoral. Problemas econômicos combinados com repressão política provocaram manifestações generalizadas pró-democracia no final dos anos 1980. Nesse momento, forças de segurança sufocaram as manifestações, provocando a morte de centenas de pessoas. Essas mobilizações resultaram num golpe de estado liderado pelo general Saw Maung que, em 1990, cria o Conselho de Estado para a Restauração da Lei e da Ordem que, na prática, seria o responsável pelo governo do país.

Em maio de 1990, o novo governo militar promoveu eleições livres pela primeira vez em quase 30 anos. A Liga Nacional pela Democracia, principal partido da oposição, liderado por Aung San Suu Kyi, o principal ícone da oposição ao regime militar, ganhou 392 dos 489 assentos da Assembléia Popular. Entretanto, os resultados foram anulados pelo Conselho de Restauração da Ordem, se recusando a deixar o poder.

A liderança do movimento de democratização rendeu notoriedade a Aung San Suu Kyi, que acabou recebendo o prêmio Nobel da Paz no ano de 1991, pela sua "luta não-violenta em favor da democracia e dos direitos Humanos", segundo o Comitê do prêmio. Entretanto, a militante birmanesa nunca pôde ir a Oslo para receber pessoalmente este prêmio, pois estava em prisão domiciliar desde 1988.

Em janeiro de 2011 o antigo primeiro ministro é eleito presidente, Thein Sein, apesar da maioria dos parlamentares serem militares ou ex-militares, e o governo inicia uma série de reformas políticas e econômicas no país, incluindo a soltura de presos políticos, a elaboração de acordos de paz com minorias étnicas armadas, a redução da censura da mídia e a abertura de debates parlamentares, como a eleição de membros do parlamento por meio de votação a partir de abril de 2012. No entanto, apesar da abertura política, ainda se considera que o país viva sob um regime de ditadura militar.

A Birmânia faz fronteiras com Bangladesh, China, Índia, Laos e Tailândia e conta como principais setores da economia os setores extrativos de petróleo, zinco, tungstênio, carvão, pedras preciosas e gás natural, além da grande produção alimentar de arroz. Este país rico em matérias-prima sofre com a falta de transparência de seus governos autoritários e com elevado nível de ineficiência e corrupção. Apesar do significativo aumento das receitas de exportação de gás natural, e da onda de investimentos chineses, as condições socioeconômicas não apresentaram melhoras significativas, devido aos problemas de gestão pública e dos constantes problemas de gestão macroeconômica, como gestão da taxa de câmbio, sobrevalorização artificial do Kyat (moeda local), câmbio negro, evasão de divisas, ausência de crédito comercial, juros elevados e inflação elevada. Aproximadamente 32% da população vivem abaixo da linha de pobreza e a Birmânia é considerada o país mais pobre do sudeste asiático.

Outras áreas, como manufaturas, turismo e serviços, ainda lutam contra a pobre infraestrutura do país, o pouco desenvolvimento do capital humano, devido a sistemas de educação e saúde deficitários. O sistema financeiro local encontra-se muito restringido, com baixo nível de acesso ao crédito, uma vez que os bancos privados operam com grandes limitações.

A limitação do crédito ao pequeno produtor rural foi bastante minimizada no vizinho Bangladesh, através da disseminação de estratégias de microcrédito, concedido às mulheres de cada família, provocando melhorias visíveis na evolução na produção, na renda e no nível de consumo das famílias que, na média, se multiplicou por 2.

Outro grande problema enfrentado pela Birmânia tem sido o trafico de pessoas, que são agenciadas na direção das grandes cidades e dos países vizinhos, para serem usadas em trabalhos semi-escravo e para a prostituição. Jovens e crianças birmanesas são encaminhadas aos campos agrícolas na Tailândia e mulheres são encaminhadas para Malásia, Tailândia, Índia e China, tanto para o trabalho doméstico servil como para a exploração sexual.

