terça-feira, 24 de abril de 2012

A crise europeia e as relações entre Moldávia e Romênia

(Daiane Oliveira)

Com o agravamento da crise econômica europeia, as tensões entre Moldávia e Romênia tem se deteriorado, especialmente a partir de julho de 2010. Na Romênia, é crescente o sentimento de que uma das causas principais das penúrias vividas pelo país após a deflagração da crise econômica seria justamente o peso da política de incorporação da antiga república soviética da Moldávia. Esta política resultou em grandes reformas administrativas e na extensão de políticas sociais para grande parte da população moldava, uma vez que o governo romeno reconheceu o passaporte soviético dos moldavos como documento válido para a residência na Romênia, o que resultou em forte onda de imigração.

A grande maioria dos moldavos que entra na Romênia busca a continuação da migração para a União Europeia a partir da Romênia, visando especialmente a Itália e a Espanha. Mesmo assim, este fluxo imigratório é percebido como elemento complicador para a estagnada economia romena, a segunda mais pobre da União Europeia, ao lado da Bulgária, aumentando ali as taxas de desemprego. Além disso, os custos da integração oneram o orçamento romeno, devido às ações na formação de infraestruturas e políticas sociais, especialmente educação e formação técnica.

Numa conjuntura de recessão e desemprego na Europa ocidental, a administração comunitária tem pressionado a Romênia a rever sua política de fronteiras abertas, o que viabiliza a entrada de trabalhadores de mão-de-obra barata competindo em outras regiões do continente, contribuindo para desvalorizar os salários. Uma demanda difícil de ser administrada na Romênia, que vê o povo moldavo como culturalmente ligado à Romênia. Um grande dilema político.

Desafios da economia do Senegal

(Bruna Rossane de Freitas)

Mesmo não sendo a maior economia da África Ocidental (o PIB da Costa do Marfim é duas vezes maior), o Senegal possui uma economia muito variada e influente sobre seus vizinhos regionais, apresentando uma base industrial bem diversificada. Sua indústria turística também é importante, sendo o país mais visitado na África Ocidental.

A agricultura, que representa apenas um quinto do PIB, emprega quase três quartos da população economicamente ativa, onde boa parte desta produção é orientada para o consumo doméstico, e sua produção agrícola é, no entanto, altamente vulnerável aos padrões climáticos. A irrigação permanece como um dos principais desafios econômicos do país. Os principais produtos agrícolas produzidos são o amendoim (que ocupa cerca de 40% das terras produtivas) e o algodão. O sector da pesca é o principal setor de exportação e principal fonte de divisas, sendo responsável por 30% das exportações. Outros recursos primários importantes são a exportação de fosfato, a base da industrial local de fertilizantes.

O Senegal é um dos países mais industrializados da região, mas a competitividade é geralmente pobre, em grande parte por causa de altos custos de produção. Já o turismo se baseia nos complexos turísticos das praias do sul do país e na localização privilegiada de Dakar nas rotas aéreas e marítimas, contribuindo com alguma importância para a economia local.

Depois de enfrentar praticamente duas décadas de sucessivos programas de reforma econômica, em junho de 2000, o FMI e o Banco Mundial concordaram em apoiar um pacote abrangente de redução da dívida no âmbito dos Países Pobres Altamente Endividados (HIPC), em reconhecimento do progresso que o governo tem feito, condicionada à conclusão de um documento de estratégia de redução da pobreza e a manutenção de um ambiente macro econômico estável, o que tem contribuído para o equacionamento de uma tradicionalmente pesada dívida externa.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Brasil, o BRICS e seus parceiros

(Fernando Padovani)

Realizou-se em Nova Delhi neste final de março a segunda cúpula dos países BRICS, com a presença dos chefes de Estado deste novo bloco de cooperação. Ali, foram discutidas algumas estratégias de consolidação desta organização, tais como ampliação dos acordos monetários e tarifários para o comércio exterior, mecanismos de cooperação científica ou ainda a proposta de constituição de um banco de desenvolvimento do bloco. Trata-se de projetos importantes, que contribuirão sem dúvida para agregar conteúdo a esta iniciativa.

