segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Aumenta o desemprego e a inadimplência: entenda

(Maria Carolina Palhano)

A crise no cenário econômico brasileiro está se refletindo no aumento das taxas de desemprego e de inadimplência: o mês de julho apresentou a maior taxa de desemprego desde 2009 e a taxa de inadimplência mais alta dos últimos dois anos, de acordo com o IBGE e o BC, respectivamente.

​No mês de julho de 2015, a parcela desempregada da população economicamente ativa (PEA) subiu para 7,5%, contrastando com os 4,9% desempregados do ano anterior no mesmo mês. A taxa de inadimplência também subiu e chegou a 3,8% em todos os tipos de crédito- mas se for considerado apenas a taxa de calote, o número aumenta para 4,8%, o maior em 2 anos.


Gráfico da linha do desemprego 
ao longo dos meses de julho desde 2002. 
Fonte: IBGE

A crise econômica brasileira tem suas raízes na crise internacional de 2008. A partir daquele momento, para evitar que o país fosse afetado pelos reflexos do cenário mundial, o governo brasileiro aumentou suas despesas, ou seja, sua política de gastos, parte do que se entende por “política fiscal”, para manter o nível de consumo da economia. A política fiscal se refere aos meios que o governo tem para arrecadar impostos e controlar gastos. Na conjuntura da crise econômica mundial de 2008, visando o crescimento econômico brasileiro, a política implantada foi de aumento dos gastos públicos, o que gera novos empregos e aumenta o crescimento do PIB.

O problema é que muitos destes gastos não foram somente de curto prazo, sendo fixados de maneira permanente, como no caso dos aumentos de salários de servidores públicos, benefícios pagos pela Previdência Social, programas sociais de grande popularidade, além de isenções fiscais de grande conveniência política, como a tributação de energia elétrica, combustíveis e setores industriais “estratégicos”, próximos ao governo. Isso iria gerar a partir de 2014 um desequilíbrio nas contas públicas no momento em que a economia reduziu ainda mais seu crescimento, entrando em recessão a partir de 2012. Com a economia em recessão, a arrecadação de impostos diminuiu na mesma proporção, causando um descompasso entre compromissos assumidos em momentos de maior otimismo e a realidade de uma receita declinante. Assim, pela primeira vez desde 2001, as contas do governo passaram a ficar no vermelho a partir de 2014.

Além das ameaças à sustentabilidade da dívida pública, o descontrole das contas públicas tem um poderoso efeito inflacionário. Efetivamente, o índice de inflação tem atingido patamares recordes, com estimativas de atingir 10% em 2015.

Na tentativa de resolver esse problema e combater a alta inflação, o governo tem tentado implantar uma política fiscal restritiva, baseada na diminuição dos gastos e aumento dos impostos, objetivando sobretudo controlar a inflação. Porém, além da ineficiência dos cortes de gastos, não parece haver muito mais onde se possa cortar sem prejudicar áreas importantes, como Saúde, Educação e até mesmo obras de infraestrutura que estão sendo realizadas. Outro revés dessa estratégia está na tentativa de aumento da arrecadação, pois com o encolhimento da economia, encolhe também o total da arrecadação. E para as empresas, que acabam pagando mais impostos, o efeito é negativo, pois isso acaba encarecendo os custos de produção e, assim, os preços finais ao consumidor, diminuindo o lucro, os investimentos e podendo até aumentando as demissões.

Rodolfo Dias, de 21 anos, era programador em uma empresa, mas agora está desempregado. De acordo com ele, a sua demissão deu-se pela empresa não conseguir arcar com todos os custos, numa situação de menores vendas. Rodolfo hoje faz parte do grupo de cerca de 1,8 milhão de pessoas desempregadas segundo os dados apresentados pelo IBGE. O tamanho desse grupo é alarmante, pois, após 3 meses, a pessoa demitida não possui mais renda, deixa de contribuir com o PIB, podendo engordar as crescentes taxas de pessoas físicas inadimplentes.

Como não há mais onde cortar sem prejudicar áreas essenciais como Saúde e Educação, o governo tenta alternativas para a diminuição de gastos, planejando ações como cortes de alguns ministérios e diminuição de cargos de confiança, mas ainda assim sem uma perspectiva otimista. Sabendo que não há forma indolor de empreender um ajuste fiscal, é preciso criar a estratégia menos prejudicial à população para impedir o avanço da crise econômica, do desemprego, endividamento e, consequentemente, de uma possível nova onda de inadimplência.

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