Myanmar é dividido em 7 estados, um deles sendo Arakan, onde vive uma minoria muçulmana, denominados Rohingya, que vivem no noroeste do país e se assemelham cultural e linguisticamente aos bengalis, o grupo étnico predominante em Bangladesh. Esse grupo, segundo a Anistia Internacional, tem sofrido perseguições e violações dos direitos humanos sob o governo militar birmanês. O motivo é que a maioria dos Rohingya é uma população sem cidadania. Não reconhecidos como birmaneses pela própria Birmânia, e ao mesmo tempo marginalizados e tratados como indivíduos sem direitos no Bangladesh, acabam por ser privados de uma pátria de acolhimento e até mesmo do direito de requerer asilo. Com isso, cerca de 20.000 Rohingyas estão vivendo em campos de refugiados da ONU em Bangladesh, e outros cerca de 200.000 vivem ilegalmente em Bangladesh. Os próprios Rohingya foram obrigados, em 2010, a construir uma cerca de arame farpado, para deter o movimento migratório praticado por seu próprio povo na direção do Bangladesh, com o intuito de amenizar a tensão causada na fronteira, ocupada militarmente. Esta cerca tem aproximadamente 200 km, e percorre boa parte da fronteira com o Bangladesh.

As reforma necessária para Miamar parecem já terem sido iniciadas, em grande parte por pressão externa. A grande mobilização da opinião pública internacional pela democratização do país, iniciada em 1988, os movimentos pela libertação Aung San Suu Kyi, em 1991 e, mais tarde, os protestos dos monges em setembro de 2007, com a morte de cerca de 100 monges manifestantes, tem sido acompanhada e apoiada por organizações não-governamentais ocidentais, como a “Free Burma Coalition”, criada em 1995, para tentar libertar o país da ditadura militar. Empresas multinacionais tem contribuído para financiar muitas ONGs, tais como a ARCO, Pepsi e Texaco, que foram obrigadas a abandonar o país nos anos 1990 pela ditadura militar. A militância da mídia americana também tem sido um fator importante de pressão, ao repercutir bastante as ações de repressão do regime militar, provocando a reação e o engajamento das redes sociais alternativas, como o movimento dos blogueiros americanos.

Diante dessa mobilização internacional, o fim da ditadura em Miamar pode ser uma questão de tempo, para alguns analistas, visto que Austrália, Reino Unido e Estados Unidos são os principais pivôs desse movimento de transição de governo. Por outro lado, a China tem sido o principal avalista do atual governo, recebendo como contrapartida a exclusividade de exploração dos recursos minerais birmaneses. Com a esperada queda do governo militar, espera-se que o país volte a se abrir, voltando a receber investimentos de empresas e governos ocidentais, dinamizando a economia local. Contudo, as tensões étnicas despertadas com a crise econômica e a repressão política, podem cobrar seu preço em termos de uma estabilização demorada, e o país poderá continuar a ser um dos principais focos de tensões nos sudoeste asiático, exportando instabilidade para seus vizinhos, especialmente Bangladesh e Tailândia.

terça-feira, 24 de abril de 2012

A crise europeia e as relações entre Moldávia e Romênia

(Daiane Oliveira)

Com o agravamento da crise econômica europeia, as tensões entre Moldávia e Romênia tem se deteriorado, especialmente a partir de julho de 2010. Na Romênia, é crescente o sentimento de que uma das causas principais das penúrias vividas pelo país após a deflagração da crise econômica seria justamente o peso da política de incorporação da antiga república soviética da Moldávia. Esta política resultou em grandes reformas administrativas e na extensão de políticas sociais para grande parte da população moldava, uma vez que o governo romeno reconheceu o passaporte soviético dos moldavos como documento válido para a residência na Romênia, o que resultou em forte onda de imigração.

A grande maioria dos moldavos que entra na Romênia busca a continuação da migração para a União Europeia a partir da Romênia, visando especialmente a Itália e a Espanha. Mesmo assim, este fluxo imigratório é percebido como elemento complicador para a estagnada economia romena, a segunda mais pobre da União Europeia, ao lado da Bulgária, aumentando ali as taxas de desemprego. Além disso, os custos da integração oneram o orçamento romeno, devido às ações na formação de infraestruturas e políticas sociais, especialmente educação e formação técnica.

Numa conjuntura de recessão e desemprego na Europa ocidental, a administração comunitária tem pressionado a Romênia a rever sua política de fronteiras abertas, o que viabiliza a entrada de trabalhadores de mão-de-obra barata competindo em outras regiões do continente, contribuindo para desvalorizar os salários. Uma demanda difícil de ser administrada na Romênia, que vê o povo moldavo como culturalmente ligado à Romênia. Um grande dilema político.

