quinta-feira, 17 de abril de 2014

Os estudos das Relações Internacionais em Singapura

(Arthur Gonçalves Lima )
 
Singapura foi por muitos anos uma colônia britânica, sofrendo pelo fardo colonial imposto por nações dominadas por grandes metrópoles. Constituído basicamente de uma economia de serviços, o país após sua independência (1965) passou longos anos de crise, o que estimulou a adoção, liderada pelo primeiro ministro Lee, de um regime de rápida industrialização. Para que tal ocorresse o governo criou um ambiente de investimentos seguros, sem corrupção e de baixos impostos, objetivando atrair o investimento de empresas estrangeiras. Para isso, o governo também investiu na capacitação da população, contando, para isso, com a colaboração de escolas técnicas e instituições  internacionais de ensino.
     Apesar do seu pequeno tamanho, a pequena nação assumiu certa relevância internacional ao especializar-se no comércio exterior. Essa grande internacionalização da economia local refletiu numa grande demanda por profissionais capacitados em análises internacionais. Vem deste fato o principal incentivo aos estudos das Relações Internacionais em Singapura.

     Em 1996, foi estabelecido pelo primeiro-ministro Keng o “Instituto de Defesa e Estudos Estratégicos” (Institute of Defence and Strategic Studies, IDSS). Dez anos depois o instituto seria rebatizado como “Rajaratnam School of International Studies - RSIS”, vinculado à Nanyang Technological University, em homenagem ao visionário diplomata e estrategista politico, um instituto focado no estudo e pesquisa dos temas estratégicos internacionais, principalmente aqueles voltados para a área do Pacífico.

     Na RSIS são encontrados dois programas de mestrado que podem ser relacionados à área de Relações Internacionais, um chamado “International Relations” e outro “International Political Economy”.

     Em “International Relations” o foco dado ao curso é de entendimento às teorias e compreensão das constantes mudanças globais. Analisa-se mais a área militar e energética integradas às teorias de RI e questões politicas estatais e não estatais e suas determinadas integrações e repartições.
     Os estudos são integrados em dois núcleos principais, sendo eles: Os Estudos de RI e Análise de Politica Externa. Ainda são oferecidos cursos (disciplinas) sobre estudos regionais asiáticos, leis e segurança tradicional e não tradicional, economia, dentre outros.

     Na academia da RSIS tem-se como principal professor, autor e comentarista em várias mídias o professor de Estratégia e Guerra Bernard Loo. Tendo publicado livros sobre estudos estratégicos, dentre os quais destaca-se “Medium Powers and Accidental Wars: a study in conventional strategic stability”.

     Relacionado também aos estudos de RI na Singapura temos o segundo programa de mestrado da RSIS: “Intertional Political Economy”. Volta-se, como o nome mostra, às conjunturas político-econômicas do mundo globalizado. Analisando teorias e praticas de ambas as disciplinas, o programa de “International Political Economy” espera elucidar questões sobre as transações e relações entre países, regiões e agentes econômicos, apresentar conhecimento sobre áreas de influencia e entender a história do desenvolvimento político-econômico sob perspectiva global para que sejam estudas com maior entendimento a dinâmica atual.
     Ainda há um programa de PhD em Relações Internacionais da RSIS. Direcionado à pesquisa, tem-se desde Estudos Estratégicos, passando por Relações Internacionais propriamente ditas e Administração da Politica e Economia Internacional. O programa oferece um novo grau de especialidade em certos assuntos, focados principalmente nas questões regionais do sudeste asiático e do pacifico.

     Também encontra-se em Singapura a Lee Kuan Yew School of Public Policy (LKY School), ligada à National University of Singapore (NUS), criada em 2004. Não totalmente voltada para os estudos de RI, a LKY School é uma faculdade de Politica Publica, porém possui o Center on Asian and Globalization (CAG) que se digna a estudar as relações asiáticas dentro do sistema internacional. Dentre os principais tópicos de estudos do CAG estão, as relações de poder na Ásia-Pacifico, os acordos regionais, as questões relativas aos bens públicos (alimentos, energia, meio-ambiente, água e saúde) e novas abordagens para a construção dos mercados na Ásia.
     Centrado dentro do tópico sobre as relações de poder na Ásia, pesquisas no âmbito de garantir a paz e desenvolvimento das nações tem sido um dos objetivos da CAG. Citando os Estados Unidos como principalmente garantia da paz na região e assumindo as instabilidades geradas por “ameaças externas” e a economia chinesa. A CAG mantém relações com a Chatam House para a realização de mesas redondas sobre os interesses e ameaças na Ásia-Pacifico.

     Em relação aos bens públicos a CAG mantém pesquisas para assegurar comida, água, energia e saúde para todos os asiáticos. Convergindo vários países, dentre eles Japão, Malásia, China e Índia, conferências são realizadas para maior alocação de recursos não só entre os próprios, mas também contando com ajuda global.
     O projeto de abertura dos mercados asiáticos à economia globalizada e suas novas abordagens de construção tem sido mais intensamente estudadas, focando na inter-relação entre dinâmicas internas e conjuntura internacional, especialmente em relação à “insurgente” economia chinesa.

     Portanto, embora os Estudos de RI não tenham sido iniciados tão cedo como nos Estados Unidos e no Reino Unido, percebe-se que a abertura de mercado iniciada por Lee impulsionou a demanda por analistas internacionais, dando inicio aos estudos. A tendência é que haja cada vez mais profissionais e escolas especializadas no ensino de RI em Singapura, dado pelo grande enfoque que todo Leste Asiático tem recebido nos últimos anos e a expansão do mercado chinês.

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