quarta-feira, 14 de maio de 2014

As relações entre China e África: uma leitura realista

(Ana Carolina Pinheiro Lourenço)

A velocidade do crescimento econômico da China impressiona. O país mais populoso do mundo está, também, entre os campeões de crescimento e também de investimentos externos. Em 2003, conseguiu atrair 52,7 bilhões de dólares e desbancou os Estados Unidos no ranking mundial dos países que mais receberam investimentos estrangeiros, de acordo com relatórios da Unctad, a agência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento. O país asiático já é de grande relevância no cenário internacional e sua expansão econômica gera aumento de poder, o que desagrada de fato os Estados Unidos, a maior potência mundial.


Apesar das aparências, o Estado chinês utiliza na realidade um discurso não pretencioso, não sinalizando desejos expansionistas regionais ou de projetos hegemônicos no plano global, nem no que refere a outras situações que possam gerar conflito direto com os norte-americanos. Analisando o conteúdo do discurso chinês, é possível perceber o desejo de uma aproximação maior com parceiros regionais asiáticos e também com a África, visando uma cooperação mais pragmática e realística, sul-sul. Acredita-se que essa seja a estratégia de expansão do gigante asiático, um “peaceful rising”, ir crescendo aos poucos, mas com discurso de que não pretende ser mais do que no momento é. Isso preocupa os hegemônicos países europeus e os Estados Unidos da América que se sentem ameaçados, ou pelo menos perturbados, por aquilo que receiam ser a ocupação de seus espaços de mercados tradicionais e de influência geopolítica no continente africano.

Pode-se dizer que o atual interesse da China pela África é consequência do enorme crescimento econômico chinês e do aumento da demanda por matérias-primas e fontes de energia, principalmente do petróleo, devido à dificuldade de acesso a essa energia fóssil do Oriente Médio, destinada prioritariamente para EUA e a Europa. Observando o passado recente, as relações chinesas na África têm se intensificado desde a década de 1990, quando a China enviou uma empresa estatal exploradora de petróleo para o Sudão, convertendo a situação desse país de importador para exportador de petróleo. Seguindo em seu investimento em busca do ouro negro, a China entrou com capital na Angola que atualmente fornece mais para os chineses do que a Arábia Saudita. Daí começa-se a entender o motivo da aproximação entre Estados africanos e a nação asiática.

A relação sul-sul entre os dois Estados analisados procura objetivar em benefícios mútuos. Enquanto a China busca matéria-prima, ela também constrói quase que gratuitamente meios de transporte para escoar a produção. Assim, a infraestrutura no continente africano vem se desenvolvendo e se adaptando, diga-se de passagem, aos interesses chineses. A presença chinesa também tem sido feita através de outras áreas de cooperação, como a criação de programas de bolsas destinadas a estudantes africanos, além de programas de construção de hospitais, escolas e infraestrutura urbana. 

Seja como for, esta aproximação chinesa, tem oferecido a oportunidade para um maior poder de barganha nas negociações tanto para africanos como para orientais. Por um lado a demanda por matérias primas é grande por parte da China e, por outro, os africanos não são os únicos fornecedores destes produtos. Esses novos e crescentes recursos de poder são importantes para o reequilíbrio internacional de forças, redefinindo condições de pressão e de defesa.

Segundo economistas do Standart Bank Group, a China estaria preparada para se tornar o principal destino das exportações africanas em 2013. Somente em 2011, o comércio entre os dois países foi algo em torno de US$160 bilhões, um aumento de 28% em relação a 2010. Para o futuro, a China também pretende uma maior participação das importações africanas, contribuindo tanto o desenvolvimento da África como para a sustentação de seu próprio crescimento. As importações africanas provenientes da China expandiram-se 24%, aumentando de US$ 59 bilhões em 2010 para US$ 73 bilhões em 2011, fruto do aumento do mercado consumidor africano. Por outro lado, a demanda da China por commodities africanas tende a durar ainda algum tempo, apoiada pelo crescimento do mercado doméstico e pelos investimentos em infraestrutura na China.

Os chineses nunca esconderam seus interesses de explorar as potencialidades econômicas do continente africano, mas para amenizar essa estratégia, também apoiam as políticas de desenvolvimento dos países no qual atuam, financiando investimentos nas áreas sócias e de infraestrutura. Mesmo porque, a construção de uma rodovia serve tanto ao desenvolvimento social como ao escoamento de exportações.

A influência chinesa na África tem aumentado também no plano diplomático: apenas quatro países (Burkina Faso, Gâmbia, Suazilândia e S. Tomé e Príncipe) mantêm relações oficiais com Taiwan, a ilha onde se refugiou o governo nacionalista após a tomada do poder pelo partido comunista, em 1949. Taiwan ainda é considerada como uma província pela China, e o seu reconhecimento internacional é um dos tabus nas relações bilaterais com Pequim.

Por enquanto, a relação entre os Estados é de equilíbrio, mas, no longo prazo, a China tende a se favorecer nessa relação, já que o crescimento dos mercados domésticos africanos pode representar um aumento da demanda por produtos com o selo “MADE IN CHINA”. Ao mesmo tempo, um aumento do comércio e dos investimentos chineses na África pode consolidar a influência política chinesa junto aos governos locais, representando em fonte de apoio no cenário internacional. 

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