Desafios da economia do Senegal

(Bruna Rossane de Freitas)

Mesmo não sendo a maior economia da África Ocidental (o PIB da Costa do Marfim é duas vezes maior), o Senegal possui uma economia muito variada e influente sobre seus vizinhos regionais, apresentando uma base industrial bem diversificada. Sua indústria turística também é importante, sendo o país mais visitado na África Ocidental.

A agricultura, que representa apenas um quinto do PIB, emprega quase três quartos da população economicamente ativa, onde boa parte desta produção é orientada para o consumo doméstico, e sua produção agrícola é, no entanto, altamente vulnerável aos padrões climáticos. A irrigação permanece como um dos principais desafios econômicos do país. Os principais produtos agrícolas produzidos são o amendoim (que ocupa cerca de 40% das terras produtivas) e o algodão. O sector da pesca é o principal setor de exportação e principal fonte de divisas, sendo responsável por 30% das exportações. Outros recursos primários importantes são a exportação de fosfato, a base da industrial local de fertilizantes.

O Senegal é um dos países mais industrializados da região, mas a competitividade é geralmente pobre, em grande parte por causa de altos custos de produção. Já o turismo se baseia nos complexos turísticos das praias do sul do país e na localização privilegiada de Dakar nas rotas aéreas e marítimas, contribuindo com alguma importância para a economia local.

Depois de enfrentar praticamente duas décadas de sucessivos programas de reforma econômica, em junho de 2000, o FMI e o Banco Mundial concordaram em apoiar um pacote abrangente de redução da dívida no âmbito dos Países Pobres Altamente Endividados (HIPC), em reconhecimento do progresso que o governo tem feito, condicionada à conclusão de um documento de estratégia de redução da pobreza e a manutenção de um ambiente macro econômico estável, o que tem contribuído para o equacionamento de uma tradicionalmente pesada dívida externa.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Brasil, o BRICS e seus parceiros

(Fernando Padovani)

Realizou-se em Nova Delhi neste final de março a segunda cúpula dos países BRICS, com a presença dos chefes de Estado deste novo bloco de cooperação. Ali, foram discutidas algumas estratégias de consolidação desta organização, tais como ampliação dos acordos monetários e tarifários para o comércio exterior, mecanismos de cooperação científica ou ainda a proposta de constituição de um banco de desenvolvimento do bloco. Trata-se de projetos importantes, que contribuirão sem dúvida para agregar conteúdo a esta iniciativa.

Entretanto, os resultados mais concretos que poderão resultar da reunião serão sempre aqueles relacionados com a própria consolidação do bloco do ponto de vista estratégico, mobilizando seus membros em torno dos objetivos estratégicos comuns dos membros do grupo. Mais que interesses comerciais de curto prazo, o bloco busca objetivos de longo prazo de natureza negocial e, para isso, tem diante de si o desafio de consolidar e ampliar o grau de coesão interna e de articulação do grupo.

São comuns análises no sentido do questionamento da "coerência" econômica ou comercial do bloco, tendo em vista sua complementaridade ou não dos interesses exportadores, ou ainda sobre a artificialidade ou não da composição deste agrupamento de países tão diversos, tanto do ponto de visto geográfico como da estrutura econômica. Entretanto, a coerência que anima a institucionalização do grupo repousa sobre os interesses comuns de caráter estratégico das quatro maiores economias emergentes, contando recentemente com a incorporação da África do Sul, com representatividade emergente por ser a maior economia africana.

Este grupo representa hoje um quinto do PIB mundial, e seu peso relativo não pára de aumentar, tendo em visto o encolhimento do G-7, resultado da crise e a recessão originada em 2008 nos mercados financeiros do hemisfério norte. Embora também afetadas pela recessão mundial, estas grandes economias emergentes passaram praticamente ilesas pela crise, sobretudo em termos comparativos, ao considerarmos o tamanho dos problemas enfrentados por EUA, Europa e Japão. Ao contrário, muitas economias emergentes se beneficiaram com a crise, conquistando novos mercados, reconstituindo suas reservas internacionais, saneando o perfil do endividamento público, com a possibilidade de alongamento da dívida. A manutenção de um elevado volume de entrada de investimentos estrangeiros diretos mas também financeiros nessas economias, a manutenção de elevadas taxas de crescimento na China e na Índia, e a relativa estabilidade dos mercados financeiros emergentes são elementos que parecem confirmar um certo descolamento dos problemas europeus.