Entretanto, os resultados mais concretos que poderão resultar da reunião serão sempre aqueles relacionados com a própria consolidação do bloco do ponto de vista estratégico, mobilizando seus membros em torno dos objetivos estratégicos comuns dos membros do grupo. Mais que interesses comerciais de curto prazo, o bloco busca objetivos de longo prazo de natureza negocial e, para isso, tem diante de si o desafio de consolidar e ampliar o grau de coesão interna e de articulação do grupo.

São comuns análises no sentido do questionamento da "coerência" econômica ou comercial do bloco, tendo em vista sua complementaridade ou não dos interesses exportadores, ou ainda sobre a artificialidade ou não da composição deste agrupamento de países tão diversos, tanto do ponto de visto geográfico como da estrutura econômica. Entretanto, a coerência que anima a institucionalização do grupo repousa sobre os interesses comuns de caráter estratégico das quatro maiores economias emergentes, contando recentemente com a incorporação da África do Sul, com representatividade emergente por ser a maior economia africana.

Este grupo representa hoje um quinto do PIB mundial, e seu peso relativo não pára de aumentar, tendo em visto o encolhimento do G-7, resultado da crise e a recessão originada em 2008 nos mercados financeiros do hemisfério norte. Embora também afetadas pela recessão mundial, estas grandes economias emergentes passaram praticamente ilesas pela crise, sobretudo em termos comparativos, ao considerarmos o tamanho dos problemas enfrentados por EUA, Europa e Japão. Ao contrário, muitas economias emergentes se beneficiaram com a crise, conquistando novos mercados, reconstituindo suas reservas internacionais, saneando o perfil do endividamento público, com a possibilidade de alongamento da dívida. A manutenção de um elevado volume de entrada de investimentos estrangeiros diretos mas também financeiros nessas economias, a manutenção de elevadas taxas de crescimento na China e na Índia, e a relativa estabilidade dos mercados financeiros emergentes são elementos que parecem confirmar um certo descolamento dos problemas europeus.

Essa conjuntura representou de fato um aumento relativo de importância das maiores economias emergentes, colocando sobre a mesa o debate sobre uma paralela reorganização das relações de influência na economia mundial. Ainda sem iniciativas concretas nesse sentido, as demandas por parte das economias emergentes aparecem, especialmente por parte das quatro maiores, reivindicando maior participação nos centros de decisão da economia mundial, ou seja, reivindicando mais voz, vez, voto e veto. Seria esse contexto de reordenação da influência econômica que forjaria entre esses países BRICS interesses imediatos, táticos, pontuais e, por isso, provavelmente transitórios, para a atuação coordenada, na forma de grupo. Por essa razão, é preciso ter em mente que, mais do que um projeto de integração comercial e econômica, a bandeira dos BRICS deve ser entendida como um elemento de pressão dentro do processo, que na verdade nem foi iniciado, de reordenamento de forças na economia mundial.

O que atribui coerência ao bloco BRICS seria então justamente a dispersão geográfica e a heterogeneidade econômica de seus membros. Seria exatamente por não possuir dinâmicas naturais ou inerciais de cooperação, baseada na complementaridade econômica ou em proximidades de qualquer ordem, a não ser as demandas por uma participação emergente, que o bloco pretende construir dinâmicas institucionais de cooperação.

Os encontros periódicos, os protocolos de intenção, as declarações protocolares, e uma série de iniciativas variadas contribuem para a consolidação de uma dinâmica institucional própria, focada essencialmente na construção de uma identidade do bloco, externa mas, sobretudo, interna entre os países membros. Esta ritualística institucional em matéria de cooperação internacional deverá contribuir para que opinião pública, decisores empresariais, diplomacia, parlamentares, governos interiorizem a percepção de que esta diversidade geográfica e comercial possui interesses comuns, de que o bloco é um critério de decisão, e que os benefícios da cooperação, apesar de serem difusos e de longo prazo, são bastante concretos, relacionados à barganha por espaços de influência em benefício do grupo.

