terça-feira, 30 de julho de 2013

O Brasil, o Papa e o Mundo

(Fernando Padovani)

      As agendas papais sempre ocuparam grande espaço mediático na sociedade do espetáculo. A agenda de um novo Papa, e de um Papa argentino, e ainda mais em sua primeira viagem internacional, deverá sem dúvida ocupar muitas páginas e telas pelo planeta durante a próxima semana. O que trará novamente o Brasil para o centro do palco do velho teatro das nações.

A exposição ocasionada pelos grandes eventos provoca, efetivamente, impactos no plano das percepções médias vigentes na sociedade internacional. Influi na composição do “marketing de lugares”, descoberto pela Modernidade globalizada. Contribui com informações quase subliminares que servirão de referência futura para a tomada de decisões, sejam em investimentos, financiamentos e consumo. Mesmo considerando que as percepções internacionais tendam a se alterar de maneira gradual e cumulativa, a presença de Francisco, por si só, deverá ser capaz de intensificar a curiosidade dos olhares internacionais.

Nesses momentos de exposição, e na condição de grande economia emergente, o Brasil deve ser observado com maior atenção em domínios tais como a sua capacidade de organização, de mobilizar sua ação coletiva, da operacionalizar suas infraestruturas, como transporte e comunicação, a capacidade de gerir riscos e segurança, mas também sobre a capacidade da democracia brasileira lidar com seus descontentes.

Um ponto importante envolvendo as questões de segurança é que elas existem. Tanto no plano externo como no interno. No plano externo, vários atenuantes de risco existem, relacionados à origem do novo Papa, geográfica e eclesiástica, gerando um certo descolamento da imagem do cardeal Ratzinger. Atenuantes também seriam certas características do país anfitrião, um pouco distanciado do circuito das grandes ameaças da segurança internacional. Mas como demonstra a observação dos problemas de segurança ocorridos na última década (como atentados), o inesperado e o imprevisto costumam criar janelas de oportunidade.

No front interno, as questões de segurança se relacionam aos radicalismos domésticos, pois o “efeito holofote” deverá voltar a pressionar os governos locais que, então, se tornam bem mais interessados na ausência de distúrbios. A exposição ao olhar exterior fortalece o poder de barganha dos movimentos que promovem barulho, em função da intensificação da demanda governamental por silêncio. Os governos locais “acusam o golpe”, reprimindo de maneira mais ativa do que o habitual. Dinâmica universal que se complica ainda mais no contexto de uma sociedade como a brasileira, que ainda está tentando definir os limites entre autoridade e autoritarismo.

Os movimentos democráticos que canalizam demandas sociais, na verdade, não representam uma ameaça à segurança. Mas sim certas iniciativas radicais isoladas que podem capitalizar os momentos de suspensão da ordem cotidiana. Fato interessante da psicologia humana mas também social: a abertura de uma janela para o mundo exterior geralmente causa impactos no comportamento doméstico.

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