terça-feira, 23 de junho de 2015

A globalização e as epidemias mundiais


(Rodrigo Stankevicz)


O advento da globalização trouxe uma série de benefícios para o Mundo, porém, trouxe também malefícios complexos. A relação mais intensa entre países, a crescente interdependência crescente em vários domínios da vida social, têm afetado também a saúde pública mundial. Em tempos de conexões mais intensas, surtos epidêmicos locais acabam causando alertas para todas as nações. Neste contexto de globalização, uma simples doença viral, identificada em regiões remotas do planeta, pode acabar chamando a atenção e exigindo esforços da comunidade internacional para que seja controlada e não torne-se uma epidemia global. Os esforços são muitos, porém parecem ainda insuficientes para conter as demandas crescentes dos últimos anos. A capacidade de gestão de epidemias e de coordenação de ações parecem agora mais ineficientes ainda, diante dos novos desafios.


O último caso amplamente noticiado foi a epidemia de Ebola, iniciada em Serra Leoa, na África Ocidental. Uma epidemia local acabou tomando proporções globais por falta de uma mobilização imediata, de controle e contenção, e de coordenação de ações no plano internacional. Os vírus parecem ser uma boa ilustração dos problemas da globalização, pois como a informação, flutuam rapidamente por cima das fronteiras nacionais, enquanto as instituições existentes para o seu combate e controle, permanecem restritas ao âmbito nacional de ação. Um descompasso entre problemas de alcance global e instituições de alcance nacional. A coordenação, para estes casos, parece ser cada vez mais importante. 

No caso do Ebola, iniciado em dezembro de 2013, data do primeiro óbito registrado, foi classificada como um surto somente em março de 2014 e como epidemia em agosto do mesmo ano. Segundo o coordenador de emergências do "Médicos Sem Fronteiras-MSF", Henry Gray, em entrevista à BBC, houve demora na divulgação do surto e da epidemia pelas autoridades internacionais, mesmo após vários alertas emitidos pelos MSF. À época, Gray lamentou, "foi frustrante, claro, não ter sido ouvidos, e isso provavelmente levou à escala da epidemia que vemos hoje". 

Vários fatores contribuem para que as autoridades locais atrasem a comunicação da doença, como um otimismo na sua própria capacidade de controlar o problema, ou ainda até um temor de não perturbar o turismo ou a economia do país. Mas também no plano internacional, a coordenação de ações acaba sendo lenta também. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS), admitiu a lentidão de todo o processo, quando sua diretora-geral, Margaret Chan, declarou em janeiro de 2015: "O Mundo inteiro, incluindo a OMS, foi muito lento para ver o que estava acontecendo diante de nós."


homem infectado com ebola é levado para quarentena em Serra Leoa. Peter Muller.


Nem só através de procedimentos médicos as epidemias são administradas, mas também com toda o poder da tecnologia e da capacidade de comunicação entre os organismos internacionais, promovendo uma rápida mobilização mundial. Na era da globalização, os surtos e epidemias não podem ser mais tratados isoladamente, como um problema local, ou protegidos pelos desejos de soberania nacional, como se fossem um problema único e exclusivamente do país afetado. Cada vez mais, as epidemias são, de fato, uma preocupação de todas as nações. Quando os países envolvidos no combate à epidemia, juntamente com a Organização Mundial da Saúde e outros órgãos, cometem falhas na comunicação e na coordenação, que atualmente tem uma precisão e instantaneidade singular, podem comprometer ainda mais vidas e acabar criando um caos dentro e fora do país atingido. As informações de um órgão ao outro devem ser claras para que a mensagem chegue à população e a quem ela é direcionada de forma precisa e esclarecedora. O desenvolvimento de capacidade política e institucional de coordenar ações entre governos e instituições no plano internacional se tornou numa variável importante de segurança, no caso das epidemias. 



Enfermeiros checam os equipamentos de proteção antes de 
entrarem na zona de alto risco de infecção em Serra Leoa. 
Anna Surinyach / MSF


Em entrevista à France-Press, Bill Gates demostrou preocupação com as epidemias mundiais , chegou a falar que a comunidade internacional precisa estar preparada para uma possível pandemia mundial. Também chamou a atenção do mundo para que utilizem-se as novas tecnologias no desenvolvimento de um plano para as possíveis crises. Gates ainda explicou a importância da comunicação e tecnologia, e seus impactos sobre a capacidade de coordenação internacional, no caso, para a prevenção de epidemias: “Nós usamos fotos de satélite para descobrir onde as pessoas vivem, o GPS dos celulares para ver se as equipes de vacinação estão indo a todos os lugares que precisam ir e fazemos uma análise estatística para ver se alguma criança não foi atendida. As novas tecnologias inovadoras vão nos permitir ver o que está acontecendo a um custo muito mais baixo".

Com a globalização, o mundo interligado como está, tornou-se um pequeno vilarejo, em que não há mais fronteiras que impeçam e ida e vinda de pessoas de várias partes do mundo, é claro, com raras exceções. Se chegamos a esta compreensão, necessário é tomar consciência de que qualquer decisão a milhares de distância de onde estamos pode interferir diretamente em nossas vidas, inclusive um pequeno surto em um lugar remoto.

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