Nesse sentido, os BRICS vêm cultivando a elaboração de estratégias conjuntas, focadas basicamente na ação conjunta nos fóruns negociais internacionais, especialmente o recém constituído G-20, emprestando apoio em troca de vantagens coletivas, sempre no intuito de negociar configurações e reformas onde os BRICS venham a ter maior influência. São exemplos dessa iniciativa a proposta de reconfiguração do FMI, especialmente do que diz respeito à sua estrutura de cotas e decisão, e também na reconfiguração do B.I.S., a instância de regulação dos mercados financeiros, onde os BRICS não têm participação. Ou ainda apoio de cada país a questões de interesse dos demais membros do bloco dentro das negociações da OMC. Ao mesmo tempo, Índia, África do Sul e Brasil pretendem potencializar através do bloco suas demandas de assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, contando para isso com apoio dos membros China e Rússia.

Este esforço de lobby estratégico coordenado por estes países emergentes na forma da institucionalização dos BRICS tem a lógica e o momento, aproveitando o momento de crescimento próprio e aproveitando os problemas econômicos dos países de industrialização antiga, que já foram ricos e hoje se tornam caros, e enfrentam problemas de solvência e de produtividade decrescente. Mesmo assim, este processo está longe de ser automático. A estratégia central dos governos americano e europeu no front estratégico tende a ser de resistência e de protelação de decisões estruturais apenas para depois da recuperação econômica.

Além disso, os resultados do BRICS dependem diretamente da taxa de coerência e de coesão coletiva, o que parece ser uma tarefa ainda apenas em processo de construção. As tentações dos membros de divergir para atender os interesses nacionais mais diretos são constantes e importantes. O Brasil tem dificuldades de se alinhar às demandas de protecionismo agrícola da Índia, na sua condição de grande exportador de agro business. China e Índia têm divergências estratégicas e geopolíticas importantes no contexto asiático, especialmente aquelas envolvendo o apoio chinês aos vizinhos indianos. Brasil e Índia têm adotado medidas protecionistas orientadas especificamente às manufaturas chinesas, exatamente por sofrerem com a valorização de suas moedas e enfrentarem os impactos da retomada chinesa da política de desvalorização do yuan. E embora a China perceba a possibilidade de ganhos com a participação nos BRICS, a percepção de seu comprometimento de adesão ao grupo vem sempre acompanhada de suspeitas, em função da importância e da diversidade de sua influência global já consolidada.

Desafios internacionais do Magrebe



(Carina Zabaleta)

O Magrebe é a região do Norte de África entre o Mar Mediterrâneo, o Saara e o Oceano Atlântico, abrangendo Marrocos, Argélia, Tunísia, Mauritânia e Líbia. Seus habitantes são chamados os "magrebis", que totalizam aproximadamente 83 milhões de habitantes. A região tem importantes recursos minerais (fosfato de ferro) e energia (gás natural e petróleo). Estes países constituíram uma organização de integração regional, a União do Magrebe Árabe (UMA), criada em 17 de fevereiro de 1989, através do Tratado de Marrakesh.

O PIB per capta deste bloco regional tem aumentado, mas a economia do Magrebe enfrenta novos desafios, especialmente aqueles trazidos pela globalização. Isso tem estimulado os governos a privatizar grandes setores das suas economias. A crise europeia tem afetado o crescimento do PIB, aumentando os preços dos produtos alimentares, dos quais a região depende da importação, promovendo descontentamento e rebeliões sociais. A industrialização é um fenômeno relativamente recente na região, e os principais setores produtivos são processamento de alimentos, materiais de construção (cimento e aço), especialmente na Argélia, têxteis e produtos petroquímicos.

