quarta-feira, 2 de maio de 2012

A Jordânia e o seu cenário internacional


(Jéssica Abrahão)

Situada no Oriente médio, Al-Mamlakah al Urdiniyah al-Hashimiyah ou Reino Hachemita da Jordânia (nome com homenagem ao clã Hachim, ao qual os reis jordanianos pertencem) conquistou sua independência em 1946, ganhando assim o nome que possui hoje, pois antes fora chamada de Transjordânia. Esta terra de desertos arenosos, planícies rochosas e colinas verdes ocupa uma parte da antiga Palestina, que hoje é ocupada majoritariamente por Israel. Possui uma política externa pró-ocidente, a qual foi originada do tratado de paz feito com Israel para o fim da guerra entre os mesmos (em 1994), e pela crescente melhora entre a sua relação com os Estados Unidos após o final da Guerra do Golfo.

No inicio desta guerra, após a invasão do Kuwait por tropas iraquianas e pela represaria a este ataque pelos Estados Unidos e Grã Bretanha, a Jordânia anuncia-se a favor do Iraque, seu maior parceiro comercial, maior fonte de importação de petróleo, e também o maior destino das exportações dos produtos jordanianos (havia, inclusive, diversas empresas criadas apenas para facilitar o comércio entre esses dois países). Com esta aliança, a ajuda econômica vinda dos países ocidentais cessa, coincidindo com o aumento do número de refugiados palestinos que foram buscar abrigo na Jordânia. Com o acordo de paz feito com Israel, pondo um fim a um conflito que durou pouco mais de quarenta anos, a Jordânia retoma as relações com o ocidente, começando a realização de um projeto ambiental, junto a Israel, para evitar a extinção do Mar Morto (projeto baseado na tentativa de bombeamento de água para o leito do Mar Morto, vindas do Mar Vermelho) além de incentivar ainda mais um acordo de paz entre israelenses e palestinos. 

Também a partir deste tratado, a Jordânia aceita ser base de antimísseis estadunidenses, para garantir que qualquer tentativa iraquiana de envolver Israel no conflito acarretaria em sérias consequências para o mesmo. Logo, os laços comerciais com o Iraque se desfizeram aos poucos, e o país, nesta época, deixou de ser o maior parceiro comercial da Jordânia. Entretanto, mesmo com a oposição do Estado jordaniano à ocupação do Kuwait pelo Iraque, houve apoio popular da parcela palestina na Jordânia, a qual enviava ajuda humanitária para seus semelhantes que se encontravam em área de conflito. A grande parte desse apoio popular ao Iraque foi gerada pela insatisfação pelas consequências daquela guerra na Jordânia. A partir disso, os Estados Unidos tentaram ao máximo aproximar-se economicamente do Reino Hachemita, visando diminuir os impactos deixados pela Guerra do Golfo no país. Esta aproximação visou, além do quesito econômico, a área militar do país, que havia também sido degradada ao longo do conflito.

Contudo, o maior problema enfrentado pela Jordânia é, na verdade, sua quase ausência de recursos naturais. O país é um dos mais pobres em água do mundo, e tenta explorar maneiras de expandir sua fonte limitada e usar seus recursos hídricos da forma mais eficiente possível. A Jordânia também sofre com a insuficiência de outros recursos naturais, como os óleos. Durante a década de 1990, a sua importação de petróleo foi majoritariamente vinda do Iraque. Desde o início de 2003, esta tem vindo principalmente da Arábia Saudita e dos outros países do Golfo. Além disso, um gasoduto de gás natural vindo do Egito através da cidade portuária de Aqaba foi construído e já está operando. Este atingiu o norte da Jordânia e as obras para a sua extensão visando conectá-lo com a Síria e com outros países do Oriente Médio estão em andamento. Com o objetivo de desenvolver fontes de energia mais inerentes e renováveis, em 2007 a Jordânia começou a desenvolver uma nova estratégia energética, que incluía energia solar, eólica, nuclear, e a utilização de óleo de xisto betuminoso.

A partir do reinado do rei Abdullah II, iniciado em 1999, o Reino Hachemita começou um programa de reforma econômica, o qual diminuiu a maioria dos subsídios para agricultura e combustíveis, aprovou uma legislação que visava combater a corrupção e começou uma reforma tributária. Ele também contribuiu para a melhora do comércio entre o seu país e os outros do mundo, aderindo assim a Organização Mundial do Comércio (OMC) no ano 2000, assinado o Acordo de Associação com a União Europeia (tratado entre países pertencentes à União Europeia e não pertencentes que visava um plano de cooperação entre estes) em 2001, e assinou o acordo bilateral de livre comércio com os Estados Unidos, que entrou em vigor em 2001, sendo o primeiro país árabe a fazê-lo. Neste último, os Estados Unidos e a Jordânia acordaram reduzir as tarifas entre os produtos comercializados pelos mesmos, resultando assim na completa eliminação de impostos em quase todos os produtos, em 2010. Este tratado ainda visa o fornecimento de recursos naturais e de mão-de-obra, e também uma abertura comercial nas áreas de comunicação, construção, finanças, saúde, transporte e serviços, tanto quanto a aplicação rigorosa das normas internacionais de proteção à propriedade intelectual.

