quarta-feira, 20 de junho de 2012

Esporte e Relações Internacionais

(Breno Souza de Freitas)

      As competições esportivas que envolvem países de diferentes partes do mundo, pessoas de diferentes nacionalidades, ideologias divergentes, têm como objetivo básico tentar celebrar simbolicamente a paz ou, pelo menos, como dizem os teóricos realistas, a ausência de conflitos. Este é o discurso dos organizadores, imprensa e líderes em relação aos grandes eventos esportivos internacionais. Essa é a idéia de seu símbolo, os cinco anéis unidos, representando a união entre os cinco continentes do globo.

Os esportes estão inseridos nas relações internacionais desde antes de Cristo, com os jogos olímpicos. Eles foram criados na Grécia, aproximadamente em 2500 a.C., onde apenas os povos helênicos participavam para homenagear seus deuses. Somente em 776 a.C. outras cidades-estado começaram a participar destes jogos.

Na era moderna, inspirados pelas Olimpíadas gregas, foi criada uma organização não-governamental (ONG) chamada Comitê Olímpico Internacional, no ano de 1894, para organizar e promover a competição. Atualmente, mais de 150 países participam dos Jogos Olímpicos, incluindo países totalmente divergentes, como Iraque e E.U.A., reuniu países antagônicos mesmo durante da guerra fria.

Os Jogos Olímpicos se desenvolveram a partir da idéia da universalidade, a ponto de quase todas nações serem representadas. Mas junto com ele cresceu também o número de problemas. Muitas vezes, no lugar da celebração, ele foi palco de tensões internacionais, verificando boicotes políticos, corrupção de agentes públicos, protestos étnicos, e até casos de terrorismo, como nas Olimpíadas de Munique, Alemanha, em 1972, onde um grupo terrorista palestino, conhecido como Setembro Negro, assassinou atletas israelenses.

Da simbologia da paz à teatralização dos conflitos internacionais. Diversos eventos acabaram a história dos Jogos Olímpicos, como a encenação de pretensões imperiais de potências emergentes, como tentativa de hegemonia esportiva nos Jogos de 1936, em Berlim, capital hitlerista, mesmo diante do percalço de vitórias de Jesse Owens no atletismo, o oposto do ideal racial ariano.

Ao mesmo tempo, os Jogos da paz não puderam resistir às guerras de fato e 3 edições foram canceladas em função dos conflitos mundiais, em 1916, 1940 e 1944.

Durante a Guerra Fria também fatos marcantes ocorreram, que envolveram as duas grandes superpotências da época, os norte-americanos e o soviéticos. Além de liderarem dois amplos bloqueios coletivos aos jogos de Moscou (1980) e Los Angeles (1984), demonstrando na prática a política de alinhamentos de blocos, várias batalhas simbólicas da guerra fria foram travadas nos terrenos de jogo, refletindo a tensão e o cenário internacional conturbado. A guerra fria esportiva foi travada em célebre batalhas esportivas, como a vitória americana no hóquei de gelo sobre os soviéticos e a vitória soviética na final olímpica do basquete.

Outra peculiaridade é que os Jogos em muitos casos são utilizados pelo país organizador como um instrumento de reafirmação de sua projeção emergente na cena internacional. Esta motivação de afirmação emergente pode ser detectada na Itália democrática e confiante (Roma 1960), no Japão reconstruído, performante e inserido na ordem ocidental (Tokio 1964), na América latina confiante dos anos 60 (México 1968), na nova democrática e poderosa Alemanha (Munique 1972), na potência soviética de projeção mundial (Moscou 1980), na emergente e rica Coréia (Seul 1988), na Espanha moderna em meio do milagre econômico (Barcelona 1992) e na demonstração de superioridade mundial da nova China (Beijing 2008).

Porém a Olimpíada não é o único evento com uma grande representatividade internacional. Sem dúvida nenhuma, a Copa do Mundo de futebol é o maior evento midiático do planeta. De maneira semelhante, regimes pretensiosos utilizam a organização para teatralizar suas pretensões (Italia 1934 ou Argentina 1978), nações emergentes visam reafirmar internacionalmente suas novas capacidades (México 1970, Alemanha 1974, Espanha 1982). Tão próximo da política andam os Mundiais de futebol que, significativamente, depois da desastrosa guerra que dividiu o continente europeu, a primeira Copa no continente só poderia ter sido realizada na Suíça

Além desses dois eventos, o terceiro maior é a Copa do mundo de Rugby, formando assim, a lista das três maiores competições internacionais, que, respectivamente, são os jogos olímpicos, a Copa do mundo de futebol e a Copa do mundo de Rugby. Esses três são os maiores por serem transmitidos em grande parte do mundo. Embora muito dediquem muita atenção aos Jogos Pan-americanos, este trata-se apenas de um pequeno evento regional.

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