No plano da integração regional, o processo de construção institucional da União Econômica Magrebi entre os cinco estados-membros foi estruturado de acordo com as seguintes etapas:

     - a instituição de uma zona de livre comércio com o desmantelamento do conjunto dos obstáculos tarifários e não tarifários ao comércio entre os países membros;
     - a união aduaneira que tende a instituir um espaço alfandegário unificado com adoção de uma tarifa exterior comum frente ao resto do mundo;
     - o mercado comum que deve consagrar a integração das economias magrebinas com a supressão das restrições à circulação dos fatores de produção através das fronteiras nacionais dos países membros.

A Declaração dos Chefes de Estado relativa à fundação da UMA, adotada na Cúpula de Marrakesh, marca por sua vez a vontade dos países membros de traduzir em feitos o sonho das gerações magrebinas de construir uma união regional. O Tratado constitutivo da UMA fixou os seguintes objetivos:

     - a consolidação da fraternidade entre os estados-membros e seus povo; a realização do progresso e o bem-estar de suas comunidades e a defesa de seus direitos;
     - a realização progressiva da livre circulação de pessoas de serviços, de mercadorias e de capitais entre os estados-membros;
     - a adoção de uma política comum em todos os âmbitos. Em matéria econômica, a política comum tem por objeto garantir o desenvolvimento industrial, agrícola, comercial e social dos estados-membros.

Os países da região: a Argélia:

A Argélia é o segundo maior país da África. Possui importância estratégica no continente africano devido às elevadas reservas de petróleo e gás natural. O setor de hidrocarbonetos é o pilar da economia, que representa aproximadamente 60% das receitas orçamentais e mais de 95% das receitas de exportação. A Argélia tem a sétima maior reserva de gás natural no mundo, é o segundo maior exportador de gás e o 14o. em reservas petrolíferas. O aumento dos preços de petróleo nos últimos anos contribuiu para melhorar os indicadores financeiros e macroeconômicos, tem reduzido a sua dívida externa para menos de 10% do PIB. O governo continua seus esforços para diversificar a economia, atraindo investimentos estrangeiros e estimulando os nacionais, no entanto, tem tido pouco sucesso na redução da elevada taxa de desemprego e na melhoria da qualidade de vida. As reformas estruturais da economia, tal como o desenvolvimento do setor bancário e o investimento em infra-estrutura avançam lentamente, dificultados pela corrupção e a burocracia. A Argélia é governada sob a Constituição de 1976, que fora revisada inúmeras vezes. Um Presidente lidera o poder executivo, que é eleito pelo voto popular para um mandato de 5 anos. O país conta com mais de 30 partidos políticos, porém o mais importante continua sendo a Frente de Libertação Nacional (FLN). Participa das seguintes organizações internacionais: Liga Árabe, União Africana, União do Magrebe Árabe, Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), G15.

Os países da região: o Marrocos:

O Marrocos é uma monarquia constitucional, com um parlamento eleito democraticamente, mas em que o rei é igualmente o chefe do governo. A economia deste país baseia-se na agricultura, nos serviços, na indústria transformadora e na exploração mineral. As principais produções das indústrias transformadoras são os produtos alimentares, os têxteis, os artigos de couro e os adubos. Os principais parceiros comerciais de Marrocos são: Portugal, França, Espanha, EUA e Alemanha. A aliança de forças políticas que patrocinaram a independência manteve-se no poder até 1958. Pouco depois, o partido dividiu-se em duas facções. A ala esquerda, excluída da administração central, tornou-se importante força de oposição ao Governo conservador então no poder. No seu conjunto, a política externa de Marrocos pode ser qualificada de ecumênica, na qual cabem relações, embora frias, com Israel, e bom entendimento com os Estados Unidos, exceto no que diz respeito a diferenças quanto ao Oriente Médio. Além disso, Marrocos vem ampliando o escopo de sua atuação diplomática, mediante a intensificação das relações com a América Latina e o Extremo Oriente – especialmente com a República Popular da China e Coreia do Sul.