A Jordânia tem seguido as orientações do Fundo Monetário Internacional (FMI), praticando políticas monetárias cautelosas e obtendo progressos substanciais nas privatizações e na gradativa abertura econômica. Um significante fator que estimulou o crescimento da sua economia foi a criação de Zonas Industriais Qualificadoras (mais conhecidas como QIZ, devido à sua sigla em inglês) no território jordaniano, os quais produziriam bens que deveriam possuir uma porcentagem de insumos israelenses e estadunidenses para serem exportados. Tal atitude tem impulsionado a exportação de produtos manufaturados, principalmente na área de vestimentas. A economia seguiu crescendo pouco a pouco até 2009 quando, devido à crise financeira mundial, o seu rendimento econômico teve certo decréscimo.

Com os Estados Unidos também foram assinados o tratado de aviação civil, que prevê "céus abertos" entre os dois países, um Tratado Bilateral de Investimentos, para a proteção dos incentivos tidos pelos mesmos, um Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica, para fortalecer e facilitar a cooperação científica entre os dois países e um memorando de cooperação energética nuclear. Tais acordos auxiliam os esforços para ajudar a diversificar a economia jordaniana e promover o seu crescimento, ao mesmo tempo em que diminui a dependência da exportação de fosfatos, potássio e têxtil, tanto quanto a dependência de ajuda de outros países. O governo tem enfatizado as áreas de Tecnologia da Informação (TI), farmacêutica e turismo, assim como outras áreas promissoras. Os baixos impostos e a baixa regulação na Zona Econômica Especial de Aqaba são considerados um modelo de crescimento subsidiado pelo governo e liderado pela iniciativa privada, o qual também fez crescer o seu número de produtos exportados. Em 2006, a Jordânia reduziu de forma significativa a sua dívida com relação ao PIB, tornando-se economicamente mais atraente e captando mais investimentos estrangeiros.

Entretanto, por mais que durante estes anos tenham entrado em vigor muitos acordos econômicos para um crescimento da exportação e da economia jordaniana, a sua atividade mais rentável continua sendo o turismo. Este pequeno país do Oriente Médio que abriga uma grande quantidade de muçulmanos sunitas, alguns católicos, xiitas e drusos, é palco de inúmeras atrações turísticas de inegável beleza, banhadas pela história e pela cultura oriental. Um bom exemplo deles é a cidade de Petra, esculpida em pedra pelos Nabateus, que ficou perdida por mais de mil anos. Em sua época, Petra foi um ponto de muita importância na rota comercial do Oriente Médio, pela qual passavam produtos vindos da China, Índia e Arábia do Sul com destino ao Egito, Síria, Grécia, Roma e vice-versa. Mas a beleza não está apenas na história e nas esculturas em pedra em si, mas também em toda a beleza natural que envolve o local, desde o seu trajeto até a chegada à cidade. Outra atração jordaniana bem famosa é a cidade de Madaba, conhecida pelos mosaicos deixados de herança pelos bizantinos e omíadas. Dentre eles, encontra-se o famoso Mapa de Madaba, o qual mostra o Mar Morto, Jerusalém e o Rio Nilo, compondo a Terra Santa, formado por dois milhões de peças perfeitamente juntas e que formam o artístico solo da Igreja Ortodoxa de São Jorge, nesta cidade.

O turismo na Jordânia só não apresenta um crescimento maior por causa da reputação de insegurança do Oriente Médio pelo mundo afora. Se não fosse pela imagem de guerra disseminada pelo globo, pelos estereótipos equivocados da cultura árabe e muçulmana disseminada no Ocidente, e própria instabilidade na região, as atrações turísticas atrairiam um numero muito maior de pessoas, fazendo com que a dependência da Jordânia de outros países diminuísse, e esta pudesse sustentar o seu desenvolvimento aos poucos, e de forma mais independente.

O que o futuro reserva para este pequeno país, gerido por uma monarquia constitucional, que por mais que ainda preserve traços culturais fortes se abriu muito para a cultura ocidental e a absorveu, não se sabe. Apenas se estima que poderá sim ter um grande crescimento econômico driblando todas as dificuldades impostas pela geografia e pela política, abraçando a sua cultura e mostrando ao mundo que sim, há um Oasis no meio de um suposto deserto devastado pelas guerras visto pelo ocidente, e ele fica entre as fronteiras com a Arábia Saudita, Síria, Iraque e Israel, e é banhado pelas águas do Golfo de Aqaba.

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