terça-feira, 31 de março de 2015

Quem quer ser um milionário ?

(Eduardo Pacheco)

     De uns anos pra cá, um polêmico fenômeno tem marcado o futebol mundial, especialmente europeu. Personalidades e instituições bilionárias têm feito investimentos gigantescos nos mais diversos clubes, principalmente naqueles que são populares e que se encontram em dificuldades financeiras. Magnatas russos, como Roman Abramovich, atual dono do Chelsea, da Inglaterra, e um dos pioneiros no assunto, mas também grupos ucranianos, malaios, árabes e até paquistaneses têm sido protagonistas dessa tendência.

     Entre tantos investidores, o maior volume de dinheiro investido no futebol europeu é proveniente das economias petroleiras do Oriente Médio. Khaldoon Al Mubarak e Nasser Al-Khelaïfi são os dois principais exemplos de investidores árabes. O primeiro, nascido nos Emirados Árabes e cuja fortuna é estimada em 25 bilhões de euros, o que o faz o segundo homem mais rico da Europa, atrás apenas do ex-primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, comprou em 2008 o Manchester City, da Inglaterra. Já o segundo, nascido no Qatar, tornou-se presidente do Paris Saint-Germain, da França, em 2011, após a Autoridade de Investimento do Qatar (QIA), um fundo soberano do país árabe ter comprado 70% da equipe parisiense, com o objetivo de diversificar os ativos do governo do país em setores não energéticos. A operação permitiu que craques de calibre mundial, como Cavani, Ibrahimovic, David Luiz, Thiago Silva e Lucas, fossem comprados pelo PSG, que gastou cerca de R$ 1,5 bilhão, em apenas quatro anos.

PSG e Manchester City ocupam as posições de 5º e 6º clubes mais ricos do mundo com ativos estimados em 474 e 414 milhões de euros, respectivamente. À frente das duas equipes encontram-se somente os gigantescos Real Madrid, Manchester United, Bayern de Munique e Barcelona.

     Desde suas aquisições por bilionários árabes, as duas equipes, que já eram, de certa forma, conhecidas, apesar de poucos títulos, tornaram-se potências nacionais, sendo os maiores campeões nacionais de seus respectivos países nos últimos três anos. No cenário europeu, tanto Manchester City quanto PSG ainda buscam afirmação.

     O incrível potencial financeiro das equipes já rendeu problemas extracampo para seus investidores. Em 2014, ambas as equipes foram enquadradas na regra de fair play financeiro, princípio estabelecido pela FIFA no intuito de limitar o gasto dos times, fixando como teto valores iguais ou inferior à arrecadação, uma espécie de lei de responsabilidade fiscal do futebol. Por conta dos excessivos gastos, City e PSG tiveram que pagar uma multa com valor equivalente a R$ 182 milhões e tiveram um limite de inscrição de jogadores para a Champions League 2014-15 inferior ao costumeiro.

  Além das duas equipes, outras cinco equipes contam com investimento proveniente do Oriente Médio em seu orçamento. As tradicionais equipes inglesas do Arsenal (que teve 29% dos seus direitos comprados em 2007), Leeds United e Nottingham Forest, o 1860 München, da Alemanha, e o Málaga, da Espanha, clube que também foi punido por falta de fair play financeiro, fecham a lista.


     O impressionante montante de recursos canalizados para os clubes, principalmente no caso do PSG, no qual uma instituição pública é a principal investidora, abre margem para longos debates. Seria o investimento desproporcional uma solução para clubes endividados e uma forma de montar equipes com muitos craques juntos ou seria ele um malefício ao esporte, afastando-o cada vez mais de sua maior característica, a paixão ?

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