Os países da região: a Líbia

A Líbia situa-se no Norte da África, à margem do Mediterrâneo, e faz fronteira com a Tunísia, Argélia, Níger, Chade, Sudão e Egito. O país conta com importantes recursos petrolíferos, que respondem por cerca de 30% do PIB e mais de 90% das receitas de exportação. O sistema político mostra-se bastante peculiar, na forma de um “Estado das massas”, segundo as teorias políticas do Coronel Muammar Khaddafi, líder supremo do país. A base ideológica do regime é a “Terceira Teoria Universal” (misto de populismo, socialismo e islamismo), elaborada por Khaddafi.

Os países da região: a Tunísia

A República da Tunísia situa-se às margens do Mar Mediterrâneo no Norte da África. A Tunísia constitui um Estado unitário que adota o regime presidencialista misto, do tipo francês, com chefias de Estado e de Governo distintas. A política governamental tem dado ênfase, igualmente, aos investimentos no setor de educação, aos direitos da mulher e à criação de empregos. A estabilidade política e social do país não é, portanto, conseqüência exclusiva de um regime centralizador, mas decorre, em certa medida, do elevado nível de alfabetização da população, das baixas taxas de pobreza e de crescimento populacional, características essas de países mais desenvolvidos. A Tunísia vem apresentando indicadores econômico-sociais que a fazem sobressair entre os países do continente africano, bem como nos âmbitos do mundo árabe e da sub-região do Magrebe. A economia tunisiana baseia-se, principalmente, no petróleo, fosfatos, agricultura e turismo. A economia da Tunísia é uma das mais abertas do continente africano atualmente. Sua vinculação com os mercados da Europa pode ser verificada através da existência de mais de 1.600 empresas européias operando no país. Com relação ao Magrebe, a Tunísia tem buscado revitalizar o processo da integração sub-regional, mediante iniciativas bilaterais junto aos demais países da área e no âmbito multilateral da União do Magrebe Árabe (UMA). Do ponto-de-vista econômico, essa revitalização complementaria o processo de associação com a UE, além de contribuir para evitar desvios no fluxo de comércio inter-regional. No caso europeu, além dos laços históricos e imperativos geográficos, o relacionamento veio a fundamentar-se, mais recentemente, no acordo de associação firmado com a União Européia em 1995. O instrumento prevê a eliminação de barreiras alfandegárias para produtos europeus, bem como a modernização da estrutura econômica tunisiana, e a concessão de ajuda financeira da UE à Tunísia. No entendimento das autoridades de Túnis, entretanto, os recursos proporcionados pelo lado europeu estariam aquém do esperado, sendo muito inferiores à ajuda prestada à Espanha e Portugal quando os mesmos foram inseridos na União.

O Panamá e as Repúblicas do Istimo: problemas de governabilidade na época de Omar e Martín Torrijos.

(Bernardo Castro Alves)


Localizadas na América Central, as Repúblicas integrantes da região do istmo são: Guatemala, Belize, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica e Panamá. A grande importância histórica dessa região dá ao Panamá forte influenciador político e econômico na a região, principalmente pela valorização do Canal do Panamá e pela histórica importância do Congresso do Panamá, de 1826, como precursor dos sistemas interamericano e mundial.

       O território panamenho é dividido ao meio pelo Canal do Panamá, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico. O território do Canal era controlado pelo governo norte-americano. Segundo o tratado de 1903, esta faixa de terra que se estende pelo istmo do Panamá pertenceria, em caráter definitivo aos Estados Unidos, que, assim, assumiram a responsabilidade pela construção, a manutenção e a proteção do canal do Panamá.