Essa conjuntura representou de fato um aumento relativo de importância das maiores economias emergentes, colocando sobre a mesa o debate sobre uma paralela reorganização das relações de influência na economia mundial. Ainda sem iniciativas concretas nesse sentido, as demandas por parte das economias emergentes aparecem, especialmente por parte das quatro maiores, reivindicando maior participação nos centros de decisão da economia mundial, ou seja, reivindicando mais voz, vez, voto e veto. Seria esse contexto de reordenação da influência econômica que forjaria entre esses países BRICS interesses imediatos, táticos, pontuais e, por isso, provavelmente transitórios, para a atuação coordenada, na forma de grupo. Por essa razão, é preciso ter em mente que, mais do que um projeto de integração comercial e econômica, a bandeira dos BRICS deve ser entendida como um elemento de pressão dentro do processo, que na verdade nem foi iniciado, de reordenamento de forças na economia mundial.

O que atribui coerência ao bloco BRICS seria então justamente a dispersão geográfica e a heterogeneidade econômica de seus membros. Seria exatamente por não possuir dinâmicas naturais ou inerciais de cooperação, baseada na complementaridade econômica ou em proximidades de qualquer ordem, a não ser as demandas por uma participação emergente, que o bloco pretende construir dinâmicas institucionais de cooperação.

Os encontros periódicos, os protocolos de intenção, as declarações protocolares, e uma série de iniciativas variadas contribuem para a consolidação de uma dinâmica institucional própria, focada essencialmente na construção de uma identidade do bloco, externa mas, sobretudo, interna entre os países membros. Esta ritualística institucional em matéria de cooperação internacional deverá contribuir para que opinião pública, decisores empresariais, diplomacia, parlamentares, governos interiorizem a percepção de que esta diversidade geográfica e comercial possui interesses comuns, de que o bloco é um critério de decisão, e que os benefícios da cooperação, apesar de serem difusos e de longo prazo, são bastante concretos, relacionados à barganha por espaços de influência em benefício do grupo.

Nesse sentido, os BRICS vêm cultivando a elaboração de estratégias conjuntas, focadas basicamente na ação conjunta nos fóruns negociais internacionais, especialmente o recém constituído G-20, emprestando apoio em troca de vantagens coletivas, sempre no intuito de negociar configurações e reformas onde os BRICS venham a ter maior influência. São exemplos dessa iniciativa a proposta de reconfiguração do FMI, especialmente do que diz respeito à sua estrutura de cotas e decisão, e também na reconfiguração do B.I.S., a instância de regulação dos mercados financeiros, onde os BRICS não têm participação. Ou ainda apoio de cada país a questões de interesse dos demais membros do bloco dentro das negociações da OMC. Ao mesmo tempo, Índia, África do Sul e Brasil pretendem potencializar através do bloco suas demandas de assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, contando para isso com apoio dos membros China e Rússia.

Este esforço de lobby estratégico coordenado por estes países emergentes na forma da institucionalização dos BRICS tem a lógica e o momento, aproveitando o momento de crescimento próprio e aproveitando os problemas econômicos dos países de industrialização antiga, que já foram ricos e hoje se tornam caros, e enfrentam problemas de solvência e de produtividade decrescente. Mesmo assim, este processo está longe de ser automático. A estratégia central dos governos americano e europeu no front estratégico tende a ser de resistência e de protelação de decisões estruturais apenas para depois da recuperação econômica.

Além disso, os resultados do BRICS dependem diretamente da taxa de coerência e de coesão coletiva, o que parece ser uma tarefa ainda apenas em processo de construção. As tentações dos membros de divergir para atender os interesses nacionais mais diretos são constantes e importantes. O Brasil tem dificuldades de se alinhar às demandas de protecionismo agrícola da Índia, na sua condição de grande exportador de agro business. China e Índia têm divergências estratégicas e geopolíticas importantes no contexto asiático, especialmente aquelas envolvendo o apoio chinês aos vizinhos indianos. Brasil e Índia têm adotado medidas protecionistas orientadas especificamente às manufaturas chinesas, exatamente por sofrerem com a valorização de suas moedas e enfrentarem os impactos da retomada chinesa da política de desvalorização do yuan. E embora a China perceba a possibilidade de ganhos com a participação nos BRICS, a percepção de seu comprometimento de adesão ao grupo vem sempre acompanhada de suspeitas, em função da importância e da diversidade de sua influência global já consolidada.