     No fim da década de 1960, porém, a oposição panamenha começou a se manifestar contra a presença dos norte americanos na região e, em 1977, foram assinados novos tratados, segundo os quais o Panamá assumiria o controle da zona do canal, bem como suas administração e vigilância, a partir do ano 2000.  O Panamá tem orientado sua ação externa no sentido da atração de investimentos e de maior acesso a mercados. Em seu programa de Governo, o presidente Torrijos anunciou que a política exterior deve ser executada em consonância com a estratégia de desenvolvimento nacional.

      Torrijos tem uma principal preocupação em, com seu governo, promover uma política exterior orientada para o fortalecimento da vigência do direito internacional, dos direitos humanos, da paz, da equidade, da cooperação internacional e da neutralidade, além de examinar os diferentes mecanismos de integração e cooperação econômica e comercial, tanto regionais, transformar o serviço exterior num instrumento de desenvolvimento econômico nacional tendo as missões diplomáticas, consulares e comerciais servindo de plataforma logística para a expansão do Canal.

       Além da grande expressão atribuída ao relacionamento com os EUA, o Panamá mantém convívio intenso com seus vizinhos diretos, Costa Rica e Colômbia, bem como com o México. Além dos países americanos, graças ao canal, há um bom relacionamento do Panamá com os países europeus ocidentais e asiáticos. Esse relacionamento tem cunho econômico-comercial, vinculado ao uso do Canal e a empreendimentos no país.

       Porém, a história do país não é composta apenas por bons momentos. Com a invasão dos EUA, abriu-se uma ferida profunda nos sentimentos dos panamenhos, que, quando estávamos contra a ditadura imposta por Omar Torrijos e Manuel Noriega, não aceitavam a invasão como uma alternativa. No entanto, os setores mais abastados do país, as oligarquias panamenhas, sempre estiveram mendigando a invasão, pois isso favoreceria seus interesses. Porém, estudando os fatos, é possível notar que o problema não era a figura do presidente Noriega, mas o sistema militar que havia se instalado no Panamá. Isso é notável, pois, mesmo com a queda de Noriega, os problemas continuaram, ou como diz o professor Miguel Antônio Bernal: “Levaram Ali Babá e deixaram os 40 ladrões”.

        A invasão deixou as mesmas estruturas socio-econômicas e políticas. A estrutura atual do governo panamenho é contraditória em relação aos demais países da América Latina, onde a queda das ditaduras levou a uma mudança não só do texto constitucional, mas também a uma transformação real de certas instituições, de determinados comportamentos. Mas, no Panamá, nada disso aconteceu. Até 2007 não se podia dizer que o Panamá era um país totalmente autônomo. O governo obedecia aos ditames de Washington, era um governo de um ditador, um mensageiro da política exterior norte-americana. Não poderia se caracterizar, no país, uma política exterior própria.  O Panamá, por exemplo, era um dos 12 países, na época, que tinha relação com Taiwan, mas não tinham relação com a República Popular da China, e este era o segundo maior usuário do Canal. Para dar mais um exemplo: para votar na ONU, o embaixador do Panamá sempre esperava para ver como vota o embaixador dos EUA. As ações governamentais eram, portanto, orquestradas pelo poder norte-americano, mesmo o Panamá tendo uma política própria.

         Outro fato contraditório foi a assinatura de um Tratado de Livre Comércio com os EUA, no qual o Panamá cede uma parcela de coisas, sem receber nenhuma vantagem dos americanos, ou seja, sem reciprocidade.  Passando para a órbita da América latina, é possível notar que não existe uma relação mais estreita com os povos latino-americanos. O Panamá, desde a época colonial, foi uma contradição permanente, pois, ao mesmo tempo que era uma colônia, era considerada apenas uma via de passagem, graças ao Canal e ao fato de, por lá, passarem todas as riquezas que vinham do sul. Posteriormente houve a época de união à Colômbia, em que o Panamá era um departamento colombiano e, ao mesmo tempo, era via de passagem da estrada de ferro. No século XX, a região passou a ser uma “República e Canal”, mas não éramos podia ser considerado nem um nem outro, pois era reconhecido como Canal quando convinha e como República quando conveniente.
      
       A sociedade panamenha foi acumulando um ressentimento em cima de outro, já que nunca termina de resolver seus problemas, sempre esperando que outros os resolvam, em uma mescla de clientelismo, populismo, com o caudilhismo, mas em um ponto negativo, pegando o pior de cada um deles.  Várias contradições cercavam, também, a política interna panamenha. Por exemplo, houve tempos em que o presidente repartia 35 dólares ao mês a certas comarcas indígenas, isso para que vivessem. Por outro lado, privatizaram a energia elétrica para uma companhia espanhola, uma empresa só, iniciando mais um monopólio privado.

       A população, portanto, pagava a eletricidade mais cara de todo o continente. Pagavam 15 centavos (dólar) kw/h. O  Panamá apresenta estatísticas questionáveis: é o pais da América Latina que tem mais computadores per capita, mas é onde as pessoas possuem o menor acesso à internet. O país que tem 3 milhões de habitantes, e tem 10 jornais de massa, mas nenhum deles parecem informar muita coisa, simplesmente porque não trazem informações relevantes, são apenas negócios. Parte da responsabilidade pode ser atribuída à sociedade civil, mas também da classe dirigente do país, que mantém a sociedade como lhe convém.

        Muitos se perguntam o que tem que ser feito para que ocorra algo. Porém, muitos não acreditam que, ao menos que ocorra um fenômeno natural , um terremoto, um Tsunami, que a população leve um susto com a alta taxa de mortalidade, o povo tenha alguma reação. Porque lá acontecem coisas que não se passam em nenhum lado. Todo dia há um deputado, uma máfia, que juntos convergem uma série de interesses que são particulares, causando um dano muito grande.

        A educação também não é mais a de antes. Há mais estudantes nas salas de aulas, mas menos que possuem conhecimento. Existem 13.496 advogados panamenhos, e muitos não sabem o que iram fazer com tantos advogados.  Este perfil se instaurou até as eleições de 2009, onde o candidato da oposição Ricardo Martinelli venceu o herdeiro de Omar Torrijos, e começou a enfrentar uma série de desafios econômicos, por exemplo, o fato de que quase um terço dos impostos arrecadados no país é gerado pelo Canal do Panamá que, com a crise global, teve seu movimento bastante reduzido.
 
       Martinelli, que venceu as eleições com 61% dos votos, porém, já em suas primeiras semanas deixou claro o papel que desempenharia como fiel aliado dos Estados Unidos em sua estratégia de dominação na região. Em sua campanha midiática para a presidência, adotou a “mudança” como lema, defendendo o fim da violência e da corrupção. Entretanto, Martinelli não alterou as políticas públicas de controle do tráfico de ilícitos, das gangues e do jogo de azar e as estatísticas mostram que a violência continua aumentando.

         Na política econômica, insinuou para os empresários que flexibilizaria ainda mais as relações trabalhistas. Além disso, prometeu reduzir os impostos de quem ganha mais e  distribuir os ingressos do Fisco (Canal do Panamá, Zona Livre de Colón, os portos e outros) entre os investidores mais ricos.

         Quanto à política exterior, já em seu discurso de posse, Martinelli demonstrou sua tendência a subordinação aos Estados Unidos. Nesse sentido, as organizações sociais panamenhas denunciaram um acordo em marcha para a instalação de bases militares de Washington no território do país. O próprio ministro da Justiça, José Raul Mulino, anunciou que lograram um acordo para o estabelecimento de duas bases militares navais no Pacífico panamenho: uma em Bahía Piña e a outra em Punta Coca.

         Com isso, Ricardo Martinelli é mais um representante das oligarquias, as quais sofreram um refluxo na última década com o avanço de governos “progressistas”, mas têm-se fortalecido novamente nos últimos anos, devido só ao fracasso da “centro-esquerda” em organizar governos populares e também à nova orientação da política externa estadunidense, com a crise, no sentido do restabelecimento de sua influência